Soilwork – Resenha de “Verkligheten” (2019)

 

Soilwork - Verkligheten
Soilwork: “Verkligheten” (2019, Nuclear Blast, Shinigami Records) NOTA:9,0

O quanto um outro projeto pode influenciar o trabalho principal de um músico?

No caso de Björn “Speed” Strid, o único membro original do Soilwork, parece que o Night Flight Orchestra teve alguma ascendência sobre o mais recente disco da banda, “Verkligheten”. 

Acha que estou exagerando?

Antes de continuar a ler esta resenha, confira o clipe da faixa “Stålfågel”no fim do texto e tire suas próprias conclusões!

Confesso que para mim, que acompanhei a explosão do Soilwork em clássicos como A Predator’s Portrait” (2001) e Natural Born Chaos” (2002), tornando a banda um dos grandes nomes do death metal melódico, soa estranho vê-la referenciada atualmente como “a banda do vocalista do Night Flight Orchestra”.

Porém, são novos tempos e, de fato, o Soilwork, hoje, faz menos alarde que o genial projeto do vocalista Bjorn. O que também não tira a curiosidade e a ansiedade para conferirmos “Verkligheten”.

Cabe aqui mencionar que o último álbum do Soilwork fora “The Ride Majestic”, de 2015, e que nesses quatro anos, Björn passou parte deles compondo e lançando álbuns com o Night Flight Orchestra.

E de antemão digo que tenho consciência de que não há na cabeça de um compositor uma dicotomia ativada por um gatilho para suas expressões artísticas.

Mas é verdade que, no geral, “Verkligheten” me pareceu uma versão Soilwork do Night Flight Orquestra, injetando metal extremo na fórmula musical melódica e envolvente, retirando os teclados (às vezes nem isso) do protagonismo, e misturando vocais guturais/gritados com limpos.

E quer saber? “Verkligheten” é um disco além de apenas interessante!

O Soilwork foi inteligente ao dar tons de thrash metal, death metal e até black metal para diferenciar as abordagens da fusão das duas propostas, e isso ficou mais claro ainda na segunda metade de “Verkligheten”, onde estão composições como “The Nurturing Glance” e “The Ageless Whisper” (com show particular de Bjorn), duas das melhores faixas do disco, ao lado da sensacional “Witan”.

Claro que as digitais do death metal melódico do Soilwork estão aqui.

Acho justo observar que os artifícios melódicos grandiloquentes já existiam antes do nascimento do Night Flight Orchestra, mas, por outro lado, eles não tinham tanto o DNA do AOR como agora.

“Arrival”“Needles and Kin”” You Aquiver” soam como o clássico Soilwork que queremos ouvir, mas não amenizam a impressão de “Soilwork se encontra com Night Flight Orchestra” de todo o álbum.

Aliás,  “Needles and Kin” rende um dos momentos mais instigantes de “Verkligheten” quando sobrepõe a grandiosidade melódica do AOR impressa no refrão numa estrutura de intensidade extrema. Além disso, temos a participação de Tomi Joutsen, vocalista do Amorphis.

E essa composição é apenas um exemplo de como o Soilwork insere os contrapontos de passagens envolventes com extremismos, invertendo e subvertendo padrões de se contrastar vocais guturais,  blasting beats e melodias tanto de guitarra quanto vocais, criando uma certa imprevisibilidade quanto a parcela death metal da musicalidade.

Voltando à identidade do Soilwork, é possível encontrar  traços de seus tempos clássicos, como marcas no rosto de uma pessoa que madureceu, e que representam o aprendizado de seu caminho. No caso do Soilwork já são duas décadas de evolução musical.

Nesse caminho, “Verkligheten”, além do que já foi exposto, traz uma continuação da proposta iniciada em “The Living Infinite” (2013), e solidificada em “The Ride Majestic” (2015), sendo musicalmente incisivo e deixando o groove de lado, focando na fricção intensa de peso, velocidade e melodia, com transições secas.

Isso fica claro no arrasa-quarteirão registrado em “When the Universe Spoke”, com explosivas passagns extremas, e em “The Wolves Are Back in Town”, que mostra um groove mais seco quando ele aparece.

Olhando para “The Wolves Are Back in Town” com mais cuidado, percebemos ainda que ela é um indício mais forte de como o Soilwork reafirma sua retomada da herança escandinava de sua obra, deixando as influências norte-americanas de lado. Os riffs soam mais tradicionais ao heavy metal e o todo menos modernoso. 

faixa-título que introduz o trabalho já traz esse espírito escandinavo para o primeiro plano, com sabor viking metal melódico, melancólico e diferenciado, e amplificando o contraste com a explosão black metal da introdução de “Arrival”, que virá na sequência e dará lugar a “Bleeder Despoiler”, música que nos garantirá que tudo estará no devido lugar neste novo disco do Soilwork.

Todavia, o primeiro grande momento de “Verkligheten” é “Full Moon Shoals”, onde o Soilwork cria uma composição que me fez pensar num “Queen à moda death metal

Apos toda essa análise, fica claro que “Verkligheten” não é um disco que busca reinvenções, surpreas e ousadias, mas empolga pelo trabalho impecável de guitarras ou dos esmerados vocais, bem registrados numa brilhante e nada pasteurizada produção, que foi eficiente para os sabores plurais da musicalidade do Soilwork.

A edição nacional, à cargo da Shinigami Records, além de vir num luxuoso slipcase, traz como bônus o EP “Underworld”, com três músicas que ficaram de fora do tracklist oficial de “Verkligheten”, além da “versão original” da ótima “Needles and Kin”.

Vale muito a pena conferir!

TRACKLIST

1. Verkligheten
2. Arrival
3. Bleeder Despoiler
4. Full Moon Shoals
5. The Nurturing Glance
6. When the Universe Spoke
7. Stålfågel
8. The Wolves Are Back in Town
9. Witan
10. The Ageless Whisper
11. Needles and Kin
12. You Aquiver

FORMAÇÃO

Björn “Speed” Strid (vocais)
Sven Karlsson (teclado)
Sylvain Coudret (guitarras)
David Andersson (guitarra, baixo e piano)
Bastian Thusgaard (bateria e percussão)

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