Skip James – “Devil Got My Woman” (2009) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Devil Got My Woman”, registro histórico do bluesman SKIP JAMES, que influenciou Eric Clapton é nossa indicação de hoje da seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO.

A proposta desta seção você confere nesse link.

Skip James - Devil Got My Woman Resenha Review

Definição em um poucas palavras: rústico, histórico, blues, delta do Mississippi

Estilo do Artista: Delta Blues

Comentário Geral: Nascido em 1902 próximo à pequena cidade de Bentonia, no estado do Mississippi, Nehemiah Curtis “Skip” James se tornou sinônimo de uma forma de blues com afinação única e estilo de dedilhado oriunda do Delta do Mississippi, mas tarde batizado de escola de Bentonia.

Skip James aprendeu a tocar piano e violão no ensino médio, e não demorou muito para que ele fizesse shows em bailes e festas locais. Em 1930, um dono de uma loja de discos do Mississippi o ouviu e conseguiu que ele gravasse um álbum para a Paramount Records em seu estúdio em Grafton. Infelizmente para Skip James, o lançamento aconteceu em plena Depressão, e o disco não vendeu.

Então ele se mudou para o Texas onde ficou até 1940, quando retorna ao Mississippi e, na década de 1960, é “descoberto” por vários entusiastas da música folk – incluindo Henry Vestine, mais tarde do Canned Heat. Então, eles o persuadiram a tocar no Newport Folk Festival de 1964 em Rhode Island. Ele é um sucesso com o público, e logo está fazendo shows em clubes folk, clubes de blues e festivais, muitas vezes com o ícone do Mississippi John Hurt. Além disso, James grava dois álbuns para a Vanguard Records.

Com esta biografia, não seria exagero dizer que com o fogo e o enxofre em seu coração, e o blues do Mississippi na alma, Skip James trabalhou na obscuridade pela maior parte de sua vida, até que sua musicalidade sombria fosse redescoberta na década de 1960 pelos entusiastas e pesquisadores do blues, incluindo nomes ilustres como Eric Clapton, que gravou algumas de suas músicas como “I’m So Glad”, que está presente no lendário primeiro álbum da banda Cream.

Ou seja, Skip James não se torna verdadeiramente conhecido até ser redescoberto durante a cena que revisitava o blues e do folk dos anos 60, quando ele então se torna uma sensação no circuito de turnês, onde atuou até sua morte em 1969, conseguindo tornar sua música influência uma ampla gama de músicos ao longo dos anos, desde Deep Purple e Cream até mesmo White Stripes e The Derek Trucks Band.

“Devil Got My Woman” é o título do quarto álbum de estúdio de Skip James, lançado em 1968, uma ano antes de sua morte em 1969. Porém, este disco que estamos indicando hoje é uma compilação lançada em 2009 e relançada em 2011 pela Stardust Records. Uma edição especial em vinil que compila faixas como a já citada “I’m so Glad”, além de algumas de suas mais conhecidas composições como “Devil Got My Womam” e a peça gospel “Jesus Is A Might Good Leader”.

Colocando o vinil para rodar (um dos mais apreciados da minha coleção), o blues primitivo e rústico de Skip James nos mostra que tinha predicados que transcendiam a precariedade dos registros de suas época, como seu virtuosismo ainda não lapidado, seu canto lamentoso e emocionado, cheio de fluidez e quase hipnótico.

Tudo isso já pode ser saboreado na música “Devil Got My Woman”, que abre a coletânea, seguida das linhas clássicas de “Cypress Groove Blues”, outra de suas músicas reverenciada por Eric Clapton no álbum “Still I Do”. Já “Hard Time Killing Floor Blues” é mais feeling, a voz da alma, do que virtuose dos dedos, enquanto “Drunken Spree” se sustenta nas raízes do country/folk.

A maioria das composições de Skip James conservam uma melancolia advinda de sua voz cheia de sofrimento (como ouvimos em “Cherry Ball Blues”), que desenrola uma técnica intuitiva impressionante nas seis cordas que dialogam eloquentemente com suas linhas vocais (como na inspiração gospel de “Jesus Is A Mighty Good Leader”).

A melancolia cinzenta abre o segundo lado do vinil com ” Illinois Blues”, cujo brilhantismo se faz presente nas linhas de violão que abrem espaço para o proto-boogie de “How Long Buck”, com seu traçado groovado ao piano que persegue as linhas vocais de Skip James, numa faixa sinuosa, sincopada e envolvente.

Ainda ao piano, “22-20 Blues” mostra uma brincadeira em seu dedilhado, onde os arranjos perseguem as linhas vocais e vice-versa, enquanto ” If You Haven’t Had Any Hay, Get Down The Road” concilia voz e piano em mais um boogie contagiante.

As cordas do violão voltam em “Be Ready When He Comes”, um tema gospel cheio de graça e entrega de seu intérprete. E para aqueles que ainda duvidam da virtuose de Skip James, a tempestuosa “I’m So Glad” fecha o registro histórico transbordando maestria.

Um disco indispensável para os amantes do puro blues oriundo do Delta do Mississippi.

Ano: 2011

Top 3:  “Devil Got My Woman”, “I’m So Glad” e “Jesus Is A Mighty Good Leader”.

Formação: Skip James (vocal, guitarra, piano)

Disco Pai: Robert Johnson – “King of the Delta Blues Singers” (1961)

Disco Irmão: Charley Patton – “Founder of the Delta Blues” (1970)

Disco Filho: Eric Clapton – “Still I Do” (2016)

Curiosidades: Como o negócio da música não dá muito certo, Skip James se muda para Dallas, no Texas. Lá ele forma um grupo gospel chamado The Dallas Jubilee Singers, principalmente como um grupo de apoio para a pregação de seu pai. James eventualmente se torna um pastor, e em 1932 é ordenado como ministro batista.

Pra quem gosta de: violões, casas de madeira, encruzilhadas, bourbon e disco de vinil

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