“Vermilion Eclipse” é o quarto álbum da banda curitibana Semblant que impressiona pela criatividade de suas composições dentro do saturado metal extremo moderno.
O disco foi lançado no Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Frontiers Records. Abaixo você lê nossa resenha completa deste disco.
Com “Vermilion Eclipse” a banda brasileira Semblant experimentou dois polos em sua carreira. Primeiro mantiveram o apoio da gravadora italiana Frontiers e a boa fase em termos de composição e musicalidade, reforçando predicados já comuns à sua música como alta qualidade e potencial criativo apresentados desde o início quando foi formada em 2006, na cidade de Curitiba. Porém, no final de 2022, com os animos exaltados da polaridade política do nosso país, a banda se viu no olho do furacão dos cancelamentos feitos pelo tribunal da internet, prejudicando até mesmo a divulgação de um disco que tem potencial para ser um dos melhores de sua carreira.
Só para situar o leitor, no início de novembro de 2022, após as eleições para presidente do Brasil que elegera Luiz Inácio Lula da Silva para um terceiro mandato, a vocalista Mizuho Lin apareceu em vídeo defendendo uma intervenção militar no governo brasileiro enquanto comentava sobre os bloqueios em rodovias federais organizados por caminhoneiros e apoiadores do ex-presidente, Jair Bolsonaro.
A partir daí, a banda viu seu melhor período na carreira se transformar num momento delicado, e a repercusão negativa fez o Semblant anunciar uma substiutuição da vocalista que, de fato, não se concretizou. A estratégia foi clara: deixar a poeira baixar e os ânimos acalmarem. Eles inclusive desistiram de abrir para a banda Epica em Curitiba e São Paulo. No Instagram, alguns dias mais tarde, Mizuho Lin declarou que não iriam ocorrer mudanças na formação e que tudo permaneceria como antes. Isso posto apenas em caráter informativo peritinente ao Semblant, vamos analisar a música, pois é isso que nos interessa (a quem interessar possa, minha posição está bem exposta na resenha que fiz de “Necropolítica”, do Ratos de Porão).
“Vermilion Eclipse” é o quarto disco de estúdio da banda Semblant que surge como uma espécie de continuidade daquilo que apresentaram em “Obscura” (2020), álbum anterior. Sendo assim, as doze composições que completam o repertório se dividem entre as formas góticas do metal extremo moderno, mantendo a produção orgânica para amplificar a energia gerada pelo uso de contrastes musicais que oscilam do espectro hard n’ heavy ao metal extremo, principalmente no atrito entre os vocais masculino (versátil entre o limpo e gutural) e o feminino (dramático, técnico e cheio de emoção). Todo esse apelo gótico vem sim das influências do gothic metal que a banda carrega desde o início. De certa forma, neste novo trabalho o sexteto pisou com mais força no melodic death metal e no prog metal em comparação ao disco anterior.
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Até por isso, musicalidade do Semblant permanece intacta e incrivelmente rica, tanto em arranjos quanto em texturas, com as guitarras e os teclados trabalhando tanto para as sombras quanto para a luz, criando paisagens sonoras bem elaboradas, sendo agressivas ou melódicas conforme a necessidade, conjurando um trabalho diferenciado e dinâmico.
Esta dinâmica de mudanças de ritmos e arranjos é perceptível já em “Enrage”, a abertura do trabalho, no desfecho com a épica “Day One Oblivion”, e, também, em “Bloodred Monarchy” e “Black Sun Genesis”, ambas aprecendo na segunda metade do disco e dando continuidade ao conceito de “Dethrone the Gods, Control the Masters (Legacy of Blood Part IV)”, faixa do disco anterior. Ao longo de sua discografia o Semblant apresentou uma série de composições intituladas “Legacy of Blood”, que chegou a virar uma publicação literária lançada via Darkside Books, intitulada “Semblant: Blood Chronicles” (confira aqui), e com roteiro de Sergio Mazul inspirado nestas composições.
Voltando ao repertório do disco, “Purified” e “Everending Fall” aparecerão como faixas mais diretas e seriam hits góticos no auge do estilo nos anos 1990, atualizando a proposta aplicada por bandas como Lacuna Coil e Cradle of Filth naquele período. Ou seja, “Vermilion Eclipse” é um disco que equilibra muito bem alguma complexidade progressiva com ganchos melódicos envolventes e mais acessíveis, o peso sujo do metal extremo, emouldurando tudo por um clima insunuante e estruturando as composições por uma seção rítmica forte e precisa. A costura destes elementos é feita com criatividade e muita personalidade capaz de dialogar com as emoções do ouvinte pela maturidade como compositores que atingiram.
Vale a penas conferir “Vermilion Eclipse”? Se você, assim como eu, consegue separar o compositor de sua obra, vale muito a pena conferir este novo álbum do Semblant!
| Abaixo você tem uma oferta do livro “Semblant: Blood Chronicles”, em capa dura e com roteiro de Sergio Mazul inspirado nas músicas da banda Semblant. |
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