Modernismo Brasileiro | O que Foi A Semana de Arte Moderna de 1922?

 

A Semana de Arte Moderna de 1922 representou, para o panorama cultural da época a congregação de tendências que, sob diversas formas e nas várias artes, vinham se delineando desde a década anterior. Além disso, ela foi o símbolo maior de um primeiro momento do modernismo brasileiro, quando rompia-se as barreiras entre prosa e poesia, valorizava-se o prosaico e o humor, através de uma atitude demolidora e de uma crítica corrosiva contra o academicismo.

Este espírito renovador cultural brasileiro inerente à Semana de Arte Moderna de 1922 vem do fato de ter sido organizada por jovens artistas que queriam dar um rumo novo para as artes brasileiras, que negava o passado e abraçava a liberdade artística em todos os sentidos, muito inspirado pelo futurismo.

Aliás, o modernismo brasileiro era muito influenciado pelo futurismo e essencialmente se preocupava em criar uma arte brasileira num contexto social que via a ascensão da burguesia industrial, a urbanização progressiva e o elevado número de imigrantes que se fixava nos principais polos do centro-sul do país.

À medida que as duas primeiras décadas do século XX se escoavam, começavam também a chamar a atenção as inovações que surgem nas diversas artes, praticadas por artistas paulistas e cariocas que absorviam correntes de vanguarda da Europa e dos Estados Unidos.

Dentre eles estavam os pintores Anita Malfati e Di Cavalcanti, o músico Vila-Lobos, os escritores Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Manuel Bandeira, entre outros, e que foram responsáveis por organizar/participar, em São Paulo, da Semana de Arte Moderna, em 1922, evento divisor de águas entre o antigo e o moderno, na cultura brasileira.

O que levou à Semana de Arte Moderna de 1922?

A Semana de Arte Moderna de 1922 é o início de um período cultural novo, amadurecido lentamente. Antes dela houve exposições, publicações de artigos e obras que escancaravam o esgotamento do Parnasianismo e do Simbolismo.

Podemos dizer que o primeiro passo rumo à A Semana de Arte Moderna de 1922 foi o retorno de Oswald de Andrade da Europa, em 1912, trazendo na bagagem o Futurismo de Filippo Tommaso Marinetti, que publicou no jornal Le Figaro (1909), de Paris, um famoso manifesto em que mostrou sua oposição às fórmulas tradicionais e acadêmicas, expondo a necessidade de abandonar as velhas fórmulas e criar uma arte livre e anárquica, capaz de expressar o dinamismo e a energia da moderna sociedade industrial.

Dois anos após o retorno de Oswald, Anita Malfatti organizou uma exposição expressionista após voltar da Europa, onde estivera desde 1912. Já em 1917 ela organizaria uma segunda exposição, que provocou uma histórica e violenta reação de Monteiro Lobato, num artigo intitulado “Paranoia ou Mistificação?” e publicado em O Estado de São Paulo, dividindo artistas e o público.

Ainda em 1917 temos uma torrente de publicações literárias importantes: Mário de Andrade publicava “Há Uma Gota de Sangue em Cada Poema”, um protesto contra a guerra; Manuel Bandeira publica “A Cinza das Horas”; Menotti del Picchia entrega “Juca Mulato”; e “Nós” era assinado por Guilherme de Almeida. Todos estes trabalhos traziam vestígios parnasianos e simbolistas, mas já com inovações formais significativas. No ano seguinte, Manuel Bandeira publica “Carnaval”.

O último tijolo da construção que levaria à Semana de Arte Moderna foi colocando quando grupo que formava o núcleo destes primeiros modernistas brasileiros conhece, em 1920, Vítor Brecheret, escultor que estudara em Roma e, naquele momento, preparava a maquete do Monumento às Bandeiras, hoje, no Parque Ibirapuera, em São Paulo.

Quando 1922 chegou, além das comemorações do centenário da Independência, ele trouxe a Semana de Arte Moderna, em fevereiro.

Os Três Dias de Impacto da Semana de Arte Moderna.

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi realizada sob a forma de três “festivais”, realizados no Teatro Municipal de São Paulo, em 13, 15 e 17 de fevereiro. Durante todo o evento, o saguão do Teatro Municipal esteve aberto ao público, exibindo exposições de Anita Malfatti, Di Cavalcante, Brecheret e outros.

A noite do dia 15 de fevereiro foi a mais tumultuada. O público, acostumado ao equilíbrio e contenção parnasianos, manifestou seu repúdio por meio de vaias, miados e latidos, a cada leitura dos textos de Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Ronald de Carvalho. Este último que leu “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, enquanto a platéia fazia coro ao refrão: “foi, não foi!”. , Para acalmar os ânimos, a pianista Guiomar Novaes tocou algumas peças.

A cobertura dos jornais tentou ser neutra, oscilando entre a simpatia e a hostilidade, mas a Semana de Arte Moderna já tinha feito história ao reunir várias tendências presentes nas diferentes artes, englobando-as num projeto único de ruptura com os tradicionais valores culturais e apregoando a absoluta liberdade de criação.

Em suma, a Semana de Arte Moderna de 1922 propiciou a troca de ideias e técnicas específicas a cada uma das artes e o surgimento de várias revistas, manifestos e movimentos, que serviram para configurar o perfil particular do modernismo brasileiro.

Os Desdobramentos da Semana de Arte Moderna de 1922

A Semana de Arte Moderna de 1922 foi apenas um ponto de partida para uma reação ao marasmo das artes e da literatura que ganharia mais corpo através de revistas (como a Klaxon, a Estética e a Revista de Antropofagia) e manifestos. Os ecos daqueles três dias descentralizaria a arte brasileira, antes restrita ao Rio de Janeiro e a São Paulo, chegando a outras regiões do país.

O período imediatamente posterior à Semana de Arte Moderna de 1922, que vai até 1930, é conhecido como a primeira fase modernista, ou fase heróica, e aconteceu sem um planejamento ou programa a ser seguido pelos escritores que são guiados por um único mandamento: a total liberdade para criar uma arte brasileira.

Neste clima surgem vários movimentos modernistas que também possuem uma base ideológica sócio-política, expressando sua posição diante das questões políticas nacionais e internacionais. Tinha-se, mais à esquerda, os movimentos Pau-Brasil e Antropofagia; e, mais à direita, o Verde-Amarelismo e a Escola da Anta, liderados Plínio Salgado.

A ANTROPOFAGIA

A devoração cultural proposta pelo movimento antropofágico certamente virou sinônimo do modernismo brasileiro pós-semana de arte moderna. Organizado por Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul Bopp, este foi o mais radical dos movimentos, surgindo como uma resposta ao Verde-Amarelismo.

A Antropofagia, neste caso, era uma metáfora de tudo o que deveria ser assimilado, repudiado ou superado em favor da nossa independência cultural. Além disso, a antropofagia propõe o humor e a alegria, expressos na linguagem pela paródia e pelo fragmento. As idéias do grupo eram veiculadas na Revista da Antropofagia.

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