Satyricon – Resenha de “Deep Calleth Upon Deep” (2018)

 

Satyricon Deep Calleth Upon Deep
Satyricon – “Deep Calleth Upon Deep” (2018 | Napalm Records, Hellion Records) NOTA: 9,0

O Satyricon foi não só uma das bandas pioneiras do black metal norueguês, como também ficou conhecida como um dos nomes mais violentos daquela cena, em meados dos anos 1990, tanto visual quanto musicalmente, ajudando a dar forma ao gênero de modo ambicioso pela brutalidade e pela blasfêmia.

Liderado sempre pelo duo Satyr (vocalista/guitarrista) e Frost (bateria), construíram um legado musical experimentando mais a cada álbum dentro da tríade: crueza, negativismo e frieza.

+ sobre o Black Metal nesta lista de 18 discos essenciais do gênero.

Neste contexto, a banda chega a “Deep Calleth Upon Deep” o mais novo fruto desta evolução musical obscura.

Nono disco da carreira, ele traz uma necessidade de audições sucessivas para ser absorvido e compreendido completamente, pois cresce a medida que vamos assimilando a ideia musical trabalhada.

O Satyricon de hoje é menos virulento e mais melódico. Vanguardista, até. Incorporando elementos de metal tradicional (ouça “Burial Rite”), death/doom metal, post-metal, vintage rock, rock progressivo, por uma dinâmica truncada.

Não que “Deep Calleth Upon Deep” seja um disco complexo, mas é ambicioso a seu modo, como uma continuidade de “Satyricon” (2013).

Ou seja, as raízes do black metal já não estão tão firmes, mas a identidade da banda está aqui, mais evidentes na sensacional “Black Wings and Withering Gloom” e em “Burial Rite”, faixas responsáveis por fechar o disco.

Amenos da diferença conceitual das produções de ambos os discos, algumas passagens pontuais até remetem ao que fizeram no distante “Rebel Extravaganza” (1999).

Já na primeira faixa, “Midnight Serpent”, vemos que ousaram em termos de geometria, transição e texturas, buscando desenvolver uma marcha imperiosa, obscura, mas com estética progressiva. Algo que também acontecerá em “Dissonant”, mas de forma diferente.

A sequência com “Blood Cracks Open the Ground”, traz linhas de bateria insanas, que duelam com as guitarras, numa exploração quase jazzística, enquanto “To Your Brethren in the Dark” é o mais próximo que o Satyricon vai chegar de compor uma “balada”, melancólica, melódica, decadente e cadenciada. Melodia que também aparecerá em “The Ghost of Rome”, uma das mais simples e diretas faixas do trabalho.

A única parcela realmente desinteressante é a monótona faixa-título.

Em suma, temos um metal extremo de contornos ásperos, possibilidades variadas, guiados pelos vocais ríspidos de Satyr, e com sabor vanguardista, como muitos de seus contemporâneos e congêneres o fizeram, mas impresso por uma produção crua, que cria um clima sujo e decadente (principalmente pela timbragem das guitarras).

Até por isso, além dos vocais de Satyr, as linhas inventivas de Frost são determinantes para o resultado final do álbum, indo além de sustentar as harmonias ao lado do baixo orgânico. O trabalho de Frost é parte vital das composições, e a timbragem de seu instrumento é parte da mágica do disco.

Se comparado aos dois discos anteriores, temos algo mais amplo e diversificado, em termos de exploração sonora.“Deep Calleth Upon Deep” é experimental, mas ainda assim black metal? Não sei o quanto rótulos são relevantes neste caso, mas o que posso dizer é que esse disco gastou algumas audições para ser devidamente assimilado.

Este álbum do Satyricon me lembrou aquele romance cult que você se arrasta na leitura, mas com o tempo vai percebendo as camadas usadas pelo escritor, as múltiplas implicações das situações e desdobramentos, e com o tempo a compreensão faz dele um pedaço de cultura indispensável.

Assim foi com  “Deep Calleth Upon Deep”. Após a primeira audição eu não o colocaria nem como superior a “The Age of Nero” (2008).

Todavia, agora, depois e audições sucessivas em decorrência de chamados mentais feitos pelo riif de “Midnight Serpent” que não saía da minha cabeça, facilmente ele é o melhor disco da banda desde “Now, Diabolical” (2006), pra mim.

TRACKLIST:

1. Midnight Serpent
2. Blood Cracks Open the Ground
3. To Your Brethren in the Dark
4. Deep Calleth upon Deep
5. The Ghost of Rome
6. Dissonant
7. Black Wings and Withering Gloom
8. Burial Rite

FORMAÇÃO:

Satyr (vocais e guitarras)
Frost (bateria)

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