“Court In The Act”, clássico primeiro disco da banda SATAN, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: NWOBHM, pesado, guitarra, clássico, não é satanista!
Estilo do Artista: Heavy Metal
Comentário Geral: O Satan foi uma das bandas mais emblemáticas da NWOBHM, não apenas pela força e ousadia de seu nome, mas também pela música que praticava.
Numa época onde o heavy metal caminhava para o extremismo tanto de musicalidade quanto de temática obscura, era óbvio que o Satan fosse tida como uma banda satanista.
Pense bem, se em 1982 o Iron Maiden foi acusado de satanismo simplesmente por ter um disco chamado “The Number of The Beast” e o conceito de sua faixa-título, o que cairia no colo de uma banda chamada Satan e que lançaria seu primeiro álbum de estúdio no ano seguinte?
O Satan foi formado em Newcastle, no ano de 1979, pelos guitarristas Steve Ramsey e Russ Tippins, mas vários músicos orbitaram a dupla na formação da banda até 1983, quando da chegada do vocalista Brian Ross, do baterista Sean Taylor, além do baixista Graeme English, que havia sido integrado em 1980.
Para se ter uma ideia, entre 1979 e 1983, o Satan teve cerca de seis vocalistas, até a chegada de Brian Ross, que também não ficaria por muito tempo, mas retornaria várias vezes para o posto.
Inclusive, nas duas demo tapes (“The First Demo” [1981] e “Into the Fire” [1982]) e no single (“Kiss of Death” [1982]) que precedem o debut album, temos dois vocalistas diferentes e nenhum deles gravaria o disco.
“Court in the Act”, o então primeiro disco de estúdio do Satan seria lançado em 1983 já com os vocais marcantes de Brian Ross, um dos maiores talentos revelados pela NWOBHM.
Brian Ross é um dos fundadores do Blitzkrieg, banda que havia lançado um single em 1981, mas entraria no seu primeiro hiato naquele mesmo ano.
Ele então seguiria pelas bandas Avenger e Lone Wolf até fazer história no Satan, banda a qual entrou em 1983 e onde gravou esse clássico “Court in the Act” no Lynx Studios, em Newcastle, em agosto daquele mesmo ano.
O disco foi mixado no Impulse Studios e lançado pela gravadora alemã Roadrunner Records, selo com o qual a banda havia assinado. Logo depois a Neat Records licenciou o disco e o lançou na Inglaterra.
Musicalmente, “Court in the Act” era a NWOBHM em essência. Até por isso, hoje em dia, muitos ouvidos modernos podem acha-lo anacrônico, ao mesmo tempo que podem descobrir de onde vem a inspiração da estética vintage das bandas atuais.
Muito dessa impressão pode vir da produção crua em voga na época, pois as composições guiadas pelas guitarras de Steve Ramsey e Russ Tippins carregam consigo a excelência do metal britânico.
Além disso, é essa mesma produção que é responsável pelo clima ocultista e sombrio que emana de “Court in the Act”, desde a abertura, “Into the Fire”, com sua dose quase cinematográfica de tons macabros.
As dez faixas aqui presentes demonstram uma forma enérgica, determinada e relativamente complexa de praticar o metal tradicional, mostrando influências de Judas Priest, Led Zeppelin, Black Sabbath e Wishbone Ash.
Isso pode ser percebido em faixas de destaque como “Trial By Fire” (com guitarras rápidas e afiadíssimas), “Broken Treaties” (uma típica composição da NWOBHM) e “No Turning Back” (com raízes fincadas no heavy rock setentista), que trazem demonstrações do quão inventivos eles podiam ser em termos de estruturas e mudanças de direção.
Os riffs incisivos estão alinhados a melodias certeiras e preparam o ouvinte para os solos tempestuosos e técnicos, enquanto os vocais desenham linhas melódicas cativantes.
Além destas, não podemos deixar de exaltar faixas como “Blades of Steel” (com um peso cadenciado quase progressivo), “Hunt You Down” (um heavy metal de manual) e “Alone in the Dock” (faixa muito bem trabalhada e tipicamente oitentista).
Além disso, não podemos negar que “Court in the Act” do Satan, junto com o “Loose ‘N Lethal” do Savage, foram grandes inspirações para o surgimento do thrash metal, muito pela musicalidade agressiva, crua e técnica, guiada pelas melodias rápidas nas guitarras afiadas, que apresentavam.
Uma faixa como “Break Free” ou a instrumental “The Ritual” possuem inegáveis traços dessa influência, mesmo que o guitarrista Russ Tippins tenha uma visão diferente sobre esse fato, não vendo nenhuma relação com a música do Satan e o thrash metal:
“Eu me pergunto quem disse isso? Certamente não encontrei nenhuma amostra de thrash que me lembre o Satan. Agora que você mencionou, eu ficaria mais do que interessado em ouvir outra banda tentando tocar algumas de nossas peças – não somos a banda mais fácil para qualquer músico ter como influência. Às vezes, tornamos isso muito difícil até para nós mesmos!”
Mesmo com todo esse talento, a sucessão de eventos acabou por decretar a primeira pausa nas atividades do Satan.
O primeiro evento foi Brian Ross, que já declarou ter sido demitido da banda por causa da resposta negativa que “Court in the Act” teve na época por parte dos principais periódicos especializados, que acharam o disco “enfadonho”.
Obviamente, eles estavam errados e “Court in the Act” é um dos clássicos máximos da NWOBHM, mas a reação teve um impacto forte na banda.
Anos mais tarde, Brian Ross refletiria sobre a situação destas avaliações ruins da seguinte forma:
“Eles estavam errados, é claro, mas a reação deles ainda teve um efeito na banda. E a banda decidiu que o que eles queriam fazer era mudar as coisas para que soássemos mais como o Bon Jovi, para que parecêssemos mais americanos em nossa abordagem e na maneira como soávamos. Eles até queriam mudar o nome do Satan.”
Ele continua:
“Eu discordei totalmente dessa decisão. Eu disse ‘Não, não quero mudar o nome. Não quero mudar a direção musical da banda. Quero continuar e vamos compor a continuação de ‘Court In The Act’ e vamos seguir desta forma’. Eles discordaram, então me despediram.”
Cabe lembrar, nesse momento, que o vocalista tinha um “assunto inacabado” no Blitzkrieg, banda que ele reativaria em 1984, após deixar o Satan, na mesma época que saía o cover do Metallica, uma das bandas que mais crescia no cenário e colocava o Blitzkrieg como influência declarada.
O fato é que o cover realizado pelo Metallica deu uma certa evidência ao Blitzkrieg e Brian Ross resolveu que era hora de reformar o time e gravar o disco que queria antes da banda acabar em 1981.
O segundo evento foi o substituto de Brian Ross, o vocalista Lou Taylor, que impôs ao Satan, dentre várias condições, uma mudança de nome para aceitar o convite. O que já era da vontade da banda.
À partir daquele momento o Satan passaria a se chamar Blind Fury e as mudanças se estenderiam também à sonoridade, que em “Out of the Reach” (1986) era bem mais comercial e domesticada.
Anos mais tarde os músicos enxergariam que esse caminho havia sido um erro e em 1987, após dispensarem Lou Taylor e retomarem o antigo nome, lançam o pesado e técnico “Suspended Sentence”.
Mas aí já é assunto para outro artigo.
Aproveite que a Hellion Records acaba de lançar no Brasil uma edição de luxo de “Court in the Act”, em formato slipcase e com direito a pôster da capa, e vá atrás desse disco imediatamente, pois, sem dúvidas, VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!
Ano: 1983
Top 3: “Trial By Fire”, “Blades of Steel” e “Broken Treaties”.
Formação: Steve Ramsey e Russ Tippins (guitarras), Brian Ross (vocais), Sean Taylor (bateria) e Graeme English (baixo)
Disco Pai: Wishbone Ash – “Argus” (1972)
Disco Irmão: Blitzkrieg – “A Time of Changes” (1985)
Disco Filho: Death Angel – “Act III” (1990)
Curiosidades: Nas primeiras prensagens a faixa “Alone in the Dock”, que fecha o disco, foi erroneamente escrita como “Alone in the Dark”.
Em 1988, o Satan mudaria de nome novamente para Pariah, continuando com a mesma formação que gravou “Suspended Sentence”. Essa nova banda chegou a gravar dois álbuns.
Até que em 1990 Steve Ramsey e Graeme English fundaram, ao lado de Martin Walkyer, o Skyclad, um dos primeiros grupos de folk metal da história.
Pra quem gosta de: Jeans & Couro, colete com patches, metal clássico, filme de terror cult, e cerveja gelada.
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