Basta uma primeira audição neste “Grasping Time”, terceiro álbum do trio de prog/heavy metal Vokonis, para notar que as influências óbvias de Black Sabbath, Eyehategod, Neurosis e Pink Floyd estão presentes, assim como a ambição de criar uma sonoridade própria.
Afinal, além de serem apenas influências, elas estão bem diluídas em passagens pesadas e os climas profundos, ficando a sensação de que o espírito progressivo foi naturalmente adensado por sonoridades metálicas.
Isso se dá principalmente pela vibração sludge que imprime fúria e melodia simultaneamente através de uma distorção monolítica, por sua vez dinamizada e amplificada pelo contraste com as passagens contemplativas e psicodélicas.
O que gera um amplo universo musical, desde a abertura pesadíssima com “AntlerQueen” que resume em quase oito minutos a fórmula que ouviremos ao longo de todo o disco.
Até por isso, as remissões às releituras modernas do heavy rock de tons stoner e progressivos de nomes como Baroness, Mastodon e Vintage Caravan nos vêem à mente de forma constante.
Ou seja, as viagens psicodélicas estão lado a lado de solos vibrantes e riffs nervosos enfileirados, enquanto algumas experimentações alicerçadas pelas possibilidades do blues funcionam como corolários do acachapante peso orgânico e vice-versa.
Vide o que ouvimos em destaques do repertório como “Sunless Hymnal”, “Embers” (longa faixa onde peso e melodia se desdobram e se entrelaçam), “Fading Lights” (pisando forte no heavy metal mais clássico) e na lisérgica faixa-título (encapsulando de forma curta a essência do disco, e até por isso seu melhor momento).
Outro detalhe importante é a energia crua do trio e o poderoso espírito de palco aqui impresso pelo ótimo trabalho de estúdio que, paradoxalmente pelo toque refinamento de seus arranjos, se assemelha ao que é gerado pela determinação punk, mas com a texturas psicodélica.
Confira “I Hear the Siren” e você vai ter uma ilustração precisa do que eu tentei dizer!
Não há duvidas de que Simon Ohlsson é um guitarrista de talento, pois o trabalho de guitarras do álbum é irrepreensível e cristalino, além de estar muito bem amparado por uma cozinha sólida, sendo “Exiled” e“Ashes”(a curta abertura da segunda parte do disco) duas provas deste fato!
Aliás, cabe aqui dizer que a seção rítmica é de altíssimo nível. O baixo dá corpo à sonoridade e vai além de preencher os espaços com destreza, enquanto a bateria imprime força e técnica enquanto dita o ritmo das músicas.
“Grasping Time” não é um disco de fácil assimilação. Aconselho algumas audições seguidas pra captar o que de fato estão propondo, pois o que num primeiro momento me pareceu desconexo e sem sentido, porém com o passar do tempo se harmonizou em estilo, forma, e conteúdo.
Definitivamente essa é uma banda pra se prestar atenção e mais uma aposta certeira da Hellion Records para o mercado brasileiro.
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