Tadini – Resenha de “Collective Delusion” (2020)

 

“Collective Delusion”, primeiro álbum do compositor Tadini, um brasileiro radicado nos Estados Unidos, impressiona já na primeira audição.

E impressiona muito!

Quando a música “El Capitan” explodiu em alto e bom som por aqui eu sabia que estava diante de um compositor diferenciado, tanto pela ousadia quanto pela capacidade.

Fato corroborado ao me dedicar a uma audição completa deste seu primeiro trabalho,.

Tadini - capa de Collective Delusion
Tadini – “Collective Delusion” (2020, Independente)

Tadini nos oferece nessas nove músicas a fúria das guitarras roqueiras (tem cada solo de arrepiar por aqui) e a cadência de uma seção rítimica vibrante, determinada e explosiva para para emoldurar sua mensagem direta e revolta enquanto se divide em referências interessantes e explora o atrito das texturas orgânicas e eletrônicas.

Ele vai do stoner rock (“The Arsonist” traz riffs que não fariam feio num disco do Queens of the Stone Age) à malícia do jazz sinuoso e provocativo, passando pelo pop experimental (como em “Over the Rhone”), com a destreza de poucos.

Todas as composições que completam o trabalho foram escritas, gravadas, arranjadas e produzidas pelo próprio artista (a mixagem é de John Netti [Rival Sons, Buddy Guy] e a masterização de Sean Magee no Abbey Road em Londres), o que mostra o talento de Tadini em todas as posições do jogo.

Principalmente nas letras, onde ele ataca com a habilidade gerada pela experiência. Religião, cultura ocidental, saúde mental, abrir a mente para as possibildades que a vida oferece, são temas tratados com sinceridade nua e crua.

Certamente, as inpirações vão além e mostram uma versatilidade artística amarrada a um leque cultural vasto. Temos uma faixa inspirada por “Starry Night Over The Rhone”, de Van Gogh, e outra por “Grande Sertão: Veredas”, clássico de Guimarães Rosa, por exemplo.

Com isso em mente posso afirmar que não é qualquer um que compõe uma música como “Cain”, uma das melhores que ouvi esse ano, afinal, coragem, talento e ecletismo são condições necessárias para  misturar influências de Charles Mingus com Rival Sons hoje em dia!

As linhas vocais dramáticas e multifacetadas mergulham no corpo instrumental reforçando os sentimentos e a sensação de que por aqui a música é construída puramente pelo feeling.

Talvez por isso sua voz soe tão crua, despida e honesta na belíssima “The Love That Dares Not Speaks Its Name”, transbordando feeling na sua forte queda para o blues.

“23” vai nos mostrar como ele explora esse feeling de uma outra forma, deixando as guitarras para segundo plano e fazendo os teclados subir à superfície num caminho viajante, pincelado de lisergia e quase progressivo.

E quando pensamos que seu leque de artifícios imprevisíveis terminou, Tadini ainda nos oferece um clima western de arrepiar em “Backlands” e orientalismos na longa “Bastet”, uma faixa que tem como grande trunfo instilar experimentalismo ao rock básico sem esforço ou soar pretensioso.

Aliás, pretensão é o que não existe ao longo desse disco!

Mesmo quando a geometria estrutural das composições é assimétrica, a mudança de direcionamento é brusca e alguns movimentos instrumentais são um tanto virtuosos, as coisas fazem sentido no âmbito geral.

Claro que existe espaço para lapidação da personalidade musical, mas o principal, que são as composições próprias e o excelente trabalho em estúdio, Tadini já domina.

Vale citar os músicos que o acompanham neste trabalho brilhante:  além do próprio Lucas Tadini (vocais e teclados), temos,  na banda principal Vinicius Cavalieri (guitarras, dobro e baixo) e Pepe Hidalgo Ramos (bateria), e convidados em várias faixas, como Pedro Zappa (baixo), Gabriel Prado (baixo acústico), Alberto Menezes (baixo e guitarra), Dennis D’Angelo (guitarra), Marina Maiztegui (vocais), Claudio Magrassi (guitarra) e Pedro Asfora (guitarra).

Certamente vai ser um dos disco do ano por aqui!

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