Neverwinter – Resenha de “Air Castle” (2019)

 

“Air Castle” é o primeiro álbum de estúdio do duo curitibano Neverwinter, um nome dedicado ao metal sinfônico com um denso esfumaçado gótico.

A vocalista Fernanda Zys se juntou ao multi instrumentista Higor Hoenig em 2018, tendo como inspiração as clássicas bandas do gênero, mas bebendo também da fonte do power metal e do metal melódico noventista, dando atenção ao riffs e ao bons refrão.

O trabalho é constituído de dez faixas dotadas de arranjos esmerados que refletem ainda referências eruditas e góticas, numa mistura que claramente é fruto dos polos oferecidos por Higor e Fernanda.

Neverwinter - Air Castle (2019)
Neverwinter – “Air Castle” (2019, Independente)

Pontualmente isso está bem resumido na ótima “By The Flames”, um dos destaque máximos do repertório em termos de composição, e na faixa-título, que é um metal sinfônico de manual.

Já na introdução de “Decay”, faixa de abertura, um elemento irá mostrar que será de importância indelével para a sonoridade do Neverwinter: os teclados, afinal a música da dupla é altamente climática.

Na cativante “No Tomorrow” (com um “q” de hard rock/AOR) ouviremos incluive um solo deste intrumento, lembrando algo das bandas de metal melódico dos anos noventa.

Por sua vez, “Opium” se revela um metal de aspiraçoes góticas, com um groove melancólico e moderno perfeito para que Fernanda mostre sua versatilidade e Higor desfile todo o seu arsenal de timbres na guitarra e no baixo.

Essas tais influências góticas mostrarão mais sua força na belíssima “Distance”, uma faixa emocional, cadenciada e melancólica, dona do melhor trabalho de guitarra do disco.

Aliás, a facilidade que Fernanda tem de transformar sua voz impressiona. Preste atenção às multiplas facetas que ela utiliza em “Storm Above”, outra excelente faixa do trabalho.

Um ponto positivo de “Air Castle” são as letras.

Com uma póetica amadurecida que entremeia a intensidade emocional do instrumental, a Neverwinter mostra inpiração literária na era dourada do romantismo gótico para falar de temas como transtornos mentais, medo, dor e autodepreciação.

Esse fator aliado a produção moderna, mas não clínica, parece atualizar muito daquele metal sinfônico da virada do milênio, de bandas como The Gathering, Within Temptation, Nightwish e Theatre of Tragedy.

As timbragens chamam a atenção, pois trazem todo aquele aspecto melancólico do metal escandinavo para a receita, num instrumental que casa perfeitamente com os vocais quase etéreos de Fernanda.

Seu timbre afinadísssino e versátil, parece estar no baricentro de influências como Liv Kristine Espenæs, Cristina Scabbia e Sharon den Adel.

Ao mesmo tempo o instrumental carregado de técnica (existem constantes mudanças de tempos e andamentos) é o fator que aproxima a sonoridade do metal moderno, principalmente pelas afinações baixas das guitarras que imprimem riffs pesados, aliados a breakdows (no geral tímidos, mas presentes, como em “Fallen”).

Talvez, esse atrito entre o clássico e o moderno seja o grande trunfo de um trabalho que registra o potencial de mais um nome promissor do heavy metal nacional pelo alto poder de cativar.

Voltando ao trabalho em estúdio (feito pelos próprios músicos no estúdio Avant Garde, em Curitiba), creio que algumas arestas podem ser aparadas.

A sonoridade da bateria é uma delas, que apesar de orgânica soa encolhida e oprimida pelo baixo que parece sempre estar em destaque na mixagem.

Outro ponto é que os vocais de Fernanda soam baixos por diversos momentos, mergulhado num instrumental grave (como em “Murdering Dreams’), o que me fez perguntar se o tom das músicas era o ideal para sua voz? Em particular, a faixa “Stains” me despertou essa curiosidade.

Sendo muito sincero, creio que a única coisa que falta para eles é um produtor que olhe de fora e consiga apurar todas as qualidades da personalidade musical do Neverwinter.

Às vezes, a autoprodução é uma estratégia válida na música independente, mas dificilmente as bandas que a usam conseguem enxergar os próprios vícios de sua personalidade musical.

Digo isso, pois, ao meu ver, num nível profissional, o diferencial entre as bandas atuais, que as colocará em suas respectivas prateleiras de relevância dentro da cena mundial, reside nos mínimos detalhes.

Creio eu que o mais importante destes detalhes reside na produção! É a produção que separa o profissional do diletante e a atenção a esse quesito é crucial.

Mesmo assim, esses detalhes são pontos que a maturidade e o tempo irão lapidar, pois o principal a dupla possui: talento e alto potencial como compositores.

FAIXAS:

1. Decay
2. Opium
3. Fallen
4. By the Flames
5. Stains
6. Storm Above
7. Murdering Dreams
8. No Tomorrow
9. Distance
10. Air Castle

Ouça o “Air Castle” por esse link.

FORMAÇÃO:

Higor Hoenig (multi instrumentista)
Fernanda Zys (vocais)

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