Psychotic Waltz – Resenha de “The God-Shaped Void” (2020)

 

“The God-Shaped Void” é o quinto álbum de estúdio da banda de prog metal norte-americana Psychotic Waltz, lançado em 14 de fevereiro de 2020 e que ganhou uma edição nacional à cargo do selo Hellion Records.

Psychotic Waltz - The God-Shaped Void (2020, Hellion Records)

Enfim o quinteto formado por Devon Graves (vocais), Dan Rock (guitarra e teclados), Brian McAlpin (guitarra), Ward Evans (baixo) e Norman Leggio (bateria) apresenta seu primeiro trabalho de estúdio em mais de duas décadas.

Na verdade, “The God-Shaped Void” é o primeiro trabalho do Psychotic Waltz após o retorno da formação original em 2010, quando colocaram um fim no hiato iniciado em 1997.

É importante salientar que eles são tidos como uma das precursoras das formas progressivas do heavy metal, até por isso as similaridades com Fates Warning, Queensryche e Crimson Glory não assusta.

Além destas, várias vezes me lembrei do Nightingale, de Dan Swano, pela musicalidade intensa, sombria, melódica e objetiva, à começar pela abertura melódica e goticamente esfumaçada com “Devils And Angels”, passando por “While the Spiders Spin”, até o desfecho com “In The Silence”.

Neste disco, o instrumental técnico convive com melodias cativantes, mudanças de andamentos, passagens catárticas, alívios climáticos e detalhes imersivos, além dos vocais que trazem algo de psicodélico para o peso de músicas brilhantes como “Stranded” (que me lembrou levemente algo de Faith no More misturado ao Marillion e ao Judas Priest) e “All The Bad Men”.

Isso porque, musicalmente, o sucessor do álbum “Bleeding” (1996) nos entrega dez composições escritas com sofisticação técnica, seja nas harmonias de guitarras dobradas ou nas linhas vocais bem construídas pelo excelente vocalista Devon Graves.

Elementos desenhados nos teclados ou na flauta (da sombria “Pull The String”), junto às guitarras de melodias melancólicas e abordagem densa, criam uma personalidade forte e muito própria na sonoridade do Psychotic Waltz.

Aliás, o trabalho dos guitarristas Dan Rock e Brian McAlpin impressiona pela excelência técnica na execução sem abdicar do sentimento, e pela maturidade e bom gosto na construção dos riffs e solos.

Tudo na construção desse disco parece com pinceladas de uma paisagem. E no plano de fundo os teclados são essenciais para a criação dos climas  mais densos.

Com isso, o apelo emotivo vem por uma abordagem metálica densa, cheia de vicissitudes progressivas (como na belíssima “The Fallen”, que me soou uma mistura de Genesis com Savatage), um pouco de inspirações folk (ouça “Desmystified”), leves nuances alternativas e tendo como ponto de fuga desta sua paisagem musical o clima etéreo, divino e transcendental insinuado no título do álbum.

Apesar de se colocar musicalmente dentro da estética progressiva, o Psychotic Waltz se abstém daquelas longas e viajantes passagens instrumentais. O que não impede os climas de serem surrealistas e até psicóticos (para usar a referência do nome da própria banda), adjetivos que podem ser usados também para o instrumental.

Nesse sentido, “The God-Shaped Void” é um disco de heavy metal em sua essência, guiado por riffs e solos vindos de guitarras pesadas e refrãos poderosos, como em “Back to Black” (um heavy metal inteligente) e “Sisters of the Dawn” (com um tom melancólico de metal tradicional).

A gravação das músicas foi feita em dois estúdios diferentes e posteriormente o material ganhou o primoroso trabalho de mixagem à cargo do renomado Jens Bogren, nome vinculado a discos importantes do prog rock/metal ao lado de bandas como Opeth, Devin Townsend e Fates Warning.

Bem equilibrado entre o heavy metal e o progressivo, “The God-Shaped Void”, em suma, é um disco para a mente!

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