Paradise Lost – “Symbol of Life” (2002) | VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO

 

“Symbol of Life”, nono disco de estúdio da banda PARADISE LOST, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Definição em um poucas palavras: renascimento, guitarra, profundo, gótico.

Estilo do Artista: gothic/doom metal

Paradise Lost - Symbol of Life (2002, 2020, Hellion Records)

Comentário Geral: De certa forma, “Symbol of Life”, lançado em 2002 foi o disco que recuperou a imagem do Paradise Lost frente ao fãs após os três álbuns anteriores.

Na sequência de ajudar a definir o doom/death metal, iniciar o furacão noventista do gothic metal e ser considerado, com “Draconian Times” (1995), o “próximo Metallica”, o Paradise Lost fez o que ninguém esperava.

Mudou drasticamente sua sonoridade com os três próximos trabalhos: “One Second” (1997), “Host” (1999) e “Believe in Nothing” (2001).

Sem dúvidas “Host” foi o pico de ousadia do Paradise Lost dentro desta fase mais experimental, quando estavam na gravadora EMI.

No geral, eles iam além do que convencionamos a chamar de gothic rock/metal na época, ao misturar influências de Depeche Mode, Faith No More e The Cult à sua musicalidade.

O Paradise Lost nunca renegaria essa fase mais experimental e as várias mudanças dentro da musicalidade sombria, melancólica e densa seriam sempre justificadas pelo guitarrista e fundador Gregor Mackintosh:

“Quando muita gente está caminhando em uma direção, nós deliberadamente vamos pelo caminho inverso. Quando algo começa a se tornar incrivelmente popular, nós imediatamente evitamos ou abandonamos aquilo.”

Ele reforça essa postura dizendo que sempre tiveram o desejo de fazer algo um pouco diferente daquilo que ouviam em outras bandas.

Assim, quando sua forma experimental de dark/pop/metal começou a ser inspiradora para outras bandas, eles resolveram mudar novamente e lançaram “Symbol of Life” (2002), uma das jóias a serem redescobertas na irrepreensível discografia do Paradise Lost.

Já em “Believe In Nothing” as guitarras retomavam o protagonismo, ainda muito distante do peso do passado, mas, de fato, foi no álbum seguinte, “Symbol of Life” (2002) que o mundo do heavy metal pode festejar um Paradise Lost que retomava algo de sua sonoridade clássica.

Um olhar exterior a este nicho do heavy metal deixa claro como o Paradise Lost estava à frente de seu tempo no heavy metal, caminhando na dianteira da vanguarda do novo milênio, mesmo quando retomava elementos clássicos de sua personalidade musical.

Afinal, o doom metal que o Paradise Lost ajudou a construir na década anterior só retornaria, de fato, mais à frente, em “Paradise Lost” (2005).

O que eles faziam em “Symbol of Life” (2002) era manter a experimentação que nunca mais os abandonaria (talvez pontualmente em “Medusa” [2017]), mas agora alocada sobre uma estrutura tipicamente gothic metal, dando mais espaço às guitarras novamente.

Uma faixa como “Primal”, por exemplo trazia até mesmo esbarrões no que havia de mais moderno no metal daquela época, levando até o limite seu experimentalismo.

E olhando para a cena metal da época pelo prisma de hoje, não tenho medo de dizer que muitos de seus fãs não conseguiam entender a proposta musical desta fase simplesmente por estarem amarrados aos conceitos musicais de “Draconian Times”, “Icon” “Gothic”.

Entretanto, aqueles que tinham os ouvidos abertos para além da retomada das guitarras, perceberam que “Symbol of Life” nada mais é que a mesma banda dos três discos anteriores, misturando estilos, texturas e abordagens.

O simples fato deles terem enchido os arranjos com mais guitarras foi o suficiente para agradar os ensimesmados que esperavam o mesmo som da primeira metade da década anterior.

Existe uma ironia nisso tudo, pois muitos destes que enalteciam o peso do metal  de volta nem perceberam que faixa como “Perfect Mask” traziam referências nítidas às fórmulas industriais usadas na época por Rob Zombie e Marilyn Manson, por exemplo.

Nos detalhes, eles foram ainda mais sutis nessas influências, mascaradas pelo tal retorno ao metal. Um exemplo? Nos arranjos da ótima “Mistify”.

Assim como a já citada “Perfect Mask”, junto com “Channel for the Pain” e a empolgante “Self Obsessed” mostrariam como o Paradise Lost estava absorvendo a nova geração do rock/metal dentro dessa proposta mais crua.

Sutil e disfarçadamente.

O truque foi dar à guitarra-base de Aaron Aedy o mesmo espaço que tinha em “Icon”, deixando Gregor Mackintosh livre para explorar texturas e abordagens mais experimentais.

“Symbol of Life” é um disco versátil, melodicamente variado e cativante nos refrãos, além de ser onde melhor o peso das guitarras conviveu com samples e efeitos nas linhas vocais de Nick Holmes.

De modo mais geral, “Symbol of Life” pode ser encarado como “One Second” mesclado ao clima e ao ambiente de “Gothic”.

São justamente nas faixas de abertura “Isolated”, “Erased” (uma das melhores músicas da banda) e “Two Worlds” (uma faixa que estaria facilmente em “One Second”) onde essa observação se torna mais perceptível, através do peso bem administrado e dos refrãos certeiros e cativantes.

“Pray Nightfall”, por sua vez, é uma faixa que possui uma estrutura muito próxima da que ouvimos em “Host”, assim como a estupenda “No Celebration” ecoa os tempos de “Icon” “Draconian Times”.

Sem sombra de dúvidas, o Paradise Lost conseguiu com muito mais habilidade e um resultado final primoroso, o que o Tiamat tentava desde “A Deeper Kind of Slumber” (1997) e o Samael desde “Passage” (1996): combinar texturas eletrônicas com a organicidade agressiva do metal e os climas melancólicos e sombrios do rock gótico oitentista.

O segredo do Paradise Lost estava no equilíbrio do eletrônico e do metal tendo nos teclados bem alocados, na timbragem crua da bateria e no baixo encorpado, o fulcro desta musicalidade rica.

Ouça a faixa-título e os covers para “Xavier” e “Small Town Boy” com atenção e você vai entender o que estou querendo dizer.

“Symbol of Life” marcou a mudança do Paradise Lost da EMI para a gravadora alemã GUN Records e Greg Mackintosh refletiu sobre isso da seguinte maneira na época:

“…não entendíamos realmente como eles [a EMI] funcionavam, e eles não entendiam realmente como trabalhávamos … você sabe … e era difícil às vezes porque simplesmente não podíamos ter uma boa colaboração com a EMI, talvez duas pessoas em toda a empresa entendessem o que estamos tentando fazer, mas a maioria das pessoas não tinha ideia.”

Outro detalhe importante de “Symbol of Life” é a chegada do produtor Rhys Fulber (que também trabalharia com a banda nos próximos dois discos), que parece ter ajudado o Paradise Lost a organizar um pouco as ideias, como contou Nick Holmes:

“De ‘Host’ a ‘Believe In Nothing’, nós meio que não sabíamos para onde estávamos indo. Estávamos realmente em um dilema. Mas acho que ‘Symbol Of Life’ é um álbum muito mais forte do que os anteriores, e acho que é por causa do envolvimento de Fulber nele. Eu acho que ele realmente trouxe algumas ideias novas para a mesa naquele álbum, que é algo que ele continuou a fazer em cada álbum desde então.”

O disco seguinte, “In Requiem”, dentro da discografia da banda, impulsionaria uma proposta que seria melhor trabalhada em “Faith Divides Us – Death Unites Us” (2009) e principalmente em “Tragic Idol” (2012).

De certo modo, olhando em retrospecto, por esse motivo, podemos dizer que este “Symbol of Life” (2002) foi a retomada do curso que levaria o Paradise Lost a produzir obras-primas como “The Plague Within” (2015) e “Obisidian” (2020).

Ano: 2002

Top 3: “Erased”, “Mistify” “No Celebration”.

Formação: Nick Holmes (vocais), Gregor Mackintosh (guitarra, teclado e programação), Aaron Aedy (guitarra), Stephen Edmondson (baixo) e Lee Morris (bateria).

Disco Pai: Fields of the Nephilim – “The Nephilim” (1988)

Disco Irmão: Diabolique – “The Green Goddess” (2001)

Disco Filho: Moonspell – “Alpha Noir” (2012)

Curiosidades: Nessa época eles gravaram dois covers: “Xavier” do Dead Can Dance e “Small Town Boy” do Bronski Beat. Ambas estavam na edição especial em digipack e saíram no mais recente relançamento feito pela Hellion Records, em formato slipcase.

Pra quem gosta de: simbolismo, sutileza, gótico moderno, vinho tinto e literatura inglesa.

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