Organoclorados – Resenha de “Quântico” (2018)

 

“Quântico” é o segundo álbum de estúdio da banda baiana Organoclorados, que ainda traz na bagagem, além do primeiro álbum, alguns DVDs ao vivo e EPs.

A banda nasceu ainda nos anos 1980, a era de prata do rock nacional, querendo manter o legado do rock baiano de nomes como Raul Seixas e Camisa de Vênus, duas influências compulsórias.

Mas ao colocarmos esse disco para rolar podemos encontrar muito de outros nomes do chamado BRock, principalmente das cenas de São Paulo, Brasília e Rio Grande do Sul.

Organoclorados - Quântico (2018, Independente)

Claro que o caminho foi árduo, como é para toda banda que desbrava o underground, e talvez pela inconstância na formação, que só foi se consolidar nos anos 1990, eles perderam o bonde da história, mas não a vontade de criar música.

Ao longo do tempo a Organoclorados evoluiu sua música de uma forma muito profissional. “Quântico” chega até nós em formato físico, num digipack de primeiro nível embalando sete músicas e mais três bônus.

O mais interessante é perceber como as influências do pos punk e da new wave soam renovadas com uma produção moderna, tirando qualquer possível anacronismo daqueles licks sobrepostos à base compassada de bateria e à marcação constante e pronunciada do baixo, aliado ao vocal encorpado.

Até por isso, é impossível não pensarmos nos grandes momentos de Nenhum de Nós, Ira!, Inocentes e Legião Urbana, e até mesmo outros nomes menos lembrados como Uns e Outros, Plebe Rude, Finis Africae e Zero, quando ouvimos faixas como “Labirinto Tirano”, “Manchas de Sangue” e “Crossing Over” (uma das melhores do disco), todas carregadas daquela melancolia cinzenta e urbana.

Já “Bem Aventuranças” mostram como a personalidade de uma banda pode ser construída à partir de referências óbvias (nesse caso o Biquini Cavadão da época de “Cidades Em Torrente”), de uma forma simples, mas com arranjos inteligentes, impressos por timbres brilhantes (algo também marcado em “Submundo”, uma faixa cheia de detalhes). Atenção às guitarras e aos teclados dessa música.

Mais à frente, “Cortina de Fumaça” trará algo de psicodélico e climático para o jogo, com leves remissões ao Pink Floyd enquanto desfia o cânone do rock nacional.

Enquanto isso, a única faixa em inglês do material, “For You, Girl” vai agradar os saudosos do Joy Division e da neblina de microfonias do Jesus And Mary Chain.

Outro ponto a ser observado são as linhas vocais expressivas ao longo de todas as composições, sempre nos transportando para a mágica década de 1980. Elas ficaram ainda melhor marcadas na linda balada “O Zênite e o Nadir”.

Nos dias atuais, de música tão processada em estúdio, é quase refrescante ouvir música com tridimensionalidade, espaço para os instrumentos ressoarem sem serem solapados pela guerra de volume ou pela briga de espaço com o baixo e a bateria.

Aqui, a sonoridade tem profundidade, energia, melodia e arranjos bem elaborados, e as letras vêm carregadas de simbolismos, além de reflexões filosóficas e/ou cotidianas.

O grande trunfo desse material reside no fato dos músicos executarem exatamente a música que querem, sem tentar “reinventar a roda” e praticando a arte que se propõem com maturidade, determinação e foco.

Uma belíssima demonstração do puro BRock.

Vá atrás, conheça a banda e a use principalmente para esfregar na cara daqueles que gostam de dizer aos quatro ventos que o rock nacional morreu!

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2 comentários em “Organoclorados – Resenha de “Quântico” (2018)”

  1. Muito expressivo e bem colocado às pontuações das músicas citadas, onde os detalhes determinam a identidade musical da banda. (André G.) Baixista da Organoclorados.

  2. A Organoclorados agradece imensamente pela qualidade do texto, escrito com atenção e conhecimento do riscado. Força sempre.

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