“O Capote” é um conto basilar da literatura russa moderna, publicado pelo humorista, dramaturgo, prosador e polemista, Nikolai Vassílievitch Gógol, em 1842.
Nesse artigo apresentamos uma resenha deste clássico da literatura.
A importância da Literatura Russa dentro da Literatura Moderna é imensurável.
Muitos críticos e especialistas apontam os russos como símbolos da alta literatura do século XIX, preocupando com a própria forma, com os estados íntimos de consciência, com os limites do real e as angústias por trás da aparente ordem da vida, sem aceitação da narrativa linear, com começo, meio e fim, rejeitando a ordem lógica e progressiva, bem como o tempo cronológico e os grandes enredos, cheios de situações e personagens absurdas e simbólicas.
E isso tudo começou aqui, em “O Capote”, de Nikolai Gógol.
O próprio Dostoiévski viria a dizer que “todos nós saímos do capote de Gógol”, reverenciando a importância do escritor para a sua geração, que extrapolou suas fronteiras em apenas onze anos de carreira literária, sendo mencionado por nomes como Franz Kafka e Sartre.
“O Capote” é considerado a pedra fundamental da literatura moderna, ao contar uma fábula simultaneamente real e absurda, de um patético funcionário público.
Desafortunadamente, Gógol não fugiu à triste regra de não ser reconhecido em vida, nem por si mesmo, sendo descrito pelo escritor Ivan Turguêniev como uma criatura esdruxula, inteligente e doentia.
Era dado a melancolia mórbida e tinha graves acessos de depressão. Não se casou, não teve filhos e seu final de vida foi marcado por desequilíbrio emocional e deterioração física, quando queimou todos os seus últimos escritos inéditos.
Num primeiro plano, o conto de Gógol é simples, narrando a história de Akaki Akakiévitch, um homem que existe (e não vive) de modo simples, vazio, sem personalidade e ambições, alvo de chacotas dos colegas que trabalham no ministério russo copiando documentos.
Em decorrência do rigoroso inverno de Petesburgo, Akaki vive às voltas com remendos em seu surrado capote, mas agora está tão velho e puído que só cabe o investimento alto em um novo.
Akaki consegue, com muito esforço e sacrifício, juntar o dinheiro necessário para outro casaco, vistoso e que orgulha o dono, agora alvo de congratulações de seus colegas de trabalho.
Até que… Bem, deixemos o restante para aqueles que queiram se aventurar nas pouco menos de cinquenta páginas do conto de Gógol.
Mesclando estilos literários e o contraste entre o concreto e o absurdo, Gógol se mostra sarcástico, irônico, inovador, pessimista, além de um exímio construtor de cenários e personalidades.
Na contracapa do livro, o texto corrobora com nossa ideia ao afirmar que “Gógol contribuiu para a “invenção” da cidade “mais fantástica do mundo” sem a qual não teriam sido possíveis as Petersburgos de Dostoiévski, Blok, Andrei Béli, Mandelstam, a Praga de Kafka, a Berlim de Benjamim, etc. A cidade onde os homúnculos frustrados e solitários de Gógol se perdem e perdem o que têm de mais íntimo (o nariz, o juízo, a identidade, o capote)”.
A excelência de “O Capote”, publicado em 1842, está no contorno das diferenças sociais, na sutil crueldade das relações sociais, tudo desenvolvido como uma brilhante caricatura da sociedade burocrática russa.
Além disso, é louvável a forma como o escritor manipula situações bizarras e rompe com a ordem lógica com a mesma naturalidade com que descreve o cotidiano.
O objeto “capote” é uma alegoria para o materialismo, símbolo de um status social, que poderia ser seu atual celular, carro ou casa, e que se transforma uma obsessão espiritual na segunda parte da narrativa.
Cabe mencionar que em 1959 foi realizada uma adaptação cinematográfica da obra, pelo cinema soviético Aleksey Batalov.
O realismo fantástico desfiado em “O Capote” vem recheado de críticas à sociedade russa e aos vícios da condição humana, com um olhar de escárnio, zombaria e afiada alegoria.
Uma peça de preciosidade impar na história do conhecimento humano.
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