O Branco e o Índio surgiu como um duo que explorava sonoridades experimentais, mas o time que chega ao álbum “Plantas Renováveis” já estava um tanto renovado (com o perdão do trocadilho).
Flávio Abbes e Bruno Rezende, ambos vocalistas e guitarristas resolveram simplificar um pouco sua abordagem, retornando ao formato banda, e chamaram o baixista Roberto Souza e o baterista Pedro Serra para completar o time.
O objetivo era compor canções, se valendo de construções melódicas e obediência às métricas, mas mesmo que saíssem da experimentação, a experimentação não saía deles.
Sendo assim, logo as cores difusas das timbragens psicodélicas e o clima excêntrico construído pelos efeitos e ruídos herdados de sua encarnação pregressa apareceram nessa nova proposta musical que pode ser conferida em “Plantas Renováveis”, seu segundo álbum de estúdio fruto desta nova aventura e lançado em 2018.
Rotular o que ouvimos nestas doze faixas é complicado, afinal são muito experimentais para o pop, muito pop para o rock, muito rock para ser psicodélico e muito psicodélico pra ser art rock.
Mas está situado no baricentro de todos esses estilos!
Por aí eles já ganham pontos positivos, pois conseguiram um lugar na música para chamar de seu!
As influências são nítidas e vastas (David Bowie, Devo, Talking Heads, Neu!, Mutantes, João Donato e Jupiter Maçã são algumas delas), desde a primeira faixa, “Golden Gol”, passando por “Nonato” (e sua psicodelia acelerada), até “Sol em Estéreo”, o que cria uma familiaridade com as músicas, mesmo com toda a estranheza musical pincelada.
“Golden Gol”, inclusive, tem um groove orgânico irresitível, mostrando que mesmo com todas aquelas inegáveis influências, a identidade própria é marcada em cada arranjo ou dobra melódica.
A faixa seguinte, “A Transferência das Plantas Renováveis”, traz até elementos de surf music para o jogo musical que entrega a primeira linha vocal já quase na metade da música, enquanto sua irmã “Releitura das Plantas Renováveis” apresenta uma crueza melancólica interessante.
Por vezes eles viajam por incursões instrumentais que dão um sabor psicodélico tropical de jam band, mas logo colocam os pés no chão, não se desdobrando em longas divagações sonoras.
Fica claro que o objetivo aqui é atritar conceitos opostos (aliás, objetivo confesso no primeiro verso de “A Transferência das Plantas Renováveis”), como oximoros musicais amplificados pela imprevisibilidade e até mesmo ousadia de mesclar estilos e influências improváveis de forma envolvente e imersiva.
Isso é visto de formas diferentes em “Orelha Negra” (que traz algo da maluquice herdada dos Mutantes) e “Super 8 81” (com os arranjos se controlando para soarem como uma normal releitura do rock sessentista).
Outra prova dessa ousadia quase científica esta na capa do disco, que estampa o pratotarra (um prato amplificado por um captador de guitarra), um instrumento criado pela banda durante a gravação do disco.
Ou seja, descontruir padrões para construir exceções parece ser o conceito geral. E quando conseguem equilibrar a fórmula, como em “Espaço Escasso”, e seu belíssimo trabalho de guitarras, ou na montanha-russa rítmica de “Aumentado”, o resultado é brilhante.
Claro que nem tudo funciona. “Inventado”, por exemplo, soa forçada e bem menor frente as demais, e junto com “Só” escancara a grande deficiência da banda: os vocais, que por vezes lembram o hábito deliberado de semitonar do Los Hermanos.
Apesar disso, o resultado é muito acimo da média no âmbito geral, sendo que a maturidade do quarteto se mostra não só na capacidade de aglutinar tudo isso de forma ordenada e cativante, mas também no excelente trabalho em estúdio. Afinal, foi a própria banda que mixou e produziu “Plantas Renováveis”.
Fortemente idicado para as mentes abertas!
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