Se você e daqueles que maldizem a atual veia prog rock do Opeth e só respeitam a fase pré-“Heritage”, pode ir atrás desse “Black Frost”, quarto disco da banda alemã Nailed to Obscurity, sem medo de ser feliz.
Se você também gostar do álbum “Tonight’s Decision”, do Katatonia, não precisa nem terminar de ler essa resenha e pode ir direto atrás do seu.
Afinal, as sete faixas do tracklist oficial, mais as três bônus oferecidas na edição nacional à cargo da Shinigami Records, apresentam muita emoção aliada a técnica e peso, com criatividade para oscilar entre o doom metal e o death metal, usando das melodias, do atrito entre vocais limpos e sussurrados com os guturais, e dos climas bem criados, como artifício catalisador de sua fórmula que ainda apresenta traços de fases específicas de Amorphis e Anathema.
Fundado em 2005, o Nailed to Obscurity é oriundo da pequena cidade alemã de Esens e centrado na dupla de guitarristas Jan-Ole Lamberti e Volker Dieken, os principais compositores desde o início e que superaram as adversidades comuns a toda biografia de uma banda.
Até por isso, é notório que mesmo com toda a clara preocupação com os arranjos e todos os aspectos das composições, elas são orientadas pelas guitarras, responsáveis pela melancolia e diversidade melódica que joga “Black Frost” numa versão mais profunda e arrastada do death metal melódico.
Algo que já é entregue na faixa-título, que também abre o disco resumindo tudo isso de uma forma coesa, mas multifacetada.
Não vou enganar, o álbum não é de fácil assimilação.
As músicas são longas, por vezes se desdobram por estruturas progressivas com dissonâncias e explorações dos limites introspectivos de sua fórmula. Não só por isso merece mais de uma audição para sua total absorção, afinal é um trabalho belíssimo de metal extremo, que transforma decadência em arte moderna.
Ao mesmo tempo que as ambientações são contemplativas e de perene aspecto gélido, existe um peso agoniante em cada dobra melódica, num trabalho capaz de espremer emoções diversas do ouvinte enquanto se desenrola.
O agrupamento de todos estes elementos gera algo que cativa, principalmente em faixas mais curtas como “Tears of Eyeless”, “Feardom” e “Resonance”, que se destacam pelo atrito entre sensibilidade e agressividade, quase como uma projeção das lutas internas que todos nós temos.
Mas as faixas épicas, cadenciadas e depressivas também possuem seu valor, como “Cipher” (mesclando um groove discreto com movimentos progressivos precisos) e “Road to Perdition” (mais progressiva do álbum) principalmente por ser nelas onde podemos ver como imprimem sua marca dosada de brutalidade instrumental convivendo harmoniosamente com ricos detalhes sombrios.
O trabalho de vozes é excelente, conseguindo a proeza de soar brutal e melancólico, simultaneamente, assim como a seção rítmica que atualiza a forma linear e simples do death/doom metal, e por vezes no leva de volta aos áureos tempos de Anathema, Paradise Lost, Katatonia e My Dying Bride.
Obviamente isso tudo não seria possível se o trabalho em estúdio não fosse de primeiro nível. A produção se mostra eficiente em trazer a ambientação invernal de forma natural para o disco. A banda tem sua parcela nesse sucesso do que ouvimos em “Black Frost”, pois passou uma semana em pré-produção, aprimorando as músicas no Woodshed Studio, em Landshut, na Alemanha, durante o verão europeu, junto ao o engenheiro e produtor V. Santura, que também produziu, mixou e masterizou o álbum. Cabe mencionar que ele é o mesmo produtor do álbum anterior, “King Delusion”.
Dentre as faixas bônus, as três são regravações do primeiro disco, “Abyss…” (2007), registradas originalmente com o vocalista Alexander Dirks, que saiu da banda em 2012, dando lugar a Raimund Ennenga. E até por isso são mais puxadas para o death metal, com mais intensidade e agressividade, e menos passagens progressivas e climáticas.
Um álbum imprescindível se você gosta dos oximoros do death/doom metal!
FAIXAS
1. Black Frost
2. Tears Of The Eyeless
3. The Aberrant Host
4. Feardom
5. Cipher
6. Resonance
7. Road To Perdition
Bonus:
8. Abyss (2019 version)
9. Autumn Memories (2019 version)
10. Fallen Leaves (2019 version)
FORMAÇÃO
Raimund Ennenga »» vocal
Jan-Ole Lamberti »» guitarra
Volker Dieken »» guitarra
Carsten Schorn »» baixo
Jann Hillrichs »» bateria
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