Se você me fizesse apostar hoje num nome que será grande dentro do rock/metal daqui uma década eu colocaria todas as minhas fichas no Myrath, principalmente após o lançamento deste “Live in Carthage”.
Esse primeiro disco ao vivo prova que eles não só estão num alto nível musical, seja em composição ou performance, mas também em outros aspectos, como postura de palco, preocupação artística com cada detalhes do seu show, imagética e identidade bem definidas, além de alto profissionalismo.
A banda tem a marca de ser a primeira oriunda da Tunísia a assinar com um selo e deixar o circuito independente, conseguindo se estabelecer gradualmente no cenário.
Muito por causa da paixão impressa no seu prog/power metal, temperado à moda do Oriente Médio, que gera interesse não só pelo exotismo, mas também pela concisão das linhas progressivas e pela dramaticidade das passagens sinfônicas.
O Myrath sabe como criar uma identidade própria dentro do heavy metal se valendo da própria cultura musical de seu país como ponto de partida.
Tanto que seu estilo foi apelidado de blazing desert metal, expressão usada para encapsular uma proposta musical que não pode ser descrita de forma simples.
Mas vamos tentar.
Musicalmente, temos uma mistura homogênea de vários estilos (como o hard rock, o power metal e o symphonic metal), atualizados pelos grooves usados no metal atual (e nas timbragens das guitarras), dando vazão ao aspecto ritmado, percussivo e tribal, ao mesmo tempo que empregam refrãos melodiosos (indo do melodic rock ao melodic metal sem rubores), se dividindo entre músicas curtas e outras com movimentos instrumentais elásticos.
As influências de Orphaned Land, Pain of Salvation, Kamelot, Dream Theater e Symphony X existem, mas são apenas isso, influências.
Dentro dessa proposta, os orientalismos são explorados de forma bem particular, com ritmos tribais, melodias étnicas, e linhas vocais que ficam entre o metal e o folk árabe.
Ao longo de seus cinco discos de estúdio (com destaque ao mais recente, “Shehili” (2019)) eles lapidaram essa fórmula sempre mostrando evolução como músicos e compositores, algo que pode ser conferido nesse disco ao vivo que fatalmente chega para marcar o fim de um período na carreira da banda.
“Live In Carthage” foi gravado num antigo anfiteatro romano localizado na cidade de Cartago, na Tunísia e no Brasil foi lançado via Shinigami Records numa luxuosa versão dupla, contendo CD e DVD, embalados num digipack belíssimo.
Músicas como “Born to Survive”, “Dance” (com refrão que funciona ainda melhor ao vivo) e “No Holding Back” (desfilando toda a versatilidade da banda) mostram como o mais recente trabalho tem uma vibração diferente das composições mais antigas.
Nesse sentido, esse disco ao vivo mostra que o Myrath já aponta para um direcionamento diferente em sua música, mais melódico e moderno do que propriamente progressivo e pesado (que pode ser sentido nas faixas retiradas de “Tales of the Sands”).
Além disso, esse repertório bem equilibrado contemplando a maioria de seus discos confirma aquilo que todos já sabiam: “Believer” é ainda o grande hino do Myrath, tanto que ele vem em duas versões: uma ao vivo e uma com a participação do tecladista Don Airey disponível apenas na versão em CD.
Claro que outras músicas como “Get Your Freedom Back”, “Wide Shut” (intrincada e progressiva), “Sour Sigh” (carregada de tensão e melodia), “Tales of the Sands”, e “Endure The Silence” também chamam a atenção e já são clássicos que o Myrath levará para o promissor futuro de sua carreira.
Chamo aqui a atenção para o registro em vídeo, pois com ele podemos ver como a cultura folclórica de seu país está inserida de modo artístico na imagética da banda, não apenas em sua musicalidade.
Além de um cenário belíssimo e imersivo, ainda temos apresentações de danças coreografadas e tradicionais que só aumentam o impacto da performance de palco do Myrath, pelas cores e visualizações que permite.
Claro que tudo funciona pela coesão das potencialidades de seus músicos, mas é fato que o vocalista Anis Jouini chama a atenção pela postura, interpretação, timbre marcante e versatilidade entre linhas dramáticas, agressivas e melodiosas, dominando o palco e o público de forma indiscutível.
O único porém da edição brasileira é a inexistência de legendas e como eles se comunicam com o público majoritariamente em sua língua natal fica complicado compreender o diálogo com a platéia.
No mais, “Live in Carthage” é, sem dúvidas, um dos lançamentos de destaque em 2020!
FAIXAS
CD
1. Believer (feat. Don Airey)
2. Asl (Live In Carthage)
3. Born To Survive (Live In Carthage)
4. Storm Of Lies (Live In Carthage)
5. Dance (Live In Carthage)
6. Wide Shut (Live In Carthage)
7. Merciless Times (Live In Carthage)
8. Get Your Freedom Back (Live In Carthage)
9. Endure The Silence (Live In Carthage)
10. Nobody’s Lives (Live In Carthage)
11. Duat (Live In Carthage)
12. The Unburnt (Live In Carthage)
13. Sour Sigh (Live In Carthage)
14. Tales Of The Sands (Live In Carthage)
15. Believer (Live In Carthage)
16. No Holding Back (Live In Carthage)
17. Beyond The Stars (Live In Carthage)
DVD
1. Asl (Live In Carthage)
2. Born To Survive (Live In Carthage)
3. Storm Of Lies (Live In Carthage)
4. Dance (Live In Carthage)
5. Wide Shut (Live In Carthage)
6. Merciless Times (Live In Carthage)
7. Get Your Freedom Back (Live In Carthage)
8. Endure The Silence (Live In Carthage)
9. Nobody’s Lives (Live In Carthage)
10. Duat (Live In Carthage)
11. The Unburnt (Live In Carthage)
12. Sour Sigh (Live In Carthage)
13. Tales Of The Sands (Live In Carthage)
14. Madness (Live In Carthage)
15. Believer (Live In Carthage)
16. No Holding Back (Live In Carthage)
17. Drum Solo (Live In Carthage)
18. Beyond The Stars (Live In Carthage)
19. Outro (Live In Carthage)
Bonus: Making-Of
FORMAÇÃO
Anis Jouini (Baixo)
Malek Ben Arbia (Guitarra)
Elyes Bouchoucha (Teclados, Backing Vocals)
Zaher Zorgati (Vocal)
Morgan Berthet (Bateria)
LEIA MAIS:
- RESENHA | Myrath – “Shehili” (2019)
- HEAVY METAL | Como o Rock virou Metal?
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