“Irreligious”, clássico segundo disco da banda MOONSPELL, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Gótico, pesado, sombrio e influente
Estilo do Artista: Gothic/Doom Metal
Comentário Geral: O Moospell é hoje uma das bandas mais interessantes dentro do rock/metal, misturando o peso do doom goticamente esfumaçado com nuances diferentes a cada disco.
O vocalista Fernando Ribeiro é o único membro original da banda que iniciou as atividades em 1989 e que tempos depois seria rebatizada de Moonspell. Após gravarem a primeira demo tape em 1993 a banda conseguiu um contrato com uma gravadora francesa por onde gravou o EP “Under the Moonspell”, um material que abriu as portas da Century Media para os portugueses.
O primeiro disco pela Century Media seria “Wolfheart”, lançado em 1995, que chamou a atenção do mercado europeu e os levou a uma turnê com o Tiamat e o Morbid Angel. “Isso nos permitiu curtir muito enquanto banda e fazermos o nosso álbum Irreligiuos, que teve um grande sucesso na Europa, no permitindo tocar com bandas como Type O Negative”, contou o líder Fernando Ribeiro à época.
Na época em que gravou esse segundo disco, intitulado “Irreligiuos”, a banda ainda morava em Portugal e neste momento o Moonspell ainda estava lapidando sua mistura de Sisters of Mercy com Paradise Lost, porém se libertava rapidamente de suas raízes no metal extremo.
Gravado no Woodhouse Studios, entre 25 de março e 11 de maio de 1996, “Irreligious” foi lançado no final de julho daquele mesmo ano e abria com “Perverse… Almost Religious”, uma curta e imersiva introdução, que dá o tom gótico, dramático e ocultista ao disco que trará referências a Aleister Crowley e abre espaço para um dos maiores clássicos do Moonspell: “Opium”.
“Opium”, junto com “Mephisto”, são duas das melhores músicas do Moonspell e chegam mostrando toda a influência que os músicos estavam absorvendo do gothic rock noventista, misturando a dramaticidade do Sisters of Mercy com a crueza do Filds of the Nephilim nas guitarras.
Estas músicas acabariam de tornando uma espécie de manual a ser seguido no gothic metal noventista, onde a mistura de vocais guturais com timbres mais limpos dava um contraste tipicamente gótico, principalmente quando emoldurado por guitarras de afinação baixa.
Na sequência temos outra composição emblemática de “Irreligiuos”: “Awake!”, famosa por trazer Aleister Crowley lendo seu poema “The Poet”, e que se destaca com um arranjo que parece um tango mórbido, à moda gothic metal, entremeado de pesadíssimas passagens doom metal.
Esta fórmula seria repetida em momentos interessantes do disco, como em “Ruin & Misery” (que até lembra o Type O Negative, mas os detalhes que conferem a personalidade própria do Moonspell estão bem marcados nos coros e nas passagens diferenciadas) e “Raven Claws” (com dueto com a cantora Birgit Zacher no refrão de uma música feita pra ser um hit).
No geral, as faixas possuem uma ligação entre si, sem intervalos, como se fossem partes de uma mesma peça, evidenciando uma banda de altíssimo nível em seu momento máximo de inspiração até aquele momento. Ou seja, “Irreligious” mostrava uma banda criativa e com coragem para explorar dentro da sonoridade que ainda lapidava.
Uma das provas disso vem em “For a Taste of Eternity”. Outra que parece atualizar, pelo prisma do heavy metal, o gothic rock do Sisters of Mercy ao mesmo tempo que investe em experimentações pontuais. Este é o tipo de composição que evidencia o quão diferenciado o Moonspell sempre foi em seu segmento, simplesmente por se valer de elementos inesperados em suas músicas.
Outro momento que surpreende em “Irreligious” vem na música “A Poisoned Gift”, pois com criatividade amalgamou uma gama de elementos diferentes. Parece uma música criada para uma trilha sonora de um filme escrito por Rob Zombie e dirigido por Quentin Tarantino. Uma das melhores do disco!
Também merecem citações “Herr Spiegelmann”, composição instigante e que levava o gothic metal do Moonspell a um novo patamar de criatividade, e “Full Moon Madness”, certamente a faixa mais doom metal do disco, com andamento arrastado, dobras melódicas lentas e camas de teclados dando profundidade à melancolia do clima.
“Irreligious” foi bem recebido na cena gótica que começava a galgar rumo ao topo do heavy metal na década de 1990, e ajudou a dar contornos finais ao gothic metal que seria ainda melhor desenvolvido pela banda no álbum seguinte, o refinado “Sin/Pecado” (1998), o disco que faria do Moonspell uma grande banda na Europa.
Recentemente, “Irreligious” foi relançado no Brasil pelo selo Shingami Records, numa edição limitada a 300 cópias. Vá atrás, pois, definitivamente, você devia ouvir isto!
Ano: 1996
Top 3: “Opium”, “Mephisto” e “A Poisoned Gift”.
Formação: Fernando Ribeiro (vocais), Ricardo Amorim (guitarra), Ares (baixo), Pedro Paixão (teclados) e Mike (bateria).
Disco Pai: Sisters of Mercy – “First and Last and Always” (1985)
Disco Irmão: Type O Negative – “October Rust” (1996)
Disco Filho: Diabolique – “The Black Flower” (1999)
Curiosidades: Na capa de “Irreligious” temos o Olho de Horus, um símbolo que tem ligações com a Thelema, a filosofia ocultista de Aleister Crowley. Com a Nova Era pregada por Crowley teríamos um período regido por Hórus, onde as leis sociais seriam rompidas para que todos vivessem em plenitude. Se de fato for verdade, “O Livro da Lei” é o primeiro comunicado de Crowley como profeta do Novo Aeon.
Pra quem gosta de: Fernando Pessoa, Aleister Crowley, Bram Stocker e vinho tinto.
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