Moonspell – “Hermitage” (2021) | Resenha

 

“Hermitage” é o décimo segundo álbum da banda portuguesa Moonspell, lançado em 2021 via Napalm Records. No Brasil o discos saiu via Hellion Records numa luxuosa versão em slipcase.

Moonspell - Hermitage (2021, Napalm Records) Resenha Review

De cara, chamará a atenção o quanto “Hermitage” é diferente dos últimos dois discos do Moonspell, “1755” “Extinct”, que por sua vez já eram muito diferentes entre si.

Enquanto “Extinct” soava mais crú e metálico, “1755” era épico e emocional. Agora, “Hermitage” abraça a faceta mais progressiva e climática da personalidade gótica do Moonspell desde a imersiva abertura com “The Greater Good”.

Nesse sentido, “Hermitage” é um álbum diversificado, com muito detalhes e direcionamentos plurais a serem exploradas num álbum muito mais experimental que o anterior, “1755”.

Aliás, comparando estritamente os dois discos, o Moonspell despiu-se das amarras conceituais, épicas, densas e orquestrais, seguindo uma linha gótico-progressiva muito bem resumida na ótima “Entitlement”.

Essa faixa deixa claro como “Hermitage” segue uma estrutura gothic/classic rock nos fazendo lembrar de Christian Death, Fields of The Nephilim, The Mission e Sisters of Mercy, com intensidade bem controlada, ganchos melódicos pontuais e abordagem melancólica mesmo nos movimentos mais dinâmicos (como no riff de “Commom Prayers”).

Esta característica, num aspecto geral, está longe de ser um problema, pois a qualidade das composições vem de outros aspectos. O experimentalismo, outrora dinâmico, agora é feito nas texturas, nas assinaturas de melódicas diferentes do usual e nas camadas de sentimento que as harmonias de teclado provocam.

Com isso, o Moonspell renovou seu estilo sem truncar o caminho musical que vinha percorrendo, inserindo todas estes aspectos numa sonoridade moderna que chega a lembrar as explorações atmosféricas de Leprous, Ishan e Katatonia, por exemplo.

Aos meus ouvidos, “Hermitage” trouxe mais uma obra-prima para o catálogo do Moonspell: a faixa “All or Nothing”. De longe a melhor do trabalho, ela traz nos arranjos a marca climática das influências do Pink Floyd e a pegada emocional mezzo blues, mezzo hard rock, de Gary Moore no solo de guitarra.

“Without Rule”, por exemplo, tem uma abordagem que parece uma releitura moderna e desconstruída de algo inspirado por uma das músicas de “The Dark Side of the Moon”.

Alias, nesta estética musical à lá Pink Floyd e/ou Tiamat, ou seja, mais etérea, podemos ouvir novamente Fernando Ribeiro se valendo das formas mais limpas de sua voz, construindo melodias cativantes e buscando soar harmônico.

As linhas vocais mais agressivas são pontuais em cada composição, e aparecem com mais proeminência em “The Greater Good” e quase que disfarçadas em “Apopththegmata” (essa lembrando os momentos mais climáticos do The Mission) e “The Hermit Saints” (com a intensidade do prog metal atual esfumaçada pelas sombras góticas).

Muito da excelência de “Hermitage” vem do trabalho de guitarras, seja pelos riffs progressivos ou nos solos atmosféricos, e uma faixa instrumental como “Solitarian” é perfeita para se perceber isso.

Por ela, mas não só, podemos perceber como o guitarrista Ricardo Amorim captou bem a aura dos guitarristas que apostam em desenhos mais limpos e minimalistas para suas harmonias e solos, em busca do feeling, do lirismo e da beleza das possibilidades psicodélicas do blues desenhadas por mestres como David Gilmour e Gary Moore.

Esta abordagem da guitarra junto com a exploração mais destacada dos teclados cria uma profundida sombria dentro da abordagem atmosférica que cria momentos musicais preciosos para a obra do Moonspell, como nas já citadas “All or Nothing”, “The Hermit Saints”, “Entitlement”(observe atentamente o solo desta música) e “Without Rule”, além de “Hermitage” (com um groove épico).

Para gravar “Hermitage” o Moonspell foi para a Inglaterra trabalhar com o produtor Jaime Gomez Arellano (Paradise Lost, Primordial, Ghost, Sólstafir) no Orgone Studios, que conseguiu uma  impressão bem orgânica para essa personalidade atmosférica do Moonspell, amplificando todos os seus aspectos positivos.

“Hermitage” soa como um disco de transição, um lugar musical de silêncio, dor e sofrimento, mas também iluminação, contemplação e resignação.

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