Ministry – “Moral Hygiene” (2021) | Resenha

 

“Moral Hygiene” é o décimo quinto álbum de estúdio da banda norte-americana de industrial metal Ministry, lançado em outubro de 2021, três anos após “AmeriKKKant” (2018), e que chega ao Brasil pela parceria entre os selos Nuclear Blast e Shinigami Records.

Ministry - Moral Hygiene (2021, Shinigami Records, Nuclear Blast)

Al Jourgensen entrega mais um disco de sua entidade rebelde contra o status quo e qualquer tipo de conservadorismo. Neste sentido, “Moral Hygiene” é mais um manifesto de sua visão política sobre o mundo atual que se não traz o brilhantismo de seus clássicos, também não decepciona.

Este é um disco com atrativos interessantes. É o primeiro a incluir uma música cover desde “Relapse” (2012) e também marca a primeira colaboração em estúdio do baixista Paul D’Amour (que se juntou ao Ministry em 2019). No que tange à formação, ainda devemos observar que este é o primeiro álbum desde “Rio Grande Blood” (2006) a não contar com o guitarrista Sin Quirin, que deixou a banda em março de 2021 após sérias acusações de aliciar menores de idade.

Além disso, “Moral Hygiene” também inclui participações especiais do guitarrista Billy Morrison, do ex-baixista do Megadeth , David Ellefson, do ex- membro do NWA, Arabian Prince, e do lendário Jello Biafra, líder do Dead Kennedys.

E um dos grandes destaques de “Moral Hygiene” é justamente a faixa que traz a participação de Jello Biafra, “Sabotage is Sex”. A parceria entre Biafra e Jourgensen vem de longa data, com o primeiro participando de diversos discos do Ministry e a dupla trabalhando junta em projetos como 1000 Homo DJs e na banda Lard. Aqui, a dupla mostra novamente o quão uníssonas são suas visões de arte e de mundo.

Já o guitarrista Billy Morrison, não só fez um ótimo trabalho no cover dos Stooges para “Search and Destroy”, como contribuiu com diversos riffs e arranjos para várias das músicas, além de ser o artista que criou a capa de “Moral Hygiene”, inspirado na imagética sessentista do “sonho americano”.

Voltando aos destaques do disco, “Death Toll” traz uma pesada e entrópica análise sobre a pandemia da COVID-19, enquanto “Good Trouble” questiona sobre a liberdade de expressão e as manifestações que tomaram as ruas norte-americanas. Já “Disinformation” reflete, à moda agressiva do Ministry, sobre a era que vivemos onde fatos não importarem para os defensores dos “achismos”. Ou seja, Al Jourgensen mantém-se colocando o dedo na ferida do “sonho americano”, usando como ponto de partida os eventos críticos dos últimos dois anos.

Musicalmente o Ministry mantém a insanidade dos samples nas batidas e a urgência nas timbragens dos baixos e das guitarras, misturando sua influências de Killing Joke, Stooges e Dead Kennedys com a fórmula bem lapidada nos momentos mais experimentais e amenos de discos icônicos como “The Mind Is a Terrible Thing to Taste” (1989), “[Psalm 69]” (1992) e “Houses of the Molé” (2004), algo bem refletido em “TV Song #6″, “Believe Me”, “We Shall Resist” e “Alert Level”, outros bons momentos do repertório.

Tudo bem que alguns samples já soam repetitivos a esta altura da carreira, os excertos de propagandas e da mídia já não são novidades, e que o discurso político de Al pode soar esquizofrênico em certos momentos, mas esta é a essência do Ministry desde o início.

Se o impacto do ineditismo dos anos 1980 e 1990 já não é mais uma arma, creio que a crônica feita em “Moral Hygiene”, de um dos momentos mais turbulentos da sociedade norte-americana, chega em boa hora, com a energia certa e aquele inconformismo anti-conservadorismo que nunca deveria ter sido abandonado pelas bandas de rock metal. 

Se existe um crime em “Moral Hygiene” por parte do Ministry é unicamente o de se auto-repetir em termos musicais, pois a crítica veemente ainda está bem engajada, longe da alienação hedonista que muitas bandas parecem querer trazer de volta. E todo mundo sabe que o Ministry sempre foi um conceito muito além da música.

“Moral Hygiene” te incomodou, para o bem ou para o mal? Isso é o que importa! E mostra que o Ministry ainda é eficiente como um bom provocador e sua arte, assim como sua rebeldia, está aí pra isso!

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