Um dos mais populares escritores dos Estados Unidos, Kurt Vonnegut, referenciado pelo New York Times como “insubstituível na história literária norte-americana do pós-guerra”, enfim começa a ter sua obra devidamente republicada no Brasil.
Junto a “Cama de gato” (relançado em 2017), “As sereias de Titã” e “O que Tem de Mais Lindo do que Isso?” (ambos em 2018), temos agora seu mais conhecido livro, “Matadouro 5”.
Nascido na cidade de Indianápolis, no estado norte-americano de Indiana, em 1922, Kurt Vonnegut tem em “Matadouro 5”, recentemente relançado numa luxuosa edição pela editora Intrínseca, o ápice de sua obra sempre marcada por seus estudos de bioquímica, antropologia e as experiências na Segunda Guerra Mundial.
Sua biografia nos conta que em 13 de fevereiro de 1945, Kurt Vonnegut estava com outros prisioneiros de guerra num matadouro, na parte inferior, no refrigerador cheio de carcaças, de onde ouviram o bombardeio aliado a Dresden, cidade na Alemanha.
Ele se alistou no exército dois anos antes, combatendo na infantaria até ser capturado como prisioneiro dos alemães no final de 1944, na Bélgica.
Em Dresden, passou a trabalhar junto com outros soldados prisioneiros numa fábrica de xarope de malte para mulheres grávidas, e passavam a noite no que os alemães chamavam de Matadouro Cinco.
Dresden não tinha papel de importância estratégica na guerra, o que fez do ataque aliado completamente inesperado. E segundo Vonnegut contaria anos mais tarde, “quando saímos, a cidade não existia mais”!
Foram mais de 130 mil mortos, a maioria civis que Vonnegut e seus companheiros ajudaram a dispor dos corpos após o ataque. Uma experiência que não passa incólume a qualquer ser humano, gerando fantasmas e assombrações psicológicas.
O plano de Vonnegut de escrever sobre Dresden foi adiado pela falta de informações históricas, que só chegariam com precisão no ano de 1963, pelo livro de David Irving.
Mas já haviam se passado quase duas décadas e as memórias eram pouco confiáveis. Assim, em contatos com quem havia servido com ele, encontrou Bernard O’ Hare, cuja esposa teve papel decisivo na resultado final de “Matadouro 5″, inclusive inspirando o subtítulo “A Cruzada das Crianças”.
Isso tudo ele conta no primeiro capítulo do livro, antes de mergulhar na ficção científica.
Inegavelmente, o humor recheado de crítica e ironia de Kurt Vonnegut em “Matadouro 5” é um dos inspiradores do britânico Douglas Adams e seu “O Guia do Mochileiro das Galáxias”.
O personagem principal de “Matadouro 5” é Billy Pilgrim, um americano bem de vida e interiorano que viaja no tempo, para outros planetas, e revisita diversos momentos da sua própria vida.
Ponto crucial da trama, grande parte desta viagem desordenada no próprio tempo de vida se desenrola quando Pilgrim feito prisioneiro durante a Segunda Guerra, e vivenciou o bombardeio da cidade alemã de Dresden, onde tivemos o dobro de mortes causadas pela bomba de Hiroshima.
O resultado desta inusitada história é uma narrativa inigualável, fantasiosa, sarcástica, engraçada, satírica, irônica, triste e cheia de sentido.
“Matadouro 5” é um livro impossível de ser indiferente!
Seja pela naturalidade com que Vonnegut narra eventos catastróficos, como se fossem inerentes ao universo e à vida, ou pelas ideias insanas que desenvolve com didatismo e simplicidade em “Matadouro 5” como um livro de ficção científica.
Este livro é pouco convencional de formas distintas, à começar pelo primeiro capítulo em que Vonnegut nos conta porque resolveu e escolheu essa forma para escrever “Matadouro 5” – o seu livro sobre Dresden.
E mesmo tendo em Billy Pilgrim como personagem principal, o próprio Vonnegut aparece como personagem em dado momentos, misturando a ficção da narrativa de Pilgrim com a realidade vivida por Vonnegut.
Vonnegut foi perfeito ao inserir as passagens autobiográficas como ambientes para que Billy Pilgrim viva sua não-linearidade temporal, deixando claro, em uma ou duas vezes, que o narrador estava com Pilgrim nas passagens da Segunda Guerra Mundial, como um artifício psicológico.
O escritor é um fantasma em sua própria história, que enxerga em Billy Pilgrim uma projeção de si mesmo como instrumento para suportar o ato de reviver tempos tão difíceis.
“Matadouro 5” é a primeira obra a incluir passagens autobiográficas na bibliografia de Kurt Vonnegut, que são administradas com naturalidade, assim como as cenas de sexo e alegorias religiosas.
Nos livros que vieram depois, Vonnegut insere muito de sua biografia nos livros, e esta se tornaria uma de suas marcas registradas.
O autor consegue, já em “Matadouro 5”, diluir a inquietação destes movimentos autobiográficos com criatividade, dando espaço para variações de estilos, tons sarcásticos e irônicos de humor, e passagens rápidas, diretas e sem floreios.
Ele esfrega absurdos em nossa cara como quem diz que a soma de dois e dois é cinco com a certeza de saber que está errado, mas que não há nada a ser feito, pois “é assim mesmo”.
E esse “é assim mesmo” é quase um mantra que resume os ensinamentos dos tralfamadorianos, seres extra-terrestres que abduzem Billy Pilgrim, mas que já haviam aparecido no livro “As Serias de Titãs”, também de Kut Vonnegut, e lançado em 1959.
Mesmo com todo o absurdo que envolve os nativos do planeta Tralfamadore e sua parcela em “Matadouro 5”, é fato que eles são apenas uma alegoria para a filosofia apurada que existe na segunda camada do texto.
É assustador como uma escrita tão simples e direta esconde tantas nuances de existencialismo e filosofia em geral, em especial, o pensamento de Nietzsche que está indiretamente exposto na ética tralfamadoriana.
Não só isso, essas quase trezentas páginas trazem uma inteligente forma de Vonnegut instilar sua indignação com a América do pós-guerra, usando de minimalismo de discurso para reflexões humanistas que compõem uma obra singular do pacifismo.
Após ler o livro e consequentemente seu prefácio, fica a certeza de que como os eventos que Vonnegut testemunhou na Segunda Guerra Mundial impactaram-no, estendendo à sua escrita, o que faz deste “Matadouro 5” uma espécie de exorcismo psicológico.
Ou seja, “Matadouro 5” é um livro sobre a guerra. E, também, antiguerra. Porém, diferente dos livros usuais de guerra ou antiguerra.
Numa comparação direta com “Adeus às Armas”, de Ernest Hemingway, “Matadouro 5” também é um livro onde o escritor viveu o que relata, mas os pontos de vista são extremamente diferentes, principalmente no modo de descrever a guerra.
Vonnegut não se atém ao front e à sequência lógica dos eventos, sendo que “as passagens de ficção científica de ‘Matadouro 5’ são como palhaços de Shakespeare”, como ele próprio contou anos mais tarde. Ou seja, amplificam a dramaticidade dos momentos trágicos.
De modo quase contraditório, “Matadouro 5” é um dos mais importantes livros já escrito contra os horrores da guerra, o que não o impediu de ser um dos livros mais censurados e proibidos dos Estados Unidos.
Uma obra obrigatória, que está em nossa lista dos 22 livros essenciais para entender a ficção científica.
“Matadouro 5” foi adaptado para o cinema em 1972, num filme homônimo, com roteiro de Stephen Geller e direção de George Roy Hill, ambos elogiados por Kurt Vonnegut.
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