Uma das bandas mais emblemáticas do que se convencionou, nos anos 1980, como Neo-Progressivo, ao lado de bandas como IQ e Pendragon, o Marillion concretizou em seus três primeiros álbuns, clássicos absolutos da história do Rock e ao menos dois hit radiofônicos no Brasil: “Kaileigh” e “Beautiful” (esta já na segunda fase da banda, sem o vocalista Fish, e que foi até trilha sonora de novela da Globo).
Com a saída do vocalista Fish (um Peter Gabriel de sua geração) após o excelente “Clutching At Straws” (1987), Steve Hogarth, em 1989, assumiu o posto que ocupa até os dias de hoje, quando lança seu décimo quarto álbum de estúdio com a banda, o que me leva a questionar os motivos de muitos ainda o identificarem apenas como o substituto de Fish.
Sobre o título deste décimo oitavo álbum de estúdio da banda, o próprio Hogarth declarou que “a banda não tinha a intenção de soar ofensiva ou provocativa quando deu título ao álbum, sendo ‘F*** Everyone And Run’ um verso da faixa ‘The New Kings'”.
Em suas palavras, “o álbum fala de medo, de amor, de política e do mundo em que vivemos”. Musicalmente, este é um trabalho de grandes temas (três das cinco faixas ultrapassam os dezesseis minutos de duração), cheios de variações e subdivisões (um total de dezessete divisões em cinco faixas), mantendo o tom gótico e quase lúdico em meio às bases do Rock Progressivo, mas se distanciando das rebuscadas e atléticas características sinfônicas do estilo, entregando o mesmo progressivo inteligente, elegante, emocionante e longe da autovalorização, vestido numa roupagem mais moderna e tirando do ouvinte diferentes emoções dentro da mesma faixa.
Ao longo das faixas é impressionante perceber como, mesmo após todos estes anos de estrada e desilusões com o mercado fonográfico, a banda ainda possui um alto senso melódico, trabalhando muito bem suas formas musicais diferenciadas de modo acessível, trazendo o ouvinte para submergir junto com com as linhas de guitarra e as linhas vocais muito bem trabalhadas.
Isso pode ser percebido em faixas excepcionais e épicas como “El Dorado” (abertura do álbum que varia de um início primaveril, para uma viagem progressiva sutil, cheia de arranjos melancólicos diferenciados), “The Leavers” (cheia de referências oitentistas em sua subdivisões, combinadas com arranjos bem teatrais) e “The New Kings” (melhor do álbum), que desfilam linhas de guitarra na melhor escola de David Gilmour e Steve Hackett, enquanto os vocais vêm cheios de personalidade e desenvoltura.
Claro que a acessibilidade de suas melodias sempre contribuiu para o sucesso da banda e ouso dizer que se não estão em sua melhor versão neste álbum, figuram no mesmo alto nível de outrora (como evidencia mais fortemente as faixas “White Paper” e “Living In Fear”), mostrando que a mágica da banda, capaz de transformar viagens progressivas e sinfônicas em peças palatáveis por estruturas mais concisas continua intacta.
“F.E.A.R.” foi gravado no Real World Studios, que registrou nomes do quilate de New Order, Tom Jones, Muse, Placebo, Brian Eno, Joss Stone e, claro, de seu proprietário, Peter Gabriel, nome que Fish, vocalista nos quatro primeiros álbuns de estúdio da banda, sempre foi comparado, além disso, o álbum foi financiado com uma bem sucedida campanha de crowdfunding inciada em setembro de 2015.
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