Confira a proposta desta seção aqui…
Dia Indicado Pra Ouvir: Sexta-Feira;
Hora do dia indicada para ouvir: Cinco da Tarde;
Definição em um poucas palavras: Guitarra, Pesado.
Estilo do Artista: Heavy Metal.
Comentário Geral: Ah! O controverso “Turbo”… Um dos álbuns renegados do Rock/Metal que ajudam a comprovar a máxima de que o tempo é o melhor remédio para certas marcas.
E, neste caso, o tempo só reforça a qualidade do trabalho.
O Judas Priest é uma das bandas mais influentes dentro do Heavy Metal, um dos pais do gênero, numa evolução discográfica que parte da remodelagem do Blues para uma sonoridade mais pesada, que praticamente definiria o som e o estereótipo Heavy Metal na década de 1980.
Neste contexto, uma banda como o Judas Priest ousar sintetizar suas guitarras era quase um sacrilégio, uma traição aos mandamentos do “real” Heavy Metal britânico, passível de julgamentos dos fãs digno da Santa Inquisição do Metal.
As origens da banda ecoam a 1969, quando Ian Hill (baixista e único membro da banda a gravar todos os álbuns) e o guitarrista KK Downing formaram o Fright.
À época, já existia uma banda batizada de Judas Priest e Hill nos conta que “já em 1970, Al Atkins, então vocalista deste Judas Priest, passou no nosso ensaio e perguntou se precisávamos de um vocalista”.
Em 1970, com autorização de Bruno Stapenhill (baixista do Judas Priest original e criador do nome) rebatizaram o Fright como Judas Priest, adicionaram mais uma guitarra após sugestão da gravadora com quem assinaram para o primeiro álbum, e marcaram a história do gênero com clássicos como “Sad Wings of Destiny” (1976), “British Steel” (1980), e “Screaming For Vengeance” (1982), pontos de máximo de uma discografia que vinha numa crescente de peso em sua primeira década, até que chegamos em “Turbo” (1986).
“Turbo” é o décimo álbum do Judas Priest, lançado quando o mundo do Rock vivia o auge de dois gêneros diametralmente opostos: o Hard Rock e o Thrash Metal.
Enquanto era inegável a influência da banda no nascimento do segundo, o Judas Priest surpreendeu quando pendeu seu peso mais para o primeiro, explorando guitarras sintetizadas, e muita melodia acessível, o que incomodou fãs acostumados à sonoridade mais pesada.
Mas o Priest não estava sozinho nesta interseção com o Hard Rock oitentista. Ao seu lado estavam o Saxon (que também possui ótimos álbuns renegados nesta fase), o Accept, Ozzy Osbourne, o Grave Digger, o Celtic Frost (um dos precursores do Death/Black Metal), e até mesmo o motivador do crust-punk e pai do D-Beat, Discharge, que se rendeu ao potencial comercial do sleaze/glam.
Ou seja, essa era uma tendência naqueles tempos para as bandas de Metal Clássico. Até mesmo o Iron Maiden tangenciou o Hard Rock nas suas melodias da época (pegue o refrão de “Wasted Years” ou a acessibilidade de “Can I Play With Madness”). Acredito que o problema com “Turbo” passava longe da sonoridade Hard Rock, sendo, na verdade, sua textura sintetizada.
Mesmo que muitas bandas de Heavy Metal clássico se valessem de teclados, a presença deste instrumento era um espinho para os fãs, por sua associação à música pop e à pompa progressiva.
Nos shows de metal da época, mesmo que os teclados fossem utilizados, eles eram raramente vistos. Que o diga Gary Nichols e Claude Schnell, que trabalharam com bandas como Black Sabbath e DIO.
Tenho este impressão pois é inegável que o Judas Priest já utilizava melodias mais acessíveis em certos clássicos antes de “Turbo”.
Ou é negável que clássicos como “Living After Midnight”, “Breaking the Law”, e “You’ve Got Another Thing Comming” sejam talhados por uma forma mais acessível?
Os teclados e sintetizadores trouxeram para o Metal Clássico do Judas Priest tudo o que os headbangers oitentistas abominavam. A estes, a abertura de “Out In Cold”, com estética AOR, pode causar brotoejas.
Além disso, mesmo nos álbuns clássicos e formadores do gênero à cargo do Judas Priest temos sonoridades e abordagens diferenciadas, e numa análise maior dentro de toda a discografia da banda, eles sempre buscaram uma diferenciação, seja na abordagem, seja na sonoridade, mostrando uma inquietude com sua arte que atingiu o ápice em “Turbo”.
E sobre esta controversa formatação de “Turbo” Ian Hill declarara:
“A gente trabalhava pensando naquilo que podia ser um passo adiante, mas sempre mantendo a base do nosso som. Foi o que aconteceu após termos lançado ‘Defenders of the Faith'”.
E, efetivamente, salvo pela sonoridade das guitarras, é um puro disco do Judas Priest, com duas ou três faixas mais comerciais.
Como negar a essência metálica do Judas Priest numa faixa como “Rock You Around The World”, mesmo com as guitarras sintetizadas, esboçando, por um espírito primitivo e tempestuoso, o que viria a seguir na carreira da banda em álbuns como “Ram It Down” (1988) e “Painkiller” (1990).
Fato comprovado pelas composições “Ram It Down”, “Love You To Death”, “Hard As Iron” e ” Monsters Of Rock”, compostas para o projeto inicial de um álbum duplo, mas que foram retrabalhadas no álbum seguinte.
Concordo que a sonoridade perdeu força, peso e mudou a natureza de sua intensidade, principalmente nas seis cordas. E sobre a sonoridade das guitarras, Ian Hill defende dizendo que “era algo novo e que ninguém tinha testado antes”.
Em contrapartida, a exploração melódica ganhou contornos mais acessíveis, principalmente nos refrãos. Tente passar incólume, e não cantarolar os refrãos de “Turbo Lover”, “Wild Nights, Hot & Crazy Days”, e “Hot for Love”.
Além disso, Rob Halford apresentou seu melhor e mais versátil trabalho vocal desde o Hard n’ Heavy com toques progressivos de “Sad Wings of Destiny” (1976).
Àqueles que não se incomodam com os teclados e com o Hard Rock, fica claro que neste trabalho estão algumas das grandes melodias que o Judas Priest criou em toda a sua carreira.
Não há como resistir à cativante sonoridade Hard explícita em faixas como “Locked In” (preste atenção ao solo desta música), “Parental Guidance”, “Out In The Cold”, a já citada “Wild Nights…”, e “Reckless” (que confirma a impressão que sempre tive das influências do Judas Priest sobre o Ratt).
Ainda é perceptível que a aventura musical de “Turbo” deu ousadia para que desenvolvessem com mais liberdade as composições, sem se preocupar em lustrar a tábulas dos deuses do Metal, nos dando faixas esmeradas e cativantes. “Private Property” é a mostra exata deste fato, pois tem a mesma geometria melódica que o público roqueiro aplaudia no Def Leppard, mas que renegou no Judas Priest.
Claro que as letras de “Turbo” são um ponto mais fraco, esbarrando em clichês e temas menores, mas no conjunto da obra este é um álbum que merece ser redescoberto, afinal, acredito que hoje temos condições “cognitivas” suficientes de abdicar de rótulos excludentes para uma banda tão importante (com True Metal, Poser, e afins), exigindo formas certas para um gênero que sempre foi libertário e contraventor desde sua gênese.
Sem medo de errar, afirmo que “Turbo” é um dos grandes álbuns de Hard n’ Heavy da história, e definitivamente… VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!
Ano: 1986;
Top 3: “Turbo Lover”, “Parental Guidance” e “Locked In”.
Formação: Rob Halford (vocais), Ian Hill (Baixo), Dave Holland (Bateria), KK Downing e Glenn Tipton(Guitarra).
Disco Pai: Thin Lizzy – “Chinatown” (1980)
Disco Irmão: Iron Maiden – “Somewhere In Time” (1985)
Disco Filho: Judas Priest – “Priest… Live” (1987)
Curiosidades: A empresa Roland procurou a banda e propôs que fossem os primeiros a testar o novo modelo de guitarras sintetizadas desenvolvido pela marca. Era um sintetizador tocado através da guitarra.
Recentemente, tivemos um relançamento comemorando os trinta anos de seu lançamento, em versão tripla, trazendo um áudio de um show da Fuel For Life Tour, em maio de 1986.
Pra quem gosta de: Paredões de Marshall, vocalistas que entram no palco montados em Harley, mullets, e guitarra sintetizadas.
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O maior problema de “Turbo” foram os fãs, de resto, o texto ressalta de forma objetiva as qualidades do álbum. Parabéns.