Johnny Winter | 5 Discos Pra Conhecer o Bluesman Albino

 

Nascido vesgo e albino, Johnny Winter (John Dawson Winter III) desconsiderou a indelicadeza da Mãe Natureza para forjar uma carreira como um dos poucos grandes blues-rockers brancos. Apesar do cenário ter mudado um pouco após o advento da cena britânica na década de 60, o blues sempre foi associado aos músicos negros.

Neste contexto, um guitarrista albino precisava mostrar uma técnica mais que apurada, junto a um feeling particular, para ser respeitado como um verdadeiro músico de blues dentre os grandes nomes do estilo.

Johnny Winter realizou tal feito, construindo uma discografia irrepreensível, tanto como músico, quanto como produtor musical e desfilou seu estilo único e raivoso ao lado de nomes como Muddy Waters, Sonny Terry e Big Walter Horton, três dos maiores nomes da história do blues.

Em meados da década de 60, Johnny Winter colocaria seu nome na constelação das seis cordas, sendo pareado a guitarristas do quilate de Jimi Hendrix, Jeff Beck e Duanne Allman, se tornando um dos maiores expoentes do blues rock, intercalando o blues genuíno com elementos do hard rock setentista, o que o fez ser respeitado e admirado dentro da cena mais pesada do gênero.

Hoje, apresentamos cinco álbuns que servem de iniciação para a música de Johnny Winter, um dos únicos guitarristas do blues tão alvos quanto o algodão dos campos que assistiram o nascimento do estilo.

Johnny Winter: O Início da Carreira

Nascido vesgo e albino, Johnny Winter (John Dawson Winter III) desconsiderou a indelicadeza da Mãe Natureza para forjar uma carreira como um dos poucos grandes blues-rockers brancos.

Johnny Winter começou a tocar clarinete aos 5 anos, mas mudou brevemente para o ukelele. Foi seu pai que sugeriu a troca do ukele pela guitarra.

Depois da escola, Johnny entrou na faculdade técnica de Lamar e se especializou em um ramo comercial. Mas quase todo fim de semana ele pegava carona até Louisana para tocar em pequenas boates. Seis meses depois, ele desistiu dos estudos e se dedicou à música.

Quando largou o Lamar State College, Johnny Winter e foi para o norte, para Chicago, para se juntar à banda de seu amigo Dennis Drugan, The Gents, mas no final de 1963 ele estava de volta ao Texas.

Crescendo entre Beaumont e Houston, onde desde os primeiros anos ouviu os sons ricos e pungentes do blues negro e da música gospel do Texas.

Ele também aprendeu os licks de country com Luther Nalley, um funcionário da loja de música Beaumont, bem como os do rock do final dos anos 1950.

Aos 11 anos, junto com o irmão Edgar, se apresentou como uma dupla no estilo Everly Brothers e montou a banda Johnny Macaroni e The Jammers, em 1959 (também conhecida como Johnny Winter’s Orchestra).

Seu talento foi reconhecido desde cedo. Johnny venceu o concurso “Johnny Melody” realizado pela estação de rádio KTRM. Junto com a publicidade, Johnny teve a chance de se destacar gravando um single.

Depois de decidir por duas músicas, a banda gravou “School Day Blues” e “You know I love you” na Dart Records. Ambos tiveram alta classificação nas paradas em Beaumont.

Isso realmente deu um impulso ao Johnny and the Jammers que na época era composta por Johnny Winter, Edgar Winter, Willard Chamberlain, Dan Polson e Melvin Carpenter. Porém, os membros da banda mudaram várias vezes durante 1960 e 1964.

Posteriormente, o Johnny Winter e The Jammers gravou as músicas “Creepy” e “Oh my Darling”, num single que foi classificado em 7º lugar no KRIC. Nesta época Winter tornou-se um grande sucesso regional e Winter se viu abrindo para grandes bandas como “The Everly Brothers” e “Jerry Lee Lewis”.

Mas a paixão de Johnny era o blues. Tanto que ele pegou carona até a Louisiana, onde apoiou músicos locais de blues e rock, e no início dos anos 1960 viajou para Chicago.

Mesmo assim, Johnny Winter continuou a tocar e gravar R&B texano ao longo de toda a década de 1960, muitas vezes com o irmão Edgar Winter.

Com isso ele foi ganhando uma forte reputação local como guitarrista, conquistando um bom salário acompanhando lendas do blues no palco e no estúdio, além de ser um sideman de muitos artistas e grupos da área do Texas.

A Carreira Solo de Johnny Winter

Por volta de 1967/1968 Jonny Winter se juntou ao baterista Tommy Shannon (que mais tarde tocou com outro virtuose da guitarra do Texas, o falecido Stevie Ray Vaughan) e o baterista “Uncle” John “Red” Turner  para fazer uma turnê pelo estado do Texas.

Quando os jovens britânicos começaram a transformar o blues na moda, criando um movimento batizado por British Blues, Winter foi para a Inglaterra com uma fita demo gravada pelo trio no Sonobeat na esperança de fazer seu nome no exterior.

Com pouco sucesso no Reino Unido, ele voltou aos Estados Unidos para descobrir que o artigo da Rolling Stone mencionado anteriormente tinha saído rasgando elogios à sua abrodagem.

Em 1968, Larry Sepulvado e John Burks descreveram Johnny Winter na Rolling Stone:

“Imagine um bluesman albino de 130 libras, olhos vesgos e cabelos compridos felpudos tocando algumas das guitarras de blues mais corajosas que você já ouviu.”

Este cometário veio junto com o álbum “The Progressive Blues Experiment”, lançado em 1968, e que deu início, de fato, à sua carreira solo, uma compilação de velhas gravações

Este destaque na imprensa britânica chamou a atenção da Columbia nos Estados Unidos e, em 1969, ele assinou com o selo por supostos US$300.000, e logo lançou seu primeiro LP autointitulado.

“Ele tocava blues, um verdadeiro blues impulsionador que trazia o peso de Chicago e suas linhas dançantes dançando melodicamente sobre ele”, escreveu Gene Santoro em “The Guitar: The History, The Music, The Players”. Santoro acrescentou que Winter “forçou os guitarristas de rock mais uma vez a prestar atenção em sua herança musical e a extrair dela”.

5 Discos Para Conhecer Johnny Winter

1) “The Progressive Blues Experiment” (1968)

O primeiro álbum de um artista é sempre importante para uma iniciação e aqui não será diferente. O debut de Johnny Winter já causou frisson no cenário blues rock.

Pouco lembrado dos entusiastas de sua música, temos aqui a essência de Johnny Winter em estado puro, como fica evidente na composição “Black Cat Bone”.

A banda principal que gravou o álbum e que acompanhou Johnny Winter era completada em power trio por Tommy Shannon (que mais tarde integraria o Double Trouble de Stevie Ray Vaughan) no baixo e “Uncle” John Turner na bateria.

O que faz deste álbum brilhante é o estado bruto da interpretações que seriam lapidadas já no próximo álbum, onde Winter poderia transformar toda a potência dos sentimentos de uma vida diferente dos demais em música.

Além das cinco canções de autoria do guitarrista, ainda somos agraciados com cinco honestos covers de nomes como B. B. King e Sonny Boy Willianson. Após o lançamento deste primeiro álbum, Johnny Winter se dirigiu até a Inglaterra para conhecer e absorver a cena musical que crescia enraizada  no blues.

Dentre os destaques temos um visceral cover para Rolling And Tumbling, uma homenagem a Muddy Waters em Tribute To Muddy calcada em fortes elementos clássicos do blues, a absurdamente fenomenal Bad Luck And Trouble em tons acústicos e o já citado clássico Black Cat Bone.

Para muitos esta obra era a experiência americana em resposta ao que Jimi Hendrix experimentava numa ilha do outro lado do Atlântico.

2) “Johnny Winter” [Black Album] (1969)

Quando este álbum foi lançado a platéia interessada no blues-rock foi tomada de assalto pela qualidade apresentada naquelas canções.

Acordes dignos das maiores mágicos do  blues fizeram com que sua técnica fosse comparada aos grandes nomes das seis cordas que se estabeleciam no crepúsculo da década de sessenta.

Talvez o êxito como bluesman venha do fato de Johnny Winter ter experimentado todos os sentimentos que alimentam os bons acordes do blues desde sua segunda infância. Por consequência, canções como “Mean Mistreater”, “I’m Yours, and I’m Hers”, “Leeland Mississippi Blues”, “Good Morning Little School Girl” e “Be Careful With a Fool” transpiram emoção latente em cada nota exposta por uma das seis cordas da guitarra de Winter.

Como se toda a técnica instrumental do guitarrista não fosse o bastante, ainda temos as ilustres presenças de Willie Dixon (tocando seu baixo acústico na canção Mean Mistreater), Big Walter Horton (desfilando toda a sua técnica e malícia na harmônica presente na canção Mean Mistreater) e seu irmão Edgar Winter (que tocou piano em Mean Mistreater e sax alto em  Good Morning Little School Girl).

Outro detalhe que não pode deixar de ser observado é a produção a cargo do próprio Winter, função que também se destacaria ao ponto de produzir grandes álbuns de Muddy Waters.

Numa primeira audição, tudo neste álbum parece remeter a um simples blues texano, mas a cada nova degustação o sabor vai se sofisticando e o que antes era apenas mais um disco de blues capitaneado por um guitarrista albino, se torna tão raro e belo quanto uma pérola negra.

3) “Second Winter” (1969)

Este álbum tem a peculiaridade de ser duplo na versão em vinil, mas ter apenas três lados, deixando a última face do segundo disco em branco.

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Estranho, mas providencial! Afinal, após a intensidade das composições apresentadas, um tempo de silêncio se faz necessário para recuperar da performance acachapante de clássicos do Rock como “Highway 61 Revisited”, de Bob Dylan, “Miss Ann”, de Litte Richards, e “Johnny B. Goode”, de Chuck Berry.

Nestas três releituras já temos a exata dimensão de como Winter lapidou suas influências de Muddy Waters, principalmente no uso do slide, como bem evidenciam as ótimas  “I Love Everybody” e “Slippin’ and Slidin” (que traz seu irmão Edgar Winter num lascivo e tempestuoso arranjo ao piano).

Este álbum elevou o patamar de Johnny Winter dentro da cena de guitarristas de destaque no fim dos anos 1960, dando mais identidade a seu estilo rústico de ferir as seis cordas, além de ser seu ponto de virada artístico e comercial.

4) “Still Alive and Well” (1973)

Só ouça a faixa-título, um Blues/Hard Rock pegado, e me responda, tem como um álbum que tem essa música ficar de fora desta lista? Instigante, furiosa, e intransigente, esta faixa é o puro estilo Blues de Johnny Winter, que também aparece em “Rock Me Baby” e “Rock & Roll”.

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Todavia, nosso albino do Blues também já se mostrava aberto a novos elementos em sua música, como o country (em “Ain’t Nothing to Me”), o AOR (em “Cheap Tequila” com um dos melhores trabalhos melódicos que realizou em sua carreira), e progressivo (“Too Much Seconal” traz arranjos de flauta e e bandolim).

Esta versatilidade é inspirada pela liberdade de um músico que havia conseguido abandonar o vício em heroína, e tinha suas habilidades criativas amplificadas e personalidade musical fortificada, mesmo no já citado cover de B. B. King (“Rock Me Baby”) e no desfecho com “Let It Bleed”, dos Rolling Stones, reformulando-as à sua maneira.

5) Muddy Waters, Johnny Winter & James Cotton: “Breakin’ It Up, Breakin’ It Down”. (2007)

Com uma prolífica carreira, Johnny Winter já era um renomado e gabaritado guitarrista quando se recolheu do cenário para tratar dos problemas com drogas.

Voltou à cena na primeira metade dos anos setenta, mas somente conseguiu retomar o respeito de público e crítica, após se aliar à lenda do blues Muddy Waters.

Se tornou o  produtor do retorno aclamado da lenda viva, que resultou em alguns dos melhores lançamentos de Muddy. Neste álbum ao vivo temos gravações desta fase que, após o álbum Hard Again, os dois, Muddy e Winter, junto de James Cotton, se viram em uma histórica turnê que envolvia três grandes nomes do estilo.

A energia que emana destas gravações, lançadas em 2007, teria capacidade para iluminar uma cidade inteira, tamanha a força das execuções das canções e da performance de cada músico.

A abertura com Black Cat Bone/Dust My Broom é de arrepiar qualquer ser humano que tenha um sopro de vida e um coração a bater, enquanto, Caledonia e Rocket 88 nos fazem querer agitar como se não houvesse amanhã.

Não bastante, ainda somos presenteados com impecáveis execuções de Can’t Be Satisfied e Goy My Mojo Workin’, dois clássicos máximos da história do blues. Indispensável como quase toda a obra dos três nomes principais estampados na capa deste álbum.

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