“O Manuscrito de Saragoça”, clássico livro de JAN POTOCKI é nossa indicação de hoje da seção VOCÊ DEVIA LER ISSO, cuja proposta você confere nesse link.
Palavras-Chave: gótico, literatura polonesa, Século XIX, fantasia, Espanha.
Estilo Literário: Romance Gótico
Ano da 1ª Publicação: 1805
Sobre o Escritor: Jan Potocki (1761-1815), aristocrata polaco, frequentador da alta sociedade cosmopolita europeia de finais do século XVIII, foi um político iluminista, ligado aos ambientes jacobinos, mais tarde conselheiro privado do Czar Alexandre I.
Estudioso da Antiguidade, viajante incansável, verdadeiro homem do iluminismo, autor de importantes obras de aspecto etnográfico (é considerado o fundador da arqueologia eslava), bem como de vários livros de viagens, Potocki é, sobretudo, lembrado como o autor do célebre “O Manuscrito de Saragoça”, obra escrita originalmente em francês.
Síntese da Obra: Em meio às guerras de conquista de Napoleão, no início do século XIX, um oficial do Exército francês acha numa casa abandonada na cidade de Saragoça, na Espanha, um manuscrito com as páginas espalhadas pelo chão.
Começa a ler e fica totalmente absorvido, mesmo estando escrito em espanhol, língua da qual ele pouco entende.
Leva consigo os manuscritos, e logo depois é preso por inimigos espanhóis, e sob o julgo de um capitão, que descobriu que os manuscritos contavam as histórias de um de seus ancestrais.
A pedido do prisioneiro o militar traduz a obra para o francês. E é a história deste manuscrito que nós lemos nesse épico.
Pelas terras da Espanha acompanhamos as aventuras de Alphonse van Horden, filho de um oficial de prestígio do reinado espanhol que sai de sua localidade em terras francesas para se apresentar ao rei.
Mas durante a viagem se depara com situações que desafiam sua sanidade e fé no cristianismo.
Por vários momentos ele se pergunta se, de fato, viveu os acontecimentos ou se não passaram de sonhos ou alucinações.
Em uma das etapas de sua jornada, ele deve cruzar a Serra Morena, onde o espera um mistério labiríntico que deverá desvendar e que o embarcará numa aventura sem precedentes.
Comentário Geral: Considerado por Ítalo Calvino como um dos livros mais importantes do século XIX, “O Manuscrito de Saragoça” se situa no baricentro do triângulo formado pela síntese do Iluminismo, o romantismo gótico e uma antevisão do modernismo.
Nas palavras de Calvino:
“Nos primórdios do novo gênero literário, Potocki sabe exatamente aonde ir: o fantástico é a exploração da zona obscura em que se misturam as pulsões mais desenfreadas do desejo e os terrores da culpa; é a evocação de fantasmas que mudam de forma como nos sonhos; ambiguidade e perversão.”
Este volume extremamente significativo, que já foi editado com títulos diferentes e referenciado a vários autores, dentre eles Washinton Irving (autor de “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”), se divide em histórias cujos temas variam do erotismo ao terror, do filosófico ao humorístico, do surrealista ao concreto.
“O Manuscrito de Saragoça” acabou surgindo de forma truncada à partir de 1804, muito por causa do suicídio do autor em 1815.
Os originais franceses perderam-se, depois foram reivindicados por outros autores, novas partes surgiram, com contestações sobre a real autoria dos textos, até que em 1847 teria chegado ao conteúdo completo, numa versão traduzida para o polonês e publicada em Leipzig, na Alemanha.
Na trama, o personagem principal, Alphonse van Worden, passa por aventuras envolvendo personagens exóticos: ciganos, ladrões, cabalistas, as gêmeas mouras (que são descritas com uma extrema sensualidade), uma conspiração mística sobrenatural, os enforcados irmãos De Zoto (conhecidos como Los Hermanos ), o demoníaco Pacheco.
O caráter de mistério é o que mais atrai o leitor, mesmo que este não entenda vários dos simbolismos que possuem interpretações esotéricas instigantes. É como se testemunhássemos o ritual iniciático de um neófito em alguma sociedade secreta.
Além dessa estranheza fascinante e do ambiente tenso desde o início, existe um humor refinado por essas páginas.
Durante muito tempo não sabemos até que ponto Alphonse está delirando e o que realmente ocorreu.
Se é que algo ocorreu.
Se você encontrar esse livro completo em algum lugar compre-o, pois, definitivamente você devia ler isso!
Passagem Marcante: “A História do Demoníaco Pacheco” apresenta a história de um dos muitos personagens do livro e que funciona quase como um conto de terror do Século XIX isolado, mesmo que ele tenha laços com a trama de Alphonse.
Se fosse um conto isolado, seria um dos melhores de sua época, ao lado dos grandes contos de Edgar Allan Poe e E. T. A. Hoffman.
Livro Pai: Boccaccio – “Decamerão”
Livro Irmão: Edgar Allan Poe – “Histórias Extraordinárias”
Livro Filho: Ítalo Calvino – “O Castelo dos Destinos Cruzados”
Curiosidades: 1) Uma das mais significativas obras da literatura gótica, “O Manuscrito de Saragoça” foi escrito por um autor polonês e originou um filme cult, pra não dizer desconhecido, em sua terra natal.
2) Infelizmente, todas as edições brasileiras de “O Manuscrito de Saragoça” são incompletas, com apenas 14 narrativas das 66 que compõe a obra completa. Em português, apenas a edição publicada em Portugal, em dois volumes, pode ser encontrada na íntegra.
Para Quem Gosta de: histórias de terror, pioneirismo, alquimia, castelos europeus e lendas.
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Nunca tinha lido nada sobre essa obra,deve ser no mínimo intrigante.