“Heart of the Ages”, clássico primeiro disco da banda IN THE WOODS…, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Noruega, climático, folk, pagão, guitarras e efeitos.
Estilo do Artista: Black Metal
Comentário Geral: Originalmente, o In The Woods foi formado pelos músicos que fundaram outra banda importante para o cenário norueguês, o Green Carnation, que teve uma vida curta entre 1990 e 1991, até ser reativada em 1998.
Ou seja, o In The Woods emergiu no auge da cena norueguesa do black metal, em 1991, pelas mãos dos jovens Anders Kobro e o irmãos Christopher e Christian Botteri.
Porém, desde o início, o In The Woods quis se desviar da retórica fanática e extremista que assombrava a cena norueguesa.
Tanto que em meados dos anos noventa o In The Woods era uma das primeiras bandas a se rotular como pagan metal, numa forma clara de não se limitar pelas normas ensimesmadas do black metal e desviar da obrigatoriedade satânica do estilo.
Anos mais tarde a banda olharia para essa situação da seguinte maneira:
“Em termos de estilo éramos semelhantes ao Black Metal, mas aquela cena era um pouco retardada para nós. Não gostávamos da negatividade e da imagem do Black Metal (tentando ser “mal” e tudo mais). Então, nos distanciamos disso muito rapidamente.”
Entretanto, musicalmente, eles não traziam a instrumentação diferenciada e o acento folk que caracterizaria as bandas colocadas sob o rótulo de pagan metal.
Sobre essa questão do estilo adotado ser ou não black metal, Anders Kobro relembra:
“Naquela época, você tinha o Inner Circle e sabíamos quem eles eram. Era para soar mórbido e sabíamos que éramos melhores do que isso. Além disso, se fosse Black Metal, para eles, você tinha que ter letras satânicas com esse tema, e não éramos satânicos. Portanto, não nos chamamos de Black Metal.”
Com isso em mente, o In The Woods se mostrou como um versão nada radical do black metal, aberta a misturas, se tornando um rebelde dentro da rebelião.
Até por isso, ergueram uma discografia tão rica e diversificada que é impossível rotular a banda nos dias atuais, tamanho o vanguardismo de sua música.
Uma discografia que começa aqui, em “Heart of the Ages”, disco lançado em abril de 1995, e traz uma importância de estilo e abordagem para o black metal.
A inventividade da banda em mergulhar os aspectos negativos e ríspidos no prog rock e inserir uma névoa pagã deve ser louvada, mesmo que gere uma dificuldade de rótulo.
Olhando para trás, é difícil encaixa-los na cena black metal, pois nem a postura, ou as letras, e muito menos as música evocam a estética do gênero.
Mas na época, como podemos entender das palavras de Anders Kobro, não havia outro local onde coloca-los que não fosse na prateleira norueguesa do black metal:
“Em 1992, tudo era tumultuado na cena norueguesa. As gravadoras estavam procurando pela próxima banda norueguesa de Black Metal. O In The Woods não foi percebido, pois nosso disco de estreia foi estilisticamente semelhante a muitas bandas de Black Metal, mas assim que foi lançado começamos a nos desenvolver como artistas, ao invés de estagnar como muitas das bandas de Black Metal”
Tudo em “Heart of the Ages” soa mais complexo, profundo, multifacetado tanto em influências quanto em personalidade própria, aqui impulsionada não só pelas influência fora do metal extremo, mas pela coragem de mesclar vocais gritados do black metal com linhas limpas, além de desenvolver melodias sofisticadas nas guitarras.
Claro que ouve-se algo de Bathory, Enslaved, Darkthrone e Emperor, mas também temos elementos atmosféricos de space rock, trip hop e progressivo, advindo de nomes como Portishead, Pink Floyd (“Mourning the Death of Aase” parece ser sua versão de “The Great Gig In The Sky”)e Hawkwind, e algumas inspirações eruditas nas passagens guiadas por sintetizadores.
Toda essa mistura está magistralmente desenhada já na abertura, “Yearning the Seeds of a New Dimension”, uma composição imersiva em seus mais de doze minutos.
Seus primeiros minutos lembram muito o Pink Floyd da fase pré-“The Dark Side of the Moon”, ao mesmo tempo que trazem para o jogo primal do black metal (que vai aparecer só lá pelos sete minutos de música) algo mais depressivo, tridimensional e climático. Tirando beleza da decadência, da anti-musica e da melancolia.
Só essa abertura já era capaz de mostrar como o In The Woods estava anos à frente de vários congêneres no que diz respeito à maturidade, mas eles ainda ofereciam uma faixa-título que sobrepunha texturas de uma forma que soa moderna até hoje, além de faixas como “Wotan’s Return” (um épico pagan/black metal de quase quinze minutos) e “The Divinity of Wisdom”.
“Abraçamos o ambiente, a extremidade, a serenidade, a filosofia, tudo isso enquanto nos divertimos sendo criativos”, eles próprios admitiriam anos mais tarde.
A intenção de escapar do modus operandi do metal extremo é declarada ao longo de todas as composições, mesmo com a sonoridade crua e ríspida, simplesmente pela forma desafiadora que os músicos as desenham e com isso, desafiavam sua audiência.
Ouça “…in the Woods (Prologue / Moments of… / Epilogue)” e me respondam se ela não é um perfeito exemplo dessa observação?
Claro que o “Heart of the Ages” traz a excelência que veríamos mais à frente de uma forma não-lapidada, quase como fruto de tentativa e erro. Após mais dois álbuns, “Omnio” (1997) e “Strange in Stereo” (1999), eles entrariam num hiato à partir do ano 2000.
Só ouviríamos um novo disco do In The Woods em 2016, intitulado “Pure”, um disco altamente progressivo.
Ano: 1995
Top 3: “Yearning the Seeds of a New Dimension”, “…in the Woods (Prologue / Moments of… / Epilogue)” e “Heart of the Ages”.
Formação: Ovl. Svithjod (vocais), Christian “X” Botteri e Oddvar A:M (guitarra), Christopher “C:M.” Botteri (baixo), Anders Kobro (bateria) e Synne “Soprana” Larsen (vocais femininos).
Disco Pai: Bathory – “Blood Fire Death” (1989)
Disco Irmão: Ved Buens Ende – “Written in Waters” (1995)
Disco Filho: Green Carnation – “Journey to the End of the Night” (2000)
Curiosidades: Segundo Anders Kobro, o In The Woods iria assinar com a Deathlike Silence, de Euronymous, na época:
“Deveríamos assinar com a Deathlike Silence Productions naquela época. O famoso split-LP Emperor/Enslaved era supostamente para ser In The Woods…/Enslaved. Não me lembro por que isso não aconteceu, a Avantgarde Records também estava interessada na banda, mas acabamos na Misanthropy Records”.
Pra quem gosta de: Florestas frias, nevoeiros, paisagens escandinavas, paganismo e quebrar regras.
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Marcelo.
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Felipe