“Helloween” é o homônimo e décimo sexto álbum de estúdio da banda alemã de power metal, lançado em 18 de junho de 2021, o primeiro com a formação “Pumpkins United”, que marcou o retorno de Kai Hansen e Michael Kiske à formação que mantinham desde 2005. No Brasil, o disco foi lançado pela parceria entre os selos Shinigami Records e Nuclear Blast.
Talvez disputando apenas com “Senjutsu”, do Iron Maiden, “Helloween” era o disco mais aguardado de 2021 no mundo do heavy metal.
A espera era justificada, pois o Helloween é uma das poucas bandas dentro do heavy metal que pode se gabar de ter dado forma a um afluente do estilo, nesse caso o power metal melódico.
Além disso, “Helloween” seria o primeiro disco de Kai Hansen, membro fundador da banda, desde o clássico “Keeper of the Seven Keys: Part II” (1988), e o primeiro de Michael Kiske desde o controverso “Chameleon” (1993).
Para situar o leitor em todo o contexto deste disco, vamos voltar para o final 2016, ano que trouxe uma verdadeira bomba de expectativa para os fãs de heavy metal, pois o Helloween anunciava uma turnê que traria a formação da banda em atividade junto aos dois ex-vocalistas icônicos: Kai Hansen, também guitarrista, e Michael Kiske.
A anunciada turnê, batizada como “Pumpkins United World Tour”, unia todas as fases da banda no palco, durou pouco mais de um ano, com 69 shows, ao longo de mais de trinta países, e frutificou em “United Alive”, o disco ao vivo que registrou este momento.
Os fãs que já estavam extasiados em poder ver essa reunião gravada em áudio e vídeo foram agraciados com o anúncio de um um novo álbum de estúdio com esta mesma formação.
Primeiro veio o single de “Skyfall”, faixa responsável por fechar o disco. Um épico de doze minutos, esta composição de Kai Hansen tinha a marca das longas e trabalhadas faixas finais de seus grandes clássicos, além de um trieto entre Hansen, Kiske e Deris.
Olhando aqui do futuro, com o álbum em mãos, não tenho medo de dizer que se tivessem lançado só esse single já teria valido a pena, tamanha a qualidade desta música que tem o DNA do Helloween em cada traço. Mas nem isso me preparou para o que eu ia ouvir nas outras onze faixas do repertório (contando com o interlúdio de “Orbit”).
Se por um lado “Skyfall” fechará o trabalho com a marca progressiva de Kai Hansen, “Out of the Glory” é a faixa de abertura com a marca épica, rápida e melódica da fase Michael Kiske, com aquele espírito oitentista do Helloween diretamente herdado do Judas Priest.
Até por essa forma com que começa e termina “Helloween” é impossível não lembrar das duas partes de “Keeper of the Seventh Keys”. Todavia, não vá esperando um auto-plagio ou um tom anacrônico, pois aqui temos uma banda que reverencia seu passado, mas segue em frente.
Uma faixa como “Angels”, por exemplo, além de ser uma das melhores do disco, mostra que eles estão encaixados na modernidade do heavy metal, numa música com a marca do Helloween, mas cheia de nuances e atributos que dão um tom ousado, atual e progressivo.
Porém, o grande hit do disco será, sem dúvidas, “Best Time”, certamente capaz de figurar ao lado de clássicos como “I Want Out”, “Dr. Stein”, “Power” e “If I Could Fly” nos futuros shows e no coração dos fãs.
Aliás, “Helloween” é um disco feito para o fã da banda, em cada um de seus mínimos detalhes.
No geral, ele soa como se “Walls of Jericho” (1985), as duas partes de “Keepers of the Seven Keys”, “Master of the Rings”, “The Time of the Oath” e “The Dark Ride”, fossem desconstruídos, amalgamados e reconstruídos para os ouvidos da nova geração (algo que está bem marcado pontualmente em “Down in the Dumps”, por exemplo).
Assim, não seria exagero dizer que o Helloween, quase quatro décadas após criar o power metal melódico, faz uma releitura do estilo e atualiza todos os cânones, timbres e estruturas com maturidade, além de desenvolver muito bem a dinâmica entre seus três vocalistas, cujas vozes se completam.
Uma audição atenta em faixas como “Fear of the Fallen” (Que riff! Que refrão!), “Mass Polution” (um metalzão cheio de energia e peso), “Rise Without Chains” (um power metal puro), “Indestructible” (com a marca oitentista do Helloween), “Robot King” (pesadíssima) e “Cyanide” (outra com cara de hit) será o suficiente para perceber como o Helloween renovou a dinâmica entre peso, melodia e refrãos brilhantes criada por eles próprios.
Cabe aqui, de antemão, um elogio ao excelente trabalho em estúdio que harmonizou perfeitamente as três guitarras (de Michael Weikath, Kai Hansen e Sascha Gerstner), sendo possível seguir o trabalho de cada um deles pelas suas identidades bem marcadas.
Os três guitarristas desenham um diálogo moderno dentro de sua proposta musical, sustentado pela seção rítmica que não se rende a artifícios fáceis como os bumbos duplos tão banalizados no power metal (aliás, preste muita atenção ao trabalho brilhante de Dani Löble, principalmente em “Robot King”).
“Helloween” foi gravado em Hamburgo, no HOME Studios, com produção de Charlie Bauerfeind e co-produção de Dennis Ward. Já a mixagem aconteceu em Nova York, no Valhalla Studios, por Ronald Prent.
O tom de recomeço, de renascimento do Helloween, é dado desde o título simples, criando um novo marco na discografia da banda, assim como a atualização de sua personalidade é proposta já no belíssimo trabalho gráfico construído sobre os simbolismos presentes na sua obra.
Serão poucos anos para que este disco seja aclamado como um clássico do heavy metal!
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