“Refueled” é o álbum de estréia da banda Godhound que carrega consigo todo o legado do rock/metal nordestino em oito composições diretas e com clima estradeiro!
“Refueled” foi lançado em agosto de 2022 de forma independente pela banda Godhound e abaixo você confere nossa resenha completa deste álbum.
O Godhound chama a atençao de cara com seu primeiro álbum, “Refueled”, por dois motivos: primeiro pela maturidade já impressa neste primeiro passo discográfico e, em segundo lugar, pela forma segura com que mescla influências e abordagens, mesmo sendo fácil rotulá-los como uma banda de stoner que oscila entre o rock e o heavy metal com destreza, objetividade e determinação.
Ou seja, temos uma banda consciente da musicalidade que quer praticar. Neste sentido, temos um conjunto potente de oito composições alicerçadas sobre as possibilidades mais cruas e diretas do rock, impulsionado pela energia e pela estética inerente ao heavy metal, mesclando referências clássicas de Motorhead, Deep Purple, Black Sabbath e Iron Maiden (da era Paul Dianno) por exemplo, com outras mais modernas, como o Volbeat e o Airbourne (principalmente no timbre e na forma de encaixar as linhas vocais).
O Godhound é oriundo de Natal (RN) e foi formado pelos irmãos Kael Freire (vocal e baixo) e Victor Freire (guitarra), ainda quando estavam na faculdade, junto com Vitor Assmann (guitarra) e Lázaro Fabrício (bateria). Nesta época de funação do Godhound, em algum momento da segunda metade do ano de 2010, a formação era um quinteto e trazia o vocalista Hilton Trindade. Porém, a formação se estabilizou como um quarteto, com Kael assumindo os vocais e, mais de uma década depois, lançando “Refueled” (2022).
O disco abre com um introdução que te insere num clima estradeiro, empoeirado, oleado e quente do trabalho. “Gravestone”, a faixa de abertura, não deixa dúvidas de que estes caras seguirão pelo caminho musical desbravado pelo Black Sabbath e pavimentado por nomes como Trouble, Spiritual Beggars e Cathedral, por exemplo. Porém, esta mesma abertura me deixou com a impressão de que o trabalho em estúdio poderia ter potencializado melhor o peso das músicas, dando mais corpo aos graves, sem perder a organicidade. O disco foi gravado e produzido pelo próprio baixista e vocalista Kael Freire e masterizado por Fernando Delgado. Já a belísisma arte de capa foi desenhada pelo grande artista Wildner Lima (Kiss, Mötley Crüe, Ministry, Clutch, etc) e, segundo o press release, “representa o desejo da banda em retratar a relação de pertencimento com a região nordeste, assim como ao semiárido, ao sertão e o clima seco da cidade de Mossoró”.
O que temos nestas oito composições que completam “Refueled” é um desfile dos ensinamentos sabáticos desdobrados pela estética do stoner rock/metal, mas distante daquela psicodelia quase etérea ou do excesso de dos timbres fuzzeados. Aqui, a aura de entorpecência febril, desértica e astral, de peso aprazível e envolvente é trocada pela energia determinada do heavy rock com cheiro de óleo de motor, sabor de cerveja barata e calor do sol queimando o asfalto. Acha que estou fantasiando? Ouça “Diesel Burner” e tente não criar esta imagem na sua cabeça.
A base das músicas segue a fórmula de linhas grovadas, melodias envolventes sobrepostas a uma bateria pulsante, além de variações de andamentos dinâmicas e timbre vocal rouco como se curtido em álcool por 18 anos. Isso tudo constroi faixas como “Warriors”, “Open Letter” (se os vikings usassem motos e não barcos, o viking metal seria assim) e “Deathmask Trucker” (faixa arrojada que traz a participação do vocalista Jimmy London – ex-Matanza), que junto às demais faixas citadas anteriormente, são os destaques de “Refueled”, um disco forjado por um entidade heavy rock muscular e suja que funde Black Sabbath e Motorhead com Kyuss e Stoned Jesus.
Em suma, abusando dos clichês do estilo, o Godhound consegue forjar ótimas composições em “Refueled”, um disco que tem a vantagem de não se alongar desnecessariamente (pecado cometido por metade das bandas de stoner rock/metal) e ser um ótimo cartão de visitas para quem gosta do seu heavy rock empoeirado, sujo de óleo, cheirando a cerveja e com aquele aspecto de música para anti-heróis, pois, no geral, mesmo que em momentos pontuais falte energia (como no início de ‘Rockin’ Spirit) o som é competentíssimo.
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