“Fahrenheit 451” é um clássico cult do cinema no Século XX, baseado na obra visionária e basilar para a ficção científica de Ray Bradbury.
A adptação para o cinema de “Fahrenheit 451” foi empreendida pelo cineasta francês François Truffaut, um dos pilares da Nouvelle Vague e um dos maiores nomes do cinema no século XX.
Ao contrário do que possa parecer, esta adaptação é tida como um trabalho menor do autor de obras-primas como “Os Incompreendidos” (1959), “Jules e Jim: Uma Mulher para Dois” (1962) e “A Noite Americana” (1973).
Porém, esse filme, além de ser a única passagem do cineasta pelo gênero da ficção científica, merece crédito por ser um dos primeiros filmes de uma fila histórica para o segmento.
Logo teríamos na sétima arte adptações como “2001: Uma Odisseia no Espaço” [1968], “Planeta dos Macacos” [1969], “O Enigma de Andrômeda” [1971] e “Solaris” [1972].
Um resumo de “Fahrenheit 451”
Na sociedade distópica que a humanidade se tornou, os bombeiros se tornaram obsoletos, pois os incêndios já não existem mais.
Agora, eles são os responsáveis pela manutenção da ordem, queimando publicações e impedindo que o conhecimento se dissemine como praga.
Uma ideia bem definida nas palavras de Beatty, o chefe dos bombeiros em Fahrenheit 451:
“Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão para resolver; dê lhe apenas um. Melhor ainda, não lhe dê nenhum.”
Este é o cenário em que vive Guy Montag, bombeiro que atravessa séria crise ideológica.
Sua esposa passa o dia entretida com seus “parentes televisivos”, enquanto ele trabalha arduamente para comprar-lhe a tão sonhada quarta parede de TV.
Sua vida vazia é transformada, porém, quando ele conhece a vizinha Clarisse, uma adolescente que reflete sobre o mundo à sua volta e que o instiga a fazer o mesmo.
O sumiço misterioso de Clarisse leva Montag a se rebelar contra a política estabelecida, e ele passa a esconder livros em sua própria casa.
Denunciado por sua ousadia, é obrigado a mudar de tática e buscar aliados na luta pela preservação do pensamento e da memória.
Queimar Livros Está Longe de Ser uma Ideia Original
A verdade é que queimar livros está longe de ser uma ideia original.
A história nos mostra que desde a antiguidade, livros e fogueiras vivem se encontrando em momentos tensos.
O Império Romano não pestanejou em enviar às chamas ardentes os livros de Cremucio Cordo e a Igreja não deu descanso às obras que considerava heréticas, bem como alguns de seus possuidores e os Nazistas deram sua contribuição para a carbonização do conhecimento impresso.
O impacto causado pela queima de livros como parte de uma obra literária é enorme. Intimamente é como se o conhecimento ali presente fosse incinerado junto com as páginas e seu teor fosse eternamente perdido.
Para um leitor apaixonado pelas páginas agrupadas e gravadas por símbolos enegrecidos, este cenário é atemorizante e o sentimento que tal situação causa no leitor foi muito bem personificado pelo personagem Guilherme de Baskerville, protagonista da obra O Nome da Rosa (pode conferir um texto sobre a obra aqui), em sua incredulidade e tristeza diante da maior biblioteca de sua época consumida pelas chamas.
Além disso, o próprio enredo da história de Ray Bradbury parece uma derivação do Mito da Caverna de Platão, como o são várias histórias de ficção científica.
“Fahrenheit 451” Um Clássico do Cinema
A adaptação para o cinema de “Fahrenheit 451” foi feita pelo cineasta francês François Truffaut, um dos pilares da Nouvelle Vague e um dos maiores nomes do cinema no século XX.
Colecionador inveterado de livros, ele gastava inúmeras horas enfurnado em livrarias alimentando sua paixão pela intelectualidade e sua mão pode ser sentida permeando todo o filme, dando cores mais psicológicas ao mundo de Ray Bradbury.
Mesmo não sendo um grande admirador da ficção científica, a obra de Bradbury ia além da simples exploração científica futurista e pode ser listada como um conto filosófico, olhar este que fisgou o cineasta francês.
Aqui, o mundo futurista serve de ambiente propício para certeiras explorações psicológicas de cada personagem, principalmente de Montag.
O investimento nos questionamentos de Montag e notório, bem como certas alterações de enredo, fazendo sutilmente diferentes os desfechos de filme e livro.
O leitor que tomar contato com a obra de Truffaut notará, após encerrada a exibição, que o cineasta diminuiu a velocidade das duas primeiras partes do livro e acelerou a terceira e última parte, a qual possui menos implicações psicológicas e mais consequências ativas dos questionamentos de Montag.
É importante mencionar que em nenhum momento esta abordagem cinematográfica retira a essência da versão literária de “Fahrenheit 451”, sendo possível estabelecer as mesmas interpretações em ambas as expressões artísticas.
Certas modificações foram feitas como parte da interpretação de Truffaut e a mudança no final de “Fahrenheit 451”, creio eu, se dá pela simples necessidade de encaixe aos moldes do cinema da época.
Uma das preocupações era o possível alto custo de produção para a adaptação, além da preferência de Bradbury para que “Crônicas Marcianas” fosse parar nas telonas.
Era fato que o autor da livro não estava nem um pouco empolgado com a adaptação de “Fahrenheit 451″.
Após longas conversas entre Truffaut e Bradbury, os direitos do livro foram comprados por quarenta mil dólares, quantia considerável em 1962.
A partir daí, o projeto começou a andar em passos lentos.
O roteiro escrito em francês foi traduzido para o inglês, após a proposta de dois jovens produtores americanos que alegavam a necessidade da indústria cinematográfica por um exemplo de um filme realmente brilhante com custos moderados.
O título inicial da película seria Phoenix e o projeto consumiu quatro anos, dos quais o cineasta se envolveu em outro projetos consideráveis.
O fato de não falar inglês e as filmagens de Fahrenheit 451 serem, em sua maioria, alocadas na Grã-Bretanha foram um problema, mas não tão grande quanto o trabalho com Oskar Werner, ator que deu vida a Montag.
O ator, certo dia, já no meio das gravações, apareceu no set de filmagem com um novo corte de cabelo que Truffaut precisou mascarar para não prejudicar a continuidade do filme.
No fim das contas, esta pode não ser a melhor obra de François Truffaut, mas é um divisor de águas em sua carreira, pois foi a primeira investida do cineasta num filme a cores e totalmente falado em inglês.
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