“Omega” é o oitavo disco de estúdio do Epica, um dos mais emblemáticos nomes da era de ouro do metal sinfônico, que chega cinco anos após o complexo “The Holographic Principle” e acaba de ser lançado no Brasil via Shinigami Records.
Um disco que começou a ser gravado em março de 2020, “Omega” teve seu processo de estúdio finalizado em setembro daquele mesmo ano, trazendo na produção o velho conhecido Joost van den Broek.
Ou seja, “Omega” foi concebido e registrado no auge da pandemia na Europa, mas isso não impediu que banda usasse uma orquestra completa e um coral infantil na gravação do disco, que ainda traz mais um conceito instigante.
O conceito de “Omega” expande a ideia criada por Pierre Teilhard de Chardin, batizada de Ponto Ômega, usada para descrever o último nível da consciência humana, inserida no contínuo processo de transformação do planeta Terra.
O próprio Mark Jansen explicou esse teoria:
“A teoria do Ponto Ômega postula que depois do Alfa, o Big Bang, tudo gira junto em direção a um ponto. Lá, no Ponto Ômega, toda a consciência se reúne em um ponto de unificação.”
Nas letras, o Epica expande essa discussão ao confrontar polos do pensamento humano como competição/colaboração, além de levar a ideia do Ponto Omega para um campo espiritual, quase hermético, pela ideia de ponto de unificação divina.
Por falar em hermetismo, Mark Jansen ousou a sabedoria da “Tabua de Esmeralda” para desenvolver sua interpretação da ideia do Ponto Ômega, partindo da reencarnação e dos aspectos cíclicos do universo até os aspectos mais íntimos da mente e do comportamento humano.
Nesse caminho Jansen mesclou a teoria do Ponto ômega com o ensinamento máximo da Tábua de Esmeralda: “o que está em cima é como o que está em baixo”.
Um conceito tão intrincado, inteligente e requintado quanto a música que o emoldura e energiza, afinal, Mark Jansen e a vocalista Simone Simmons guiam composições com apelo cinematográfico.
Musicalmente, “Omega” mantém a tradição do Epica em explorar a grandiloquência orquestral em meio ao tecnicismo progressivo disfarçado ora por uma espeça névoa gótica, ora por explosões melódicas, tudo bem resumido na épica “Kingdom Of Heaven prt. 3 – The Antediluvian Universe”.
Além disso, esse é um disco que reforça o fato da estabilidade desta formação, que já está reunida desde 2012, dar uma unidade à fórmula bem definida do Epica, seja pelo entrosamento dos músicos, seja pela confiança gerada pelos resultados dos discos anteriores.
E por falar em discos anteriores, “Omega” se encaixa perfeitamente na complexidade envolvente gerada nos trabalhos “The Quantum Enigma” (2014) e “The Holographic Principle” (2016), criando uma trilogia que certamente irá marcar sua discografia.
Ao longo do repertório temos uma dinâmica envolvente entre as composições, do começo ao fim, com destaque às guitarras técnicas e precisa nos riffs melódicos, à bateria que dita ritmos intrincados enquanto sustenta as harmonias junto com o baixo, e, obviamente, ao trabalho vocal de Simone Simmons, que beira a perfeição.
Não exagero quando digo que em “Omega” talvez esteja a melhor performance em estúdio de sua carreira, dando o máximo que sua voz prodigiosa permite, mas com a consciência plena de como usa-la da forma correta, cheia de nuances, muito apaixonada e técnica.
Isso tudo ela entrega em “Rivers”, um dos grandes momentos do repertório ao lado de “Abyss of Time – Countdown to Singularity” (com uma passagem que beira o death metal), “The Skeleton Key” (com belos corais e melodias), “Seal of Solomon” (dona de grandiloquência sinfônica e arabescos bem colocados), “Gaia”, “Freedom – The Wolves Within” (cativante pelo atrito de opostos) e “Omega – Sovereign Of The Sun Spheres”; que são as faixas que mais me impressionaram!
O único porém de “Omega” reside no fato de alongarem alguns movimentos melódicos desnecessariamente, o que parece deixar o disco com a impressão de ser mais extenso do que ele realmente é.
Em contrapartida, ouso dizer que aqueles incomodados com o excesso dos aspectos bombásticos podem ouvir em “Omega” uma versão mais metal do Epica, onde eles esbarram com força no death metal melódico e no metalcore, de forma pontual, entre um ou outro movimento sinfônico inerente à fórmula criada pela banda.
“Omega” é um disco poderoso, intenso e emocionante, como sempre deve ser com um trabalho do Epica!
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