Enslaved – “Heimdal” (2023) | Resenha

 

“Heimdal” é o décimo sexto álbum de estúdio da lendária banda norueguesa Enslaved. Um épico tipicamente nórdico que mescla a beleza das melodias e climas progressivos com a crueza do black metal norueguês.

Abaixo você lê nossa resenha completa deste disco lançado no Brasil pela parceria entre os selos Shinigami Records e Nuclear Blast.

"Heimdal" é o décimo sexto álbum de estúdio da lendária banda norueguesa Enslaved. Um épico tipicamente nórdico que mescla a beleza das melodias e climas progressivos com a crueza do black metal norueguês.

O Enslaved surgiu na brutal e lendária cena norueguesa de black metal no início dos anos 1990, mas sempre seguiu o caminho da temática mitológica e da sonoridade viking metal iniciada pelo Bathory no clássico “Blood Fire Death” (1988), ou seja, mesmo com toda a crueza e agressividade eles investiam em climas e letras bem elaboradas. Com o tempo foram evoluindo sua musicalidade para algo mais vanguardista, experimental e progressivo, gerando obras-primas da música extrema como “Below the Lights” (2003), “Isa” (2004) e “Axioma Ethica Odini” (2010), três discos que serão muito lembrado durante a audição de “Heimdal”, seu mais recente trabalho.

Musicalmente, mesmo que a questão ideológica os distanciasse sempre da cena norueguesa de black metal é fato que a estética de guitarra criada por Euronymous e repetida à exaustão pelos seus pares serve como um elo da musicalidade atual do Enslaved com as suas raízes, e isso fica claro em “Heimdal”, o décimo sexto disco de estúdio da banda liderada pela dupla Grutle Kjellson (baixo e vocal) e Ivar Bjørnson (guitarra e teclado) – e o segundo com a formação completada pelos músicos Iver Sandøy, Håkon Vinje e Arve “Ice Dale” Isdal. Este disco é um clara e deliberada tentativa de fundir seu característico prog metal com o os elementos do black metal, como se quisesse misturar de forma corajosa e viajante as melhores facetas de sua personalidade musical.

Abaixo você tem ofertas de duas edições em CD de “Heimdal”, do Enslaved.

 “Congelia”, por exemplo, é uma faixa tipicamente progressiva pelas referências setentistas e os sintetizadores que remetem a Jean Michael Jarre, mas criada sobre os preceitos musicais do antigo black metal, assim como a faixa-título também fará. Na verdade, a maioria das músicas de “Heimdal” tem uma parcela mínima generosa de black metal, porém, sempre mesclado a formas progressivas, jazzísticas, psicodélicas e até de shoegaze.

Continuando pelo repertório de “Heimdal”, temos “Caravans to the Outer Worlds”, um tema tão intrinsicamente progressivo que poderia ter sido lançado pelo Leprous ou pelo Tool em seus melhores momentos da carreira, por misturar acid rock com thrash/doom/black metal. Já a faixa de abertura, “Behind the Mirror”, é outro exemplo deste fato e ainda vai mostrar como o Enslaved pode agradar tanto os fãs de Opeth quanto os de Porcupine Tree.

As atmosferas das sete faixas que completam “Heimdal” são muito bem feitas, com camadas sobrepostas de guitarras e sintetizadores que dão um tom étnico, introspectivo e hipnótico. As harmonias vocais são baseadas na dicotomia entre os vocais melódicos/limpos com os agressivos/gritados trazendo a marca indelével da musicalidade do Enslaved, pois remetem aos seus discos mais antigos. Desta vez estes elementos se misturam a inserções ousadas de sintetizadores que vão da psicodelia à modernidade gerando uma fórmula musical bem menos previsível do aquela apresentada no disco anterior, o interessante “Utgard” (2020).

De certa forma, “Heimdal” é um disco que propõem um olhar até inesperado para a musicalidade do Enslaved com uma coragem, uma ousadia, que talvez só ouvimos em álbuns como “Monumension” (2001) e “In Times” (2015), agora trazendo elementos claros de krautrock. Talvez por isso, este seja o disco que soa mais conciso em sua última década, como se encontrasse novamente seu centro musical após as viagens dos seus últimos quatro discos. Neste âmbito, o tecladista Håkon Vinje é uma peça vital para o resultado final da musicalidade deste disco, pois ele traz para a personalidade do Enslaved elementos diversos e até alheios ao seu universo, mas sem descaracteriza-la.

Quando analisei o disco anterior, “Utgard” (2020), eu externei minha impressão de que o Enslaved havia se tornado uma mistura de King Crimson com Neurosis feita no caldeirão do black metal, variando nos últimos quatro discos de acordo com os quatro elementos alquímicos. Na minha ótica, “RIITIIR” (2012) corresponderia ao elemento terra, “In Times” (2015) ao elemento fogo, “E” ao elemento água, e “Utgard” (2020) fechava o ciclo com o elemento ar. Usando novamente este conceito alquímico/elemental é como se eles tivessem reencontrado sua pedra filosofal após uma nova peregrinação musical, alcançada com a refinação e combinação destes quatro elementos. Isso porque “Heimdal” me parece um disco equilibrado em todas as suas características, até mesmo no olhar para o passado com respeito, mas sem saudosismo e sempre buscando evolução.

Num disco de tão alto nível musical é difícil estabelecer destaques, até por isso, deixo menções a “Kingdom”, “The Eternal Sea” e “Forest Dweller” (se Emerson Lake & Palmer resolvesse tocar black metal soaria exatamente assim) não como as melhores faixas do disco, mas aquelas que dentro do repertório melhor ilustram estes meus últimos argumentos.

“Heimdal” é um disco brutal, mas ainda assim belíssimo!

Mais Ofertas de Discos do Enslaved

Abaixo você tem ofertas em vinil dos discos “Below The Lights” e “Vikingligr Veldi”, do Enslaved
Abaixo você tem ofertas em CD dos discos “ELD” e “In Times”, do Enslaved.

Leia Mais:

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *