Encefalo: Resenha de “Deathrone” (2018)

 

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Encefalo: “Deathrone” (Shinigami Records) NOTA:9,0

Oriunda de Fortaleza, a banda Encefalo surgiu em 2002 evoluindo sua forma pesada de heavy metal até chegar ao primeiro álbum “Slave of Pain”, em 2012.

Ali, o então quarteto formado por Alex Maramaldo (vocal/guitarra), Laílton Sousa (guitarra), Augusto Filho (baixo) e Rodrigo Falconieri (bateria) se enveredava pelas formas brutais e vigorosas do thrash metal, dando uma oxigenada nas raízes do gênero.

Seu próximo passo,  “Die to Kill”, viria mais crú e brutal, já com Luiz Henrique Muniz no baixo. E após esse segundo álbum experimentariam mudanças importantes na formação.

Neste novo momento da carreira, agora como um trio (sem Alex Maramaldo), a banda mantém sua essência e temática, mas soam mais pesados, diretos, agressivos e com boa dinâmica na variação da velocidade.

Esse preâmbulo se faz importante, pois uma primeira olhada na capa de “Deathrone”, recém-lançado álbum, e o novo logo ali impresso, nos faz inferir a ocorrência de outra metamorfose musical na banda Encefalo. Antes de colocar o CD para rodar, somos impelidos a acreditar que a dose de death metal da alquimia extrema da banda está maior.

Quando lembramos que após o lançamento de “Die to Kill”, o Encefalo abriu apresentações de bandas como Cannibal Corpse, Sinister, Deicide e Belphegor, não é absurdo imaginar que o peso do metal da morte possa estar presente com mais destaque na fórmula musical, diluindo ainda mais  suas primevas influências de  Kreator, Sepultura e Slayer.

Existe também uma promessa de criatividade feita na “intro” climática que se confirmará ao longo de todo o caos e virulência do trabalho.

Da mesmo forma, “Echoes From the Past”, faixa que virá na sequência, nos assolará sem deixar pedra sobre pedra mostrando que o death metal que imaginamos realmente se fará presente.

Essa composição é um arrasa-quarteirão de fazer inveja ao Krisun ou ao Cryptopsy. Ao mesmo tempo, “Food for Tyranny” lembrará a entrópica arte brutal do Morbid Angel!

Registrado no VTM Studio e no estúdio do produtor André Noronha, Noronha Home Studio, onde também foi mixado e masterizado, “Deathrone” mostra o trio se entregando de vez ao death metal, trazendo pouquíssimos traços do thrash metal de outrora, mas com identidade e direcionamento bem definidos. Está claro qual o objetivo que foi traçado para este trabalho.

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“Deathrone” é o Encefalo, agora como trio, convertido ao death metal altamente técnico e brutal!

Além disso, suas marcas registradas nas guitarras e cozinha estão incólumes, e a alta técnica se faz constante, mas em prol da massa sonora muito bem alicerçada numa seção rítmica tão robusta quanto um tanque de guerra (o que o baterista Rodrigo Falconieri faz é espantoso, confira “These Final Rotten Days” e reverencie um leviatã das baquetas!).

Mas nem pense que a banda se entrega ao barulho gratuito. Existe muita maturidade para construir uma musicalidade consistente e extremamente brutal, mas que ao mesmo tempo cative o fã de metal extremo.

As timbragens estão bem feitas, e a produção encorpou a proposta do trio, sem deixar buracos, mas também sem abafar ou distorcer demais a sonoridade para atingir seu objetivo. Faixas como “Visceral Sadism” e “Annihilation Contempt to the Majesty”, são belos exemplos deste fato!

Na verdade, o ataque impiedoso do death metal altamente técnico a que a banda se converteu segue sem interrupções até o desfecho com “A Hollow Body” (o ápice da imprevisibilidade no álbum, chegando a ser melancolicamente melódica em sua abertura, permitindo um diálogo com as formas old-school do gênero).

Quando o silêncio após esta composição chegar, certamente seus ouvidos estarão zumbindo, seu pescoço dolorido pelo headbangin’ compulsório, e a alma certamente estará lavada!

Em suma, “Deathrone” traz peso e velocidade em camadas sobrepostas de intensidade, intercaladas de um ou outro momento mais cadenciado para oxigenar as composições.

Também cabe registro que os vocais de Henrique, mesmo que não siga linhas menos previsíveis como é o traçado do instrumental, é perfeito para a proposta insana, criativa e psicótica do Encefalo, e seu trabalho é destaque em “These Final Rotten Days”. Outro ponto positivo do repertório é a faixa “Retaliation”, uma perversão musical instigante

Sobre as letras, apesar de “Deathrone” não ser um álbum conceitual, o guitarrista Laílton Sousa comenta que “a essência principal do disco é a ‘Morte’, tanto em ato, como em filosofia e o trono venerando-a como uma verdade suprema e nossa única certeza”. Ideia refinadamente reproduzida pela arte da capa, à cargo de Ygor Nogueira.

Ficou claro que esse “Deathrone” é extremamente pesado e agressivo? Acho que sim… Mas só para reafirmar o fato, pense nele como uma locomotiva descarrilhando em alta velocidade numa descida! Ou melhor, “Deathrone” é tão violento que faz alguns de seus congêneres soarem como beijos de mãe!

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