“Why”, clássico quarto EP da banda inglesa de hardcore/punk DISCHARGE, lançado em 1981, via Clay Records, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Agressivo, punk, anarquia, D-beat, clássico, influente.
Estilo do Artista: Punk/hardcore, D-beat
Comentário Geral: “Why” é muitas vezes confundido com o primeiro full lenght da histórica banda punk/hardcore britânica Discharge, mas é, de fato, seu quarto EP de estúdio, que antecipava o clássico “Hear Nothing See Nothing Say Nothing” (1982), este sim, seu primeiro álbum completo de estúdio.
O histórico Discharge, influência declarada de bandas de thrash metal, death metal, black metal, doom metal, sludge e, principalmente, da cena crust/punk escandinava, foi fundado em 1977 pela dupla Terence “Tezz” Roberts (vocalista até 1979, quando Kelvin “Cal” Morris chegou para o posto e Tezz foi para a bateria) e Royston “Rainy” Wainwright (nos primeiros tempos variando guitarra e baixo, até se fixar como baixista) e já em seus primórdios faziam o Sex Pistols soarem como crianças revoltadas.
Certamente bandas como Metallica, Sepultura, Napalm Death, Hellhammer/Celtic Frost, Bathory e Ratos de Porão não existiriam da forma que as conhecemos sem o Discharge.
Até chegarmos a “Why”, em 1981, o Discharge lançou uma demo-tape em 1977, três EPs (“Realities of War” [1980], “Decontrol” [1980] e “Fight Back” [1980]) e um “disco” ao vivo, “Live at the Lyceum; 24th May 1981” (1981). Nestes materiais eles não só atropelaram o punk rock rumo ao hardcore, como criaram uma dissidência deste último, batizada de D-beat.
O D-beat é um subgênero do hardcore punk desenvolvido pelo Discharge que é construído sobre um padrão rítmico bem definido e criado pelo baterista Terry Roberts, influenciado pelo heavy metal, com muita agressividade, timbragens características e temática semelhante ao anarcho-punk.
Sobre a forma como essa batida deu a tônica primitiva à música da banda, Tony “Bones” Roberts disse: “essa batida de bateria muda a maneira como você toca. Você não pode deixar de ficar animado com o som disso. Essa seria a base do que começaríamos, e isso faz tudo parecer muito mais urgente.”
O Discharge desenvolveu esta estética dentro do punk agregando os elementos e aumentando a velocidade, a agressividade e o contexto sócio-político paulatinamente, sendo sempre muito mais barulhento e desafiador que os seus contemporâneos, levando o mote anarquista do punk para um novo patamar de revolta.
Com isso, o Discharge estava na vanguarda da segunda onda do punk britânico, batizada de UK82. Este termo foi originalmente usado para se referir ao hardcore punk do início dos anos 1980, a segunda geração do punk rock, que ainda tinham bandas como GBH e The Exploited.
Estas bandas tinham o som do punk, mas adicionaram as batidas pesadas de bateria e som de guitarra distorcido que as bandas da NWOBHM usavam, criando assim o primeiro gênero que é um híbrido de metal e punk, antes mesmo do crossover/thrash.
Neste contexto surge “Why”, um EP com nove músicas (mais a reprise da faixa-título) que pareciam misturar o peso do Black Sabbath, a rapidez dos Ramones e a visão de mundo desoladora do Crass, antecipando a explosão de fúria que viria no ano seguinte, com a geração UK82.
Aqui temos uma alteração importante na formação com a saída de Terry “Tezz” Roberts, para formar o Broken Bones ao lado do irmão Tony Roberts (que por sua vez permaneceria como guitarrista no Discharge até 1982) e a chegada do baterista Dave “Bambi” Ellesmere, que por sua vez aumenta a velocidade do D-beat e ajuda a banda e amarrar todos os elementos de sua musicalidade crua, suja e primitiva.
Até por isso, não é exagero dizer que “Why” é o estágio final do amadurecimento do Discharge que levaria ao clássico e definitivo disco do D-Beat, “Hear Nothing See Nothing Say Nothing” (1982) e desaguaria tanto no grindcore que o Napalm Death inauguraria em “Scum” (1987), quanto no death metal britânico de bandas como Bolt Thrower, Benediction e Carcass.
O próprio Karl Willetts, vocalista do Bolt Thrower, chegou a afirmar que uma das razões da cena britânica do death metal ser tão diferenciada era a mistura dos pilares do metal extremo com o punk/crust e o experimentalismo gótico das respectivas cenas de seu país.
Faixas como “Visions of War”, “Why”, “Ain’t No Feeble Bastard” e “Mania for Conquest”, além de corroborar esta observação, são socos agressivos de distorção, chiados e brutalidade que pouco ultrapassam um minuto de duração num trabalho que ao todo, no tracklist original, não ultrapassava os quinze minutos de duração.
Estas músicas, junto a outras como “Does This System Work?”, “Maimed and Slaughtered” e “Massacre of Innocents (Air Attack)” me fazem questionar se em maio de 1981, quando “Why” foi lançado, existia alguma coisa tão agressiva e pesada, tanto em música quanto em discurso, quanto o Discharge, lançado oficialmente por algum selo? Acho que nem o Motorhead conseguia rivalizar. Talvez o Venom, com “Welcome to Hell”, mas este disco só chegaria em dezembro daquele ano.
Aproveite que a Hellion Records relançou “Why” em formato slipcase, com direito a quatro faixas bônus retiradas dos EPs “Realities of War” [1980] e “Decontrol” [1980], e vá atras deste pedaço da história do metal/punk, pois você devia ouvir isto! Mas evite fazer isso em dias de fúria, pois você pode sair quebrando tudo!
Ano: 1981
Top 3: “Visions of War”, “Mania for Conquest” e “Ain’t No Feeble Bastard”
Formação: Kelvin “Cal” Morris (vocais), Roy “Rainy” Wainright (baixo), Tony “Bones” Roberts (guitarra) e Dave “Bambi” Ellesmere (bateria).
Disco Pai: Crass – “The Feeding of the Five Thousand” (1979)
Disco Irmão: Varukers – “The Varukers E.P.” (1981)
Disco Filho: Napalm Death – “Scum” (1987)
Curiosidades: Em 1986 o Discharge causou uma grita e um choque nos fãs ao lançar “Grave New World”, um disco de heavy/glam metal, sem nenhum traço de punk, com direito a uma faixa de quinze minutos, intitulada “The Downward Spiral” e dividida em três partes. Na época, o impacto foi tão ruim que levou o Discharge a entrar num hiato de 1987 a 1981. Hoje em dia, eles renegam este disco (conheça outros discos renegados neste artigo).
Pra quem gosta de: Manifestações políticas, música agressiva, anarquia, misturar metal com punk e cerveja (mesmo quente).
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