Darkthrone – “A Blaze in the Northern Sky” (1992) | Você Devia Ouvir Isto

 

Dia Indicado Pra Ouvir: Sexta-Feira

Hora do dia indicada para ouvir: Onze da Noite

Definição em um poucas palavras: Pesado, rápido, primitivo, extremo, satânico.

Estilo do Artista: Black/Death Metal

Darkthrone - A Blaze in the Northern Sky (1992)
Darkthrone – “A Blaze in the Northern Sky” (1992, Peaceville Records |2020 Hellion Records)

Comentário Geral:  O Darkthrone é, sem dúvidas uma das mais interessantes bandas de sua geração, erguendo uma discografia instigante e de primeiro nível.

Emergindo do death metal, posteriormente garantindo seu lugar no panteão satânico da segunda geração do black metalaté se reinventar como uma celebração do speed/black metal de estética oitentista, a banda vem se mantendo relevante até hoje (que o diga o excelente “Old Star”, lançado em 2019).

De uma forma mais madura, eles praticamente iniciaram uma rebelião contra as vias modernas do heavy metal em qualquer uma de suas fases, mesmo no início de carreira, quando eram os irmãos crescidos da turma do Black Circle norueguês.

Na verdade o Darkthrone já estava em cena um pouco antes como uma banda de death metal. Seu primeiro disco, “Soulside Journey” estava mais para o death metal sueco do que para o black metal norueguês, onde entrariam, de fato, apenas no álbum seguinte, “A Blaze in the Northern Sky”.

Entretanto, antes de entrarmos nesse disco em especial, cabe uma contextualização do que acontecia em termos musicais (leia-se metal extremo) e extra-musicais na Noruega no início dos anos 1990.

Em dado momento na virada da década de 1980 para a de 1990 o thrash metal e o death metal se tornaram parte do mainstream musical, independente do teor satânico ou não!

Em resposta a essa condição diametralmente oposta ao papel de oposição às normas e ao mundo pop, a Noruega ofereceu um dos movimentos mais ultrajantes da história da música, que tem impacto até os dias de hoje: o black metal norueguês.

Conhecida como segunda geração do black metal, essa cena recomeçou exatamente de onde pararam Venom e Bathory em suas verves mais satânicas, capitaneadas por bandas como Mayhem, Darkthrone, Burzum e Immortal.

Porém, o trio formado por Nocturno Culto, Zephyrous e Fenriz não estava ligados aos crimes e atentados terroristas que fizeram a fama do movimento e sempre passou ao largo das polêmicas que envolveram o movimento Black Circle.

Tanto que o Darkthrone foi a primeira banda daquela cena norueguesa a conseguir um contrato com uma gravadora de nome dentro do heavy metal, no caso a inglesa Peaceville, por onde lançaram seus quatro primeiros discos.

A única ligação entre o Darkthrone e o Black Circle, em meados de 1991, era que, junto a Burzum, Immortal, Thorns, Enslaved, Arcturus, e um embrião do Emperor, eles orbitavam a loja Helvete e o selo Deathlike Silence.

A loja de discos Helvete em Oslo que era de propriedade de Euronymous evoluiu para um selo que lançou várias bandas do estilo no mercado fonográfico e, consequentemente, os clássicos desta segunda fase do Black Metal.

Essa cena fortíssima ficou atrelada aos eventos brutais não só musicais. É neste cenário que ergue o movimento que ficaria conhecido pela história do Heavy Metal e nas páginas policiais como Inner Cicle. Para saber todos os detalhes do black metal norueguês confira esse nosso texto.

Inserido nesse contexto, o Darkthrone viu o potencial musical a ser explorado dentro do black metal e deixou todo o resto para trás.

Ou melhor, quase tudo, pois existia algum extremismo infatil no discurso da época:

“Nós odiamos tudo sobre death metal agora! As pessoas, bandas e zines. Eu não deveria ter respondido a essa entrevista porque é uma revista de death metal! O novo DARTHRONE é o profano black metal. Não nos incomode ou seja amaldiçoado!

Essa resposta de Fenriz ao terceiro volume do C.O.T.I.M. Zine em 1992 dava o tom da época (essa entrevista é uma prova de como era infantil e ensimesmado o pensamento desse movimento norueguês).

Além disso, a suposta ascendencia que existia no moviemtno era registrada na contracapa de “A Blaze In The Northern Sky”, o segundo disco do Darkthrone, que para eles era considerado o primeiro. “Para nós, nosso segundo disco é o primeiro” afirmava Fenriz.

Na contracapa de “A Blaze In The Northern Sky” vinha uma dedicatória eterna a Euronymous, referenciado como o “rei do death/black metal”, quase como que pedindo a “benção” do “imperador” para que praticassem o black metal com riffs de death metal.

E mesmo que ainda houvesse resquícios de death metal aqui e ali, esse disco já se encaixava como referência da cena norueguesa do metal negro. Inclusive em entrevistas da época Fenriz afirmava que apesar da fundação em 1987, o “Novo Darkthrone” surgiu em 1991.

O primeiro fruto deste novo Darkthrone nasceu em fevereiro de 1992, intitulado “A Blaze In The Northern Sky”, lançado pela Peaceville Records e gravado no Creative Studio, o mesmo que anos antes o Mayhem gravara o histórico (ao menos para o black metal) EP “Deathcrush”.

Tudo nesse disco segue a cartilha do metal negro (à começar pela capa e pela produção) e faixas como “Kathaarian Life Code”, “In the Shadow of the Horns” (um dos três maiores clássicos do black metal norueguês e com um “q” de Motorhead), e “Where Cold Wind Blows” (o perfeito exemplo do que era o black metal na segunda geração do estilo) são pedras preciosas do gênero.

E Fenriz citaria numa reflexão futura, já mais maduro do que aquele garoto que dizia escrever poesia satânica em suas letras, que essas três músicas eram as únicas genuinamente black metal no disco.

Segundo ele o restante eram peças de death metal com algumas partes de black metal, e justifica dizendo que após desistirem do death metal muito técnico tiveram pouco tempo para desenvolver uma forma pura e primitiva de black metal.

Devemos lembrar que na época eles estavam trabalhando no álbum “Goatlord”, ainda orientado ao death metal, e pouco antes de entrarem em estúdio resolveram mudar o direcionamento musical.

A mudança foi motivada pelo trio Nocturno Culto, Zephyrous, e Fenriz, o que levou à saída de Dag Nilsen (o único membro que não estava feliz com a mudança de direcionamento) após a gravação de “A Blaze in the Northern Sky” (Dag não é creditado no encarte, mas as linhas de baixo são suas).

Anos mais tarde Fenriz diria que “Under a Funeral Moon” é seu primeiro disco de black metal, de fato, e que “A Blaze in the Northern Sky” enganou tanto a mídia quanto o público:

“A razão pela qual eu tenho que ser rigoroso com ‘A Blaze in the Northern Sky’ é porque ele enganou as pessoas e as pessoas foram enganadas por ele. E estou falando sobre a imprensa, fãs e musicos da cena. A capa, o som e a produção fizeram todo mundo pensar que era um álbum de black metal puro, e então meio que alargou o escopo do que parecia ser black metal. Não foi algo intencional.”

Musicalmente, a maioria das composições de “A Blaze in the Northern Sky” possuem estrutura death metal, com as linhas de bateria simplificadas para a forma rudimentar e direta, influenciada por “To Mega Therion”, do Celtic Frost (ouça com atenção “In the Shadow of the Horns”), e com o a timbragem das guitarras lembrando o aspecto cortante e primitivo registrado em “Under the Sign of the Black Mark”, do Bathory.

A própria faixa-título é um exemplo disso, mas “Paragon Belial” é onde a quimera de death metal com black metal soa mais poderosa. Até mesmo “Kathaarian Life Code” tinha resquícios do “velho Darkthrone”, principalmente nos riffs de guitarra.

“A Blaze in the Northern Sky” apresentou uma canalização de agressividade e negatividade da forma mais simples e radical possível, impresso por um produção propositalmente diletante (ou lo-fi), sendo um retrato fiel de um período de mudança no metal escandinavo!

Não existiam preocupações artísticas por aqui, apenas enaltecer o que havia de mais horrendo na cultura ocidental de uma forma pioneira, à começar pela capa (com uma foto em preto e branco de Zephyrous), que virou modelo estético para todas bandas do gênero naquele período.

Até por isso, não seria exagero dizer que a maioria daqueles adjetivos comumente associados a uma banda de black metal norueguesa, que viraram partes de sua definição, como gélido, ríspido, dissonante, radical e abjeto, começaram a ser escritos aqui.

Um clássico! Simples assim.

Ano: 1992

Top 3: “Kathaarian Life Code”, “In the Shadow of the Horns”, “Where Cold Wind Blows”

Formação: Nocturno Culto (vocais, guitarra),  Zephyrous (guitarra), Fenriz (bateria, vocais e letras) e Dag Nilsen (baixo).

Disco Pai: Bathory – “Under the Sign of the Black Mark” (1987)

Disco Irmão: Immortal – “Diabolical Fullmoon Mysticism” (1992)

Disco Filho: Isengard – “Høstmørke” (1995)

Curiosidades: Na época, já como um trio e usando corpse paints, o Darkthrone fez três shows na Finlândia, mas logo abandonou os palcos, segundo Fenriz eles fizeram shows porque  “é o que você precisa fazer” para divulgar a música e o nome da banda. No início dos anos noventa ele falou sobre isso:

“Não tocamos mais ao vivo por causa de problemas de som, público de atitudes idiotas, stagedivers e outros problemas financeiros e de equipamento.”

E continuou:

“Um show do DARKTHRONE é sombrio. Mas não queremos mais tocar ao vivo. Nós fizemos 20 shows e todos foram uma merda !!! Podemos tocar nossas músicas ao vivo sem estragar, mas é tudo o mais que diz respeito ao show. E depois disso sempre há fracotes que ficam por aí para pedir um autógrafo!”

Pra quem gosta de: Poesia satânica, extremismo, qualquer bebida que tenha álcool e satanismo.

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