A Bombay Groovy, banda mais interessante da atualidade no Brasil, lança o, até agora, melhor álbum nacional do ano de 2016!
A palavra vanguarda já caía como uma luva para a banda em seu álbum anterior (eleito por nós como um dos 15 melhores do ano de 2014), que apresentava uma proposta destemida e quase inédita no rock nacional!
Poucos foram os artistas tupiniquins que investiram em uma sonoridade tão exótica e tiveram a capacidade técnica e a sensibilidade latente para expandir tal exotismo.
A adição de um sitarista à formação básica de uma banda de rock já não é mais novidade, mas a banda investe na imprevisibilidade musical para engrandecer seu homogêneo blend de tradicionalismos que vão de Pink Floyd, Led Zeppelin e Violeta de Outono a Ravi Shankar e Frank Zappa.
A expansão da proposta que nos foi apresentada no álbum anterior é feita de modo fluido e explorativo dentro da abordagem progressiva e jazzística, de tempero musical indiano, através da adição de ritmos latinos, ciganos e africanos, além de uma ousada adição de instrumentos pouco habituais, como clavinete (uma espécie de cravo eletrizado popularizado por Stevie Wonder), craviola, dunus (tambores africanos) e o bouzouki grego (instrumento de cordas tradicional).
Mas estes novos elementos não fazem o sucesso do álbum sozinhos.
A reinvenção da fórmula, que ainda girava em torno da soul music e do rock psicodélico de meados das décadas de 1960 e 1970, foi a chave para o brilhantismo e caráter envolvente deste álbum instrumental.
A abertura vem cheia de groove em “Slip Disc’ 72″, faixa de psicodelia transbordante e ritmo pulsante, em meio a andamentos que oxigenam a canção, além de um aroma característico de musica brasileira que será sentido durante todas as faixas, nos dando uma suspeita do significado do título do álbum.
Antes de receber o release da banda e após a segunda audição do álbum na íntegra, refleti sobre o título e teorizei que fosse uma clara referência às canções, que trazem uma profusão de de adornos melódicos, dentro de uma linguagem correta para os regionalismos musicais brasileiros, simplesmente pelas referências às palavras dandy (que seria um homem que se importa com a aparência, hobbies de lazer e com a linguagem correta) e dendê (tempero tipicamente brasileiro e de identificação regional).
Seriam devaneios de um apreciador de boa música?
Segundo a própria banda me informou, o título, bem como todo o trabalho, é um tributo à vida e à música, fruto do choque da perda prematura do baixista Danniel Costa, em 2015, que foi apelidado de “Dandy do Dendê” por Alberto Marsicano, um dos precursores da sitar no Brasil.
A consternação da perda se transformou em motivação e inspiração para finalizarem este segundo trabalho, que ainda tem a digital musical de Danniel nas faixas “Dandy do Dendê” e “Chakal”, esta última trazendo um embasbacante trabalho de teclados.
Aliás, o que Jimmy Pappon (órgão hammond, clavinete, piano, mellotron, sintetizador) executa ao longo do álbum é brilhante, conseguindo se destacar em meio a concisão técnica geral dos instrumentistas, num ponto médio entre a ousadia de Rick Wakeman e a elegância de Jon Lord.
Continuando o desfile de desenvoltura musical, “Pavão Andaluz”, uma das melhores composições do novo álbum, é uma febril imersão de tonalidades orientais em tradicionalismos tipicamente brasileiros, com alguns andamentos psicodélicos e cadência groovada em alguns arranjos.
Esta canção traz uma montanha russa de musicalidades distintas, que também se faz presente, por velocidades e formas diferentes, nas demais composições, com arranjos cheios de curvas bruscas e envolventes, tornando-as imprevisíveis.
Esta imprevisibilidade deu muito mais tempero ao resultado final, sendo que antes pareciam mais moldados por regras musicais.
Agora, as composições soam livres!
Quando tudo parece caminhar para a normalidade, de repente, emerge um órgão sinuoso em meio a uma batida inspirada pelo samba que, por sua vez, se esparrama em difusos e lascivos efeitos dedilhados de sitara.
Em meio a esta caleidoscópica viagem musical, emerge um álbum flamejante, onde as excentricidades e os exotismos são parte da obra e não simples adornos jogados com o objetivo de soar diferente.
E se eu tinha alguma dúvida do alicerce musical nos regionalismos brasileiros, elas se esvaíram na faixa-título e nos sabores interioranos (para não dizer sertanejo “old-school”) altamente pertinentes da sensacional “Scandale”.
Em meio a toda essa salada musical exploratória, existe ainda espaço para space rock moldado por melodias western acachapantes e de groove contagiante (em “Django-Lo-Ba”, com referências musical e nominal a Django Reinhardt), ou para um charmoso clima burlesco cheio de arabescos (em “Kebab à Pigalle”), ou para um blues insinuante e dilacerante mesclado ao jazz fusion como se Frank Zappa tivesse sido criado ao som das work songs nos campos de algodão (em “Moksha Blues”), ou, por fim, para uma pegada rock n’ roll ao melhor estilo explosivo e “purpleniano”, misturada a inspirações eruditas ( como em “St. Olga” que fecha o álbum de modo vertiginoso).
Em meio a todo este clima orgástico, “Pre-Raphaelite Brotherhood” ameniza a musicalidade febril, com mais melodia e relativa introspecção (se considerarmos o borbulhante caldo musical), com progressões envolventes e belas harmônias.
Segundo informado pela banda, Dandy do Dendê é lançado pelo Instrumentown, selo paulistano de música instrumental criado em 2015 com a proposta de unir grupos musicais do segmento e consolidar este vasto cenário.
O selo também segue com edições do festival InstrumenTown.
A apresentação de lançamento se deu para uma audiência lotada no teatro do Sesc Belenzinho, e a Bombay Groovy continua promovendo o álbum por meio de apresentações em São Paulo e ao longo do país.
FAIXAS:
1- SlipDisc ’72 (Bourganos)
2- Pavão Andaluz (Bourganos)
3- Chakal(Costa, Nascimento, Pappon, Bourganos)
4- Bolero de Lilith(Bourganos)
5- Kebab à Pigalle(Bourganos)
6- Dandy do Dendê (Costa, Nascimento, Pappon, Bourganos)
7- Django-lo-ba(Bourganos)
8- Pre-RaphaeliteBrotherhood(Bourganos)
9- Scandale(Bourganos)
10- Moksha Blues (Pappon)
11- Paul’sFunkyCab(Bourganos)
12- St Olga (Pappon)
FORMAÇÃO
Rod Bourganos (sitar indiano, baixo, guitarra elétrica, craviola, bouzouki grego, theremin, cavaco)
Jimmy Pappon (órgão hammond, clavinete, piano, mellotron, sintetizador)
Leonardo Nascimento (bateria e percussão).
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