Blues Pills – Resenha de “Holy Moly!” (2020)

 

O Blues Pills chega a seu terceiro disco de estúdio, “Holy Moly!”.

Esta banda sueca se destacou por investir num blues rock cheio de psicodelia, guitarras potentes e uma cozinha hipnótica, guiados pela excelente vocalista Elin Larsson, cheia de volúpia roqueira e desenvoltura das grandes mestras do soul/blues, como Aretha Franklin e Etta James.

Neste terceiro trabalho de estúdio, a faixa “California” deixará estas referências soul/blues ainda melhor marcadas, enquanto sua contraparte, “Low Road” (um hard rock ritmo vertiginoso), mostrará que esse é o disco mais diversificado do quarteto dentro espectro de peso e melodia encaixado à proposta da banda.

Blues Pills - Holy Moly (2020)
Blues Pills – “Holy Moly!” (2020, Shinigami Records)

Esse disco traz uma mudança importante na formação: a saída do guitarrista Dorian Sorriaux, em 2018.

Ele era uma das parcelas mais fortes da personalidade musical do Blues Pills, sendo efetivamente o destaque individual do instrumental que ainda é sustentado por um baixo implacável e uma bateria orgânica.

Seu substituto, no entanto, não deixa espaço para saudades e não altera a identidade da banda, mesmo porque ele veio de dentro de casa.

Claramente Zack Anderson, o baixista que passou para as guitarras, também estudou em minúcias as lições do blues rock sessentista. Confira o que ele faz no desfecho de “California” e me responda se não tenho razão.

Ao contrário de seus congêneres contemporâneos, o Blues Pills não tenta soar anacrônico, utilizando os mesmos ingredientes, mas gerando uma receita final com sabor moderno e longe dos mimetismos dos clássicos.

Em “Holy Moly!” eles retomam parte da tenacidade, da energia e do peso de seu primeiro disco, girando sua proposta para algo mais sombrio, melancólico e crú (a produção é da própria banda que construiu seu próprio estúdio), do que psicodélico e emocional, ao mesmo tempo que tentam explorar algo mais encaixado ao mainstream.

“Wish I’d Known”, por exemplo, que traz flertes com o indie rock do Alabama Shakes, enquanto Zack Anderson desenha as guitarras mais bonitas do disco, e a mixagem, assinada por mixado pelo ganhador do Grammy Andrew Scheps (que já trabalhou com grandes nomes como Red Hot Chili Peppers, Iggy Pop, Adele, Black Sabbath, Rival Sons e Hozier, entre outros) são sinais disso.

Essa faixa acaba se tornando um dos destaques de um disco tão multifacetado, permeado pelo soul, blues, folk e até mesmo pelo country, e que ainda nos oferece faixas como “Kiss My Past Goodbye” (reforçando os aspectos mais sombrios do disco), “Dreaming My Life Away” (talvez uma das músicas mais pesadas da banda), “Bye Bye Birdy” (com um peso raivoso) e “Song From a Mourning Dove” (uma faixa belíssima com Elin roubando a cena).

“Holy Moly!” reflete uma banda em franco processo de amadurecimento, inspirada, focada, determinada e que tem algo a dizer (como na abertura forte com “Proud Woman”), encarando os próprios demônios e seguindo em frente enquanto abre possibilidades em seu horizonte musical.

Outro ponto positivo para o trabalho mora na performance de Elin Larsson, que carrega uma faixa mediana como “Rhythm In The Blood” nas costas e a leva para um novo patamar, além de oferecer sua performance mais desenvolta e versátil em estúdio (confira o que ela faz na espetacular “Dust”).

Isso fica nítido nas notas mais altas que ela insere nas linhas vocais de“Kiss My Past Goodbye” e “Longest Lasting Friend”.

Mesmo assim, se eu fosse forçado a escolher o melhor trabalho do Blues Pills, hoje eu escolheria o primeiro disco (isso já foi diferente antes e pode mudar, de novo), mas com “Holy Moly!” “Lady In Gold” tecnicamente empatados logo abaixo.

Ou seja, temos mais um álbum excelente dessa banda sueca, que desta vez foi lançado no Brasil via Shinigami Records.

O Blues Pills continua uma banda diferenciada entre seus pares do blues rock atual.

FAIXAS:

1. Proud Woman
2. Low Road
3. Dreaming My Life Away
4. California
5. Rhythm In The Blood
6. Dust
7. Kiss My Past Goodbye
8. Wish I’d Known
9. Bye Bye Birdy
10. Song From A Mourning Dove
11. Longest Lasting Friend

FORMAÇÃO:

Elin Larsson »» Vocal
Zack Anderson »» Guitarra
André Kvarnström »» Bateria
Kristoffer Schander »» Baixo

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