Atomic Rooster | O Rock Progressivo ‘Made In England’

 

O Atomic Rooster foi uma clássica banda inglesa de rock progressivo, apesar de ser pouco lembrada quando se fala no gênero. Ela teve três eras distintas e gravou discos primorosos para o estilo (como “Death Walks You” [1970] e “Nice ‘n’ Greasy” [1973], por exemplo) sendo sua formação clássica considerada aquela que trazia John Du Cann (vocais, guitarra, baixo), Vincent Crane (hammond, piano e teclado) e Paul Hammond (bateria).

Atomic Rooster

A história do Atomic Rooster começa em 1969, ano em que o rock progressivo começava a ter suas fronteiras melhor definidas e deixava de ser uma digressão técnica do rock psicodélico, principalmente com o lançamento de “In The Court of the Crimson King”, primeiro álbum do King Crimson.

Neste mesmo ano o tecladista Vincent Crane e o baterista Carl Palmer deixam a banda de Arthur Brown após sua dissolução no meio da turnê norte-americana e voltam para a Inglaterra com ideia de formar um novo projeto com o guitarrista Brian Jones, recém-saído do Rolling Stones. Porém, os planos da dupla seriam abortados com a morte do guitarrista três semanas após chegarem à Inglaterra.

Crane e Palmer não desanimam e recrutam o baixista e vocalista Nick Graham para uma banda de rock progressivo sem guitarras, um conceito que o baterista exploraria de forma brilhante no emblemático Emerson Lake & Palmer anos mais tarde. Com esta proposta nascia o Atomic Rooster, em 1969.

O primeiro disco da banda veio já no ano seguinte, intitulado “Atomic Roooster”, que passou despercebido. Os shows começaram a aparecer e logo Vincent Crane sentiu a necessidade de ter um guitarrista na formação. Entra em cena John Du Cann, recrutado da banda Andromeda.

As mudanças não paravam por aí, pois na sequência Carl Palmer foi fazer história no Emerson Lake & Palmer. O baterista contou em entrevista ao site Coluna Blues Rock que Arthur Brown “entrou para uma comunidade hippie durante a turnê americana e largou o negócio durante um tempo. Vincent Crane e eu formamos o Atomic Rooster, eu estava feliz e planejava permanecer, mas aí Keith Emerson e Greg Lake me chamaram.” 

Na mesma entrevista ele confessa ter tido um breve momento de dúvida sobre a saída do Atomic Rooster. “Assim que eu saí a banda alcançou o #1. Cheguei a pensar se não cometera um grande erro, mas OK, o ELP foi grandioso”, contou o baterista.

Junto com Palmer, o vocalista Nick Graham também abandonou o barco deixando o recém-chegado John Du Cann acumular a responsabilidade pelos vocais e Vincent Crane para realizar as linhas de baixo nos teclados. Para a bateria veio Paul Hammond oriundo da banda The Farm.

O Atomic Rooster entra, então, em sua fase de ouro que iria até 1975 e ofereceria clássicos da música progressiva como “Death Walks Behind You” (1970), “In Hearing of Atomic Rooster” (1971), “Made In England” (1972) e o espetacular “Nice ‘n’ Greasy” (1973).

Nesta primeira era de existência do Atomic Rooster, as letras, até mais do que o instrumental, chamavam a atenção e o trio chegou a ser acusado de satanismo por causa de seus temas sombrios e que faziam frente ao Black Sabbath na época. A mistura desta proposta lírica com a sonoridade complexa e profunda do rock progressivo deu certo e eles chegaram até a se apresentar no programa Top of the Pops.

Certamente, “Death Walks Behind You” (1970) foi mais bem sucedido trabalho de sua discografia nos charts, angariando um difícil 12º lugar nas paradas britânicas e realizando a façanha de entrar no Top 100 dos Estados Unidos. O meu preferido é “Nice ‘n’ Greasy” (1973), pela picardia da base bluesy/funky mais evidente e pelos excelentes vocais de Chris Farlowe. Porém este é um disco criticado e o primeiro do Atomic Rooster a não entrar nas paradas de sucesso.

Entre “Death Walks Behind You” (1970) e “Nice ‘n’ Greasy” (1973) o Atomic Rooster passou por diversas mudanças, tanto na musicalidade quanto na formação. Logo no início da preparação do álbum “In Hearing of Atomic Rooster” (1971), Vincent Crane decidiu que a banda precisava de um vocalista mais técnico. Isso mexeu com o orgulho de John Du Cann que deixou dois postos vagos na formação, imediatamente preenchidos por Pete French (vocais) e Steve Bolton (guitarra), além do baterista Ric Parnell que entrou no lugar de Paul Hammond, por sua vez deixando o posto em solidariedade à situação de Du Cann.

Esta formação durou pouco, pois logo o vocalista Pete French aceitaria o convite para entrar no Cactus, uma das melhores bandas do rock setentista, abrindo espaço na formação do Atomic Rooster para Chris Farlowe, vindo do Colosseum, e que registraria “Made In England” (1972) e “Nice ‘n’ Greasy” (1973 – este já com John Goodsall no lugar de Steve Bolton). Estes dois discos são criticados por causa da interseção do rock progressivo com o soul/funk, uma clara influência do novo vocalista.

“Nice ‘n’ Greasy” (1973) foi um fracasso comercial e após uma sequência decrescente de vendas a cada álbum a gravadora Dawn Records dispensou o Atomic Rooster. Logo Vincent Crane se viu sozinho na formação, pois os músicos foram saindo um após o outro determinando o fim da banda em 1975. De fato, Crane ainda tentou emplacar alguns singles sobre o nome Atomic Rooster, mas não houve resultado.

Só ouviria-se falar em Atomic Rooster novamente em 1980, quando Vincent Crane aparou as arestas com Du Cann e a banda lançou o disco “Atomic Rooster” naquele mesmo ano, que ainda contou com o baterista Paul Hammond na turnê de divulgação, revivendo sua formação clássica.

Porém, a trégua com Du Cann acabaria em 1982 e o disco seguinte, “Headline News” (1982), teve uma constelação de guitarristas convidados (entre eles, David Gilmour do Pink Floyd), apesar da abordagem eletrônica do trabalho. A segunda era do Atomic Rooster terminaria em 1983, com Vincent Crane encerrando novamente as atividades. Infelizmente, ele se suicidaria em 1989 e levaria com ele a essência do Atomic Rooster.

Sob a benção da viúva de Vincent Crane, Pete French e Steve Bolton ressurgiriam com o Atomic Rooster em 2016, mas sem nenhum dos membros da formação clássica, pois Paul Hammond morreu de overdose em 1992 e John Du Cann de infarto em 2011. Eles ainda continuam na ativa, apesar de não terem lançado nenhum disco até o momento.

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