Este não é o novo álbum da excelente banda russa de Pagan/Folk Metal Arkona, mas sim uma regravação de seu primeiro trabalho, “Vozrozhdenie”, lançado em 2004.
Àqueles não familiarizados com a sonoridade do Arkona, eles não apresentam a manjada festa Folk Metal, de intrincadas melodias de violino e acordeon.
Na verdade, deixam o Heavy Metal ir além da base para as harmonias que emolduram seus versos entoados em sua língua natal.
Aos ouvintes que podem estranhar o papel coadjuvante da sonoridade folk, é importante lembrar que o Arkona nasceu dedicado a costurar elementos culturais/históricos eslavos, e aqui leia-se culturais como um pacote de lendas e mitologias.
Seu próprio nome advém de um castelo eslavo, situado no Cabo Arkona, destruído em 1168 pelos cruzados liderados pelo rei Valdemar, da Dinamarca, e Absalão, Bispo de Roskilde.
A região foi assaltada, destruída pelas invasões dinamarquesas e seus habitantes evangelizados à força.
Além disso, possuem grande influência dos tradicionalismos musicais russos, cuja história nos conta ser herança das tribos eslavas orientais, mais ritmada e menos lírica que a abordagem celta.
Alheio a este riquíssimo contexto histórico temos duas posições sintomáticas frente a esta regravação, chegando ao Brasil via Shinigami Records, que, além de ter adaptado toda a escrita do trabalho para nosso alfabeto (a banda escreve em cirílico), traz um esmeradíssimo trabalho gráfico em digipack e um encarte com ilustrações que remetem à arte tradicional da Europa Oriental, contextualizando cada uma das canções.
O primeiro sintoma questiona a relevância desta regravação, afinal, a produção da primeira versão (que confesso ter ouvido somente agora para efetuar a comparação) é muito boa, pouquíssimas diferenças de arranjos saltam aos ouvidos e até mesmo a formação sofreu parcas alterações.
Ou seja, mesmo com os pequenos detalhes que ganharam mais tinta e o espírito levemente menos rústico, nada além da legítima e compreensível vontade da banda justifica clamorosamente a regravação do trabalho.
E a execução desta vontade pode refletir dois fatores aos mais críticos: auto-indulgência ou crise criativa.
Em contrapartida, o segundo sintoma mostra que a banda possui composições fortes, que não soam datadas ou ultrapassadas num estilo que foi saturado na década passada, mesmo após tanto tempo.
Isso posto, vamos ao que interessa: a música!
Fica evidente que manejam muito bem os elementos básicos do estilo, como flautas, cânticos, e progressões folk, em meio a guitarras pesadas e tempestuosas, vocais monstruosos e extremismo metálico, forjando um hinário pagão cativante, envolto num nevoeiro de detalhes austeros e abrilhantado por uma produção irretocável, que conseguiu registrar uma performance intensa.
A mistura de Metal Extremo com elementos folclóricos tem sua alma nos versáteis e hipnóticos vocais de Masha “Scream”, cujas linhas, cantadas em russo, não destoam, muito pelo contrário, fornecem um exotismo realista, fugindo do tom alegórico que por vezes assombra o estilo.
“Kolyada” abre o álbum com muita energia, melodia na medida certa e peso controlado, num envolvente abuso de contrastes e refrãos poderosos, elementos que seguirão aparecendo ao longo do trabalho, em “K Domu Svaroga” (com linhas vocais à lá Death Metal), “Chernye Vorony” (de arranjos inteligentíssimos assim como na faixa-título), “Rus'” (uma épica quase-balada Folk Metal), “Brate Slavyane” (dona de passagens climáticas, dosando beleza e brutalidade), “Solntsevorot” (que veste de folk o Metal Tradicional), “Pod Mechami” (com brilhantes detalhes e arranjos acústicos) e “Zou Predkov” (com sombrio jeito de cântico ritual), faixas que mantêm o alto nível contínuo, sendo impossível destacar pontos de máximo entre elas.
Os riffs de guitarra são um destaque à parte, bebendo nas rústicas e clássicas fontes do Heavy Metal, e apesar de todas as progressões de acordes remeterem ao folk europeu, com fluidez nos andamentos puxados para a forma eslava, melodia e extremismos, estas particularidades estílicas são usadas com parcimônia e inteligência, sem saturar o ouvinte, sendo impossível não reverenciar o artesanato musical brilhante feito por este quinteto russo.
Leia Mais:
- AMORPHIS | 5 Discos Pra Conhecer a Banda Finlandesa.
- Resenha | Korpiklaani – “Jylhä” (2021)
- Blind Guardian – “Imaginations From The Other Side” | VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO
- RESENHA | Enslaved – “Utgard” (2020)
- Bathory – “Blood Fire Death” (1988) | VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO
- RESENHA | Månegarm – “Fornaldarsagor” (2019)
Dica de Livros Sobre o Tema:
Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:
- Kindle Unlimited: 10 razões para usar os 30 dias grátis e assinar
- Os 6 melhores fones de ouvido sem fio com bateria de longa duração hoje em dia
- Edição de Vídeo como Renda Extra: Os 5 Notebooks Mais Recomendados
- As 3 Formas de Organizar sua Rotina que Impulsionarão sua Criatividade
- Camisetas Insider: A Camiseta Básica Perfeita para o Homem Moderno