Arkona – “Vozrozhdenie” (2004-2016) | Resenha

 

Este não é o novo álbum da excelente banda russa de Pagan/Folk Metal Arkona, mas sim uma regravação de seu primeiro trabalho, “Vozrozhdenie”, lançado em 2004.

Àqueles não familiarizados com a sonoridade do Arkona, eles não apresentam a manjada festa Folk Metal, de intrincadas melodias de violino e acordeon.

Na verdade, deixam o Heavy Metal ir além da base para as harmonias que emolduram seus versos entoados em sua língua natal.

Aos ouvintes que podem estranhar o papel coadjuvante da sonoridade folk, é importante lembrar que o Arkona nasceu dedicado a costurar elementos culturais/históricos eslavos, e aqui leia-se culturais como um pacote de lendas e mitologias.

Seu próprio nome advém de um castelo eslavo, situado no Cabo Arkona, destruído em 1168 pelos cruzados liderados pelo rei Valdemar, da Dinamarca, e Absalão, Bispo de Roskilde.

A região foi assaltada, destruída pelas invasões dinamarquesas e seus habitantes evangelizados à força.

Além disso, possuem grande influência dos tradicionalismos musicais russos, cuja história nos conta ser herança das tribos eslavas orientais, mais ritmada e menos lírica que a abordagem celta.

Alheio a este riquíssimo contexto histórico temos duas posições sintomáticas frente a esta regravação, chegando ao Brasil via Shinigami Records, que, além de ter adaptado toda a escrita do trabalho para nosso alfabeto (a banda escreve em cirílico), traz um esmeradíssimo trabalho gráfico em digipack e um encarte com ilustrações que remetem à arte tradicional da Europa Oriental, contextualizando cada uma das canções.

O primeiro sintoma questiona a relevância desta regravação, afinal, a produção da primeira versão (que confesso ter ouvido somente agora para efetuar a comparação) é muito boa, pouquíssimas diferenças de arranjos saltam aos ouvidos e até mesmo a formação sofreu parcas alterações.

Ou seja, mesmo com os pequenos detalhes que ganharam mais tinta e o espírito levemente menos rústico, nada além da legítima e compreensível vontade da banda justifica clamorosamente a regravação do trabalho.

E a execução desta vontade pode refletir dois fatores aos mais críticos: auto-indulgência ou crise criativa.

Em contrapartida, o segundo sintoma mostra que a banda possui composições fortes, que não soam datadas ou ultrapassadas num estilo que foi saturado na década passada, mesmo após tanto tempo.

Isso posto, vamos ao que interessa: a música!

Fica evidente que manejam muito bem os elementos básicos do estilo, como flautas, cânticos, e progressões folk, em meio a guitarras pesadas e tempestuosas, vocais monstruosos e extremismo metálico, forjando um hinário pagão cativante, envolto num nevoeiro de detalhes austeros e abrilhantado por uma produção irretocável, que conseguiu registrar uma performance intensa.

A mistura de Metal Extremo com elementos folclóricos tem sua alma nos versáteis e hipnóticos vocais de Masha “Scream”, cujas linhas, cantadas em russo, não destoam, muito pelo contrário, fornecem um exotismo realista, fugindo do tom alegórico que por vezes assombra o estilo.

“Kolyada” abre o álbum com muita energia, melodia na medida certa e peso controlado, num envolvente abuso de contrastes e refrãos poderosos, elementos que seguirão aparecendo ao longo do trabalho, em “K Domu Svaroga” (com linhas vocais à lá Death Metal), “Chernye Vorony” (de arranjos inteligentíssimos assim como na faixa-título), “Rus'” (uma épica quase-balada Folk Metal), “Brate Slavyane” (dona de passagens climáticas, dosando beleza e brutalidade), “Solntsevorot” (que veste de folk o Metal Tradicional), “Pod Mechami” (com brilhantes detalhes e arranjos acústicos) e “Zou Predkov” (com sombrio jeito de cântico ritual), faixas que mantêm o alto nível contínuo, sendo impossível destacar pontos de máximo entre elas.

Os riffs de guitarra são um destaque à parte, bebendo nas rústicas e clássicas fontes do Heavy Metal, e apesar de todas as progressões de acordes remeterem ao folk europeu, com fluidez nos andamentos puxados para a forma eslava, melodia e extremismos, estas particularidades estílicas são usadas com parcimônia e inteligência, sem saturar o ouvinte, sendo impossível não reverenciar o artesanato musical brilhante feito por este quinteto russo.

Leia Mais:

Dica de Livros Sobre o Tema:

Outros Artigos que Podem Ser do Seu Interesse:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *