“Alternative 4”, quarto disco da banda ANATHEMA é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO, cuja proposta você confere nesse link.
Definição em um poucas palavras: Alternativo, Classudo, Etéreo, Guitarra, Melancólico, Psicodélico, Sentimental, Triste, Urbano.
Estilo do Artista: Doom/Gothic Metal.
Comentário Geral: Uma coleção de canções para sonhos frágeis, corações vazios e espiritos a ponto de perder o controle, “Alternative 4” traz a evolução natural da sonoridade do Anathema.
Em “Alternative 4” a banda já estava anos-luz a frente do death/doom metal arrastado dos primórdios, registrado nos obrigatórios e brilhantes “Crestfallen” (1992) e “Serenades” (1993), disco que credenciaram a banda como parte do trio de ferro inglês do estilo ao lado do Paradise Lost e do My Dying Bride.
Os vocais tinha se transformado bastante com Vincent Cavanagh assumindo o posto após a saída de Darren White em 1995.
Mas não só isso, a sonoridade tinha dado saltos vertiginosos de “Serenades” (1993) para “The Silent Enigma” (1995) e “Eternity” (1996), com o Anathema rumando para uma sonoridade mais sólida dentro de uma personalidade musical própria, baseada na melancolia e na psicodelia.
Tanto que as mudanças de sonoridade de “Eternity” (1996) para “Alternative 4” (1998) são menores, parecendo que enfim tinham encontrado sua música no fim dos anos 1990.
“Nós sempre continuaremos progredindo, com certeza, mas ‘Alternative 4’ saiu mais da maneira que queríamos que soasse, ao contrário de outros álbuns no passado”, afirmou Vincent Cavanagh.
Porém, mesmo naqueles dias iniciais era possível encontrar elementos musicais dos mais diversos e, a exemplo de muitas bandas que iniciaram com uma proposta mais pesada, o Anathema, com o passar do tempo, também investiu em um estilo multifacetado.
Ao longo do tempo, o Anathema mostrou que ia explorar texturas, climas e atmosferas diferentes das bandas correlatas, partindo da evolução técnica e da maturidade criativa de seus músicos até culminar num banho de classe, psicodelia, e por que não, tons progressivos às suas músicas.
Aos ouvidos mais acostumados às harmonias pesadas, em certos momentos a expectativa de um vocal mais agressivo, dos primórdios, pode ate se fazer presente.
Todavia o objetivo de “Alternative 4” é explorar emoções, até por isso todos os vocais são límpidos e emocionados com leves incursões mais desesperadas.
O trabalho vocal foi, sem dúvidas, o divisor de águas na sonoridade da banda.
A saída do vocalista Darren White foi a ocasião perfeita para que Vincent Cavanagh assumisse os vocais e contribuísse com atmosferas gótico-etéreas e iniciasse uma nova fase do Anathema.
A partir de então, a temática das letras exibiu variações dentro dos temas depressão, angústia e sofrimento, emoldurados por harmonias melancolicamente belas, vozes densas e atmosferas lisérgicas.
Pinceladas progressivas completaram o quadro.
Sem dúvidas, ao aportar em seu quarto álbum, este “Alternative 4”, a banda continuava tão inovadora e relevante quanto em sua estréia, desfilando versatilidade por toda a sua discografia.
Além disso, o disco trazia uma mudança importante na formação: o baterista Shaun Steels substituiu John Douglas.
As composições aqui apresentadas mostram maturidade se comparadas ao início da carreira, com doses certas de polidez e inserções de temas sombrios, experimentalismo e forte influência do grupo progressivo Pink Floyd, ou seja, sensibilidade aliada com depressão.
Após a introdução com “Shroud of False”, que lembra algo do The Mission e traz ao mesmo tempo respingos da sonoridade de outrora, a canção “Fragile Dreams” abre o álbum resumindo-o e se colocando no glorioso posto de uma das melhores canções da história da banda, guiada por sinuosas melodias melancólicas.
Assim como também farão “Empty” (e suas vocalizações angustiantemente furiosas) e a melancolia amarga e dilacerante de “Lost Control” (se o seu anti-depressivo não estiver em dia não ouça essa música).
Tanto “Fragile Dreams” quanto “Lost Control” trazem arranjos de violino que dão um diferencial no clima das duas músicas e apontam novas possibilidades para a musicalidade da banda e refletem a sua ousadia dentro do metal.
Sem dúvidas, “Fragile Dreams”, “Empty” e “Lost Control” são as três gemas mais valiosas do repertório de “Alternative 4”.
Uma trinca que chega em sequência e revela o alto poderio que o Anathema experimentava naquele período, abrindo possibilidades para o heavy metal no fim da década.
A já citada influência de Pink Floyd é nítida aos ouvidos mais atentos, mas na canção “Destiny”, que fecha o álbum, isto fica mais evidente do que nunca.
Mesmo assim, aos duvidosos, entre as faixas bônus da edição nacional temos covers sensacionais para “Your Possible Pasts” e “One of the Few”, retiradas do esquecido “The Final Cut” (1983) e “Goodbye Cruel World”, do aclamado “The Wall” (1979).
Ouvindo esse trabalho agora percebemos como ele superou o teste do tempo.
Aliás, o passar do tempo destacou outras composições que amadureceram muito bem, mesmo com o disco tendo uma produção que hoje em dia soa um tanto estranha.
Mas é justamente essa produção que confere a profundidade a amplia os aspectos oníricos da música do Anathema ao contrastar a crueza de timbragem da bateria e de algumas guitarras, com os vocais e os climas mais abrasivos.
Um exemplo é “Feel”, outra canção carregada de sentimento e que merece ser citada por seus arranjos de teclados, cordas e guitarras pesadas, com alguma sobra do espírito antigo, porém evoluído, assim como em “Re-Connect”, que traz uma mistura interessante dos discos anteriores com o progressivo e o rock alternativo (também evidente influência à julgar pela bônus “Better off Dead”, um cover do Bad Religion).
Já “Inner Silence” mostra como o Anathema ainda era uma banda vanguardista dentro do doom metal, se colocando no ponto médio entre metal arrastado e o rock progressivo da época.
Por falar em progressivo, a faixa-título desenha-se pelas formas mais climáticas e dramáticas do gênero, com aspirações emocionais góticas, sendo outro dos destaques positivos deste disco.
A épica “Regret” é outra dentre as marcantes faixas do álbum, não somente por sua extensão, mas por seus versos, interpretação, arranjos, múltiplas variações sonoras e nuances confortavelmente tristes que estampam sem pestanejar o nível de brilhantismo que o Anathema adquiriu nesta nova fase.
Infelizmente, apesar de ótimos trabalhos futuros (como “A Fine Day To Exit” (2001) e “Hindsight” (2008)) o quinteto (e atualmente sexteto) de Liverpool nunca mais conseguiu atingir o mesmo equilíbrio entre os elementos aqui utilizados de modo tão homogêneo.
“Alternative 4” é um disco que não pode ser simplesmente ouvido, mas também deve ser sentido. Coloque o disco pra rolar, feche seus olhos e preste atenção a cada detalhe.
Aproveite que a Hellion Records acabou de relançar esse disco no Brasil e vá atrás de modo urgente, pois VOCÊ DEVIA OUVIR ISTO!
Ano: 1998
Top 3: “Fragile Dreams”, “Empty” e “Lost Control”.
Formação: Vincent Cavanagh (vocais, guitarras), Shaun Steels (bateria), Duncan Patterson (baixo, piano e teclados), Danny Cavanagh (guitarras, piano e teclados).
Disco Pai: Pink Floyd – “The Final Cut” (1983).
Disco Irmão: The Gathering – “How To Measure A Planet” (1999).
Disco Filho: Antimatter – “Leaving Eden” (2007).
Curiosidades: O nome do álbum foi inspirado no livro “Alternative 3”, do escritor Leslie Watkins, baseado em um roteiro para um programa de TV batizado com o mesmo nome. Tanto o livro quanto o programa discorriam sobre teorias conspiratórias.
Na época da composição do álbum, o livro era lido por Duncan Patterson, um dos principais compositores e baixista da banda, que deixaria o posto após este álbum.
Pra quem gosta de: sol com chuva, vinho branco, anjos e manhãs outonais.
Leia Mais
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