Eis uma obra-de-arte!
“Runaljod – Ragnarok” (2016) é o terceiro álbum da banda norueguesa Wardruna, fechando a trilogia Runaljod, inspirada nas vinte e quatro antigas runas de Elder Futhark, o alfabeto rúnico mais popular entre os praticantes contemporâneos de magia rúnica.
Assim como às runas são atribuídos poderes sobrenaturais, as faixas de “Runaljod – Ragnarok” capturam muito bem esse mistério advindo do alfabeto rúnico de Futhark, se destacando pela inspiração na cultura nórdica e tradições esotéricas, através de percussão, instrumentos tradicionais, e flauta misturados aos sons da natureza, interpretando musicalmente todo o caráter antigo do conceito, numa cativante variedade de intensidade e emoções, promovendo uma viagem extra-sensorial, quase espiritual em sua música.
Einar “Kvitrafn” Selvik (vocais, e múltiplos instrumentos) é a mente responsável por esta obra-prima musical, muito bem acompanhado por Lindy Fay Hella (vocais e flauta), formando o cerne do Wardruna neste último capítulo de sua trilogia rúnica…
Seguindo uma geometria estrutural erudita, como se uma sinfonia se desenvolvesse por instrumentação tribal e cânticos cerimoniais, temos um aspecto geral de trilha sonora de épico medieval.
Neste contexto, “Tyr” (inspirada na runa de justiça associada ao deus que domou o lobo Fenrir) impõe gravidade e força já na abertura, com o clima e o suspense que imbui um guerreiro de coragem para uma batalha que se inicia.
É incrível como a música criada pelo Wardruna traz impressões aos outros sentidos do ser humano, além da audição, conseguindo penetrar na mente de modo quase espiritual.
Tente ouvir “Urur” e não cair numa viagem suave pelos arranjos hipnóticos que conseguem recriar a atmosfera em torno do ouvinte, lha dando aromas e sons de uma floresta nórdica. Esta composição está ligada à runa associada ao auroque, muito usada para os feitiços de cura, e também para catalizar mudanças e evoluções.
É importante ressaltar que alguns registros foram realizados ao ar livre, capturando sons da natureza que potencializam os efeitos das cornetas típicas, resultando numa música única, mágica, rústica e requintada, pagã e sagrada, tudo ao mesmo tempo, por mais paradoxal que isso seja.
Essa faixa é um dos maiores destaques de “Runaljod – Ragnarok”, ao lado das duas partes de “Mannar” (runa que se refere ao “homem” no sentido de humanidade”), “Drivande” e “Liv” (a primeira mais climática e linear, enquanto a segunda vem guiada pelos vocais que variam em textura, melodia e intensidade), além de “Odal” (com um coro de vozes infantis que emociona junta às melodias belíssimas que representam uma runa de prosperidade, voltada para empreendimentos duradouros), “Pertho” (bom gosto instrumental aliado ao melhor trabalho de vozes do trabalho) e “Wunjo” (com um espírito de renascimento nos arranjos inspirados na runa associada à vitórias).
É importante ressaltar que os registros realizados ao ar livre, potencializaram os efeitos das cornetas típicas, junto aos tambores, vocais femininos (mais proeminentes em “Isa”), e flautas (com destaque nas melodias vívidas da folk “Raido”), resultando numa música única, mágica, rústica e requintada, pagã e sagrada, tudo ao mesmo tempo, por mais paradoxal que isso seja.
Confira o clipe para a belíssima “Raido”… [youtube https://www.youtube.com/watch?v=3fnPwj1AMpo&w=560&h=315]
Este é um trabalho para ser sentido, e difícil de ser comentado. É, em suma, uma interpretação musical de conceitos arcanos, místicos e runológicos, que pode ser resumida, filosófica e musicalmente, na faixa que encerra a trilogia, “Runaljod”, com liberdade nos arranjos e brilhantismo no resultado final.
A edição nacional, lançada pela Heavy Metal Rock, num luxuoso slipcase, traz um encarte bilíngue, traduzindo para o inglês as letras que vêm originalmente em alguma língua nórdica.
Conheça também, se já não o fez, as outras duas partes desta trilogia, “Runaljod – gap var Ginnunga” (2009) e “Runaljod – Yggdrasil” (2013), pois elas formam uma obra única e bela, que pode mudar sua forma de enxergar a música de modo geral!
E não custa repetir: eis uma obra-de-arte!
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