Escolher cinco discos do Megadeth é o mesmo que escolher cinco discos da carreira de Dave Mustaine. Afinal ele é, e sempre foi, o Megadeth! Neste artigo fazemos exatamente isso, escolhemos os cinco discos que achamos essenciais para conhecer a trajetória de Dave Mustaine e sua banda. Mas veja bem, isso não significa que escolhemos os melhores discos do Megadeth, apenas aqueles que são estratégicos para entender dua evolução dentro da discografia.
Nossas escolhas são baseadas num parâmetro específico: apresentar o que de melhor a banda teve em cada uma de suas diferentes fases: o início, o ápice criativo, a mudança de sonoridade, o retorno após os problemas de saúde de Dave Mustaine e a retomada da sonoridade clássica.
Megadeth | Cinco Discos Para Resumir a Banda de Dave Mustaine
Logo depois de ter sido expulso do Metallica (por abuso de álcool e drogas e se tornando uma pessoa de difícil convivência), o guitarrista Dave Mustaine jurou vingança e criou sua própria banda: o Megadeth. Seu nome veio de uma corruptela da expressão megadeath, ou seja, milhões de mortes.
A banda nasceu em 1983, quando Dave Mustaine encontrou Dave Ellefson, um baixista de 18 anos com quem formaria uma das mais importantes duplas de músicos do Heavy Metal. Desde o primeiro álbum, o Megadeth mostrava que aquele thrash metal desenvolvido pelo Metallica tinha origem também nas habilidades de Dave Mustaine, um músico de habilidades extraordinárias para misturar peso, técnica e velocidade.
A formação do Megadeth sempre viveu trocas constantes de músicos até que em seu quarto álbum “Rust In Peace”, estabeleceu-se aquele que é considerado o quarteto clássico, com Mustaine e Ellefson acompanhados do baterista Nick Menza e do excepcional guitarrista Marty Friedman, um time que transformaria a banda de Dave Mustaine num sucesso de vendas ao longo da década de 1990.
1. “Peace Sells… But Who’s Buying?” (1986)
Escolhi “Peace Sells… But Who’s Buying” para representar a primeira fase da banda, que pra mim engloba seus três primeiros discos. Nesse período, Dave Mustaine destilou sua raiva em uma forma agressiva e incisiva do thrash metal, mas ainda sem dar o devido valor ao equilíbrio destas características com a criatividade melódica, algo que viria à partir de “Rust In Peace”.
Pensando bem, este segundo disco do Megadeth já ensaiava muito do que ouviríamos em sua fase mais aclamada no futuro, à começar pela abertura com “Wake Up Dead”, “The Conjuring”, e “Peace Sells”. Uma trinca de bons exemplos dos primórdios do thrash metal e da óbvia comparação nestes primeiros anos entre o Megadeth e o Metallica.
“Peace Sells… But Who’s Buying” vendeu muito bem, chegando a Disco de Platina nos Estados Unidos e no Canadá, aumentando o tamanho e a periodicidade dos shows.
2. “Rust in Peace” (1990)
Basta uma primeira conferida na sequência inicial de “Rust in Peace” para ter a certeza de que alguma confluência astral conferiu uma química sem igual a esse renovado time de músicos na biografia do Megadeth. “Holy Wars… The Punishment Due” (com sua crítica ácida à política e à religião no Oriente Médio) e “Hangar 18″ (dialogando com a capa e teorias conspiratórias como a Area 51) apresentavam todo aquele thrash metal técnico e agressivo pelo qual a eram conhecidos, mas a criatividade e a excelência das composições estava um nível acima.
O repertório ainda traz “Take no Prisioners” (com seus backing vocals imperativos), “Five Magics” (mantendo algo de progressivo no repertório), “Poison Was the Cure”, “Lucretia”, “Tornado of Souls”, “Dawn Patrol”, e “Rust in Peace… Polaris”, todas clássicas que evidenciavam a revitalização do Megadeth com a entrada dos habilidosos Marty Friedman, na guitarra, e Nick Menza, na bateria. Sem dúvidas, a performance de ambos foi capaz de dar mais maturidade à musicalidade da banda, apresentando-a como um dos mais fortes nomes em potencial para o heavy metal na década vindoura.
Só um registro: tanto “Countdown to Extinction” quanto “Youthanasia”, ambos produzidos pelo lendário Max Norman, poderiam estar nesta lista por seus méritos musicais, mas nosso foco aqui é escolher cinco discos que representem bem a discografia do Megadeth como um todo. Para representar esse período dourado escolhi “Rust in Peace”. Mas não há como negar que com estes outros dois álbuns a banda estava no seu auge!
3. “Cryptic Writings” (1997)
“Cryptic Writings” chegou causando polêmicas pela sonoridade. Que aos meus ouvidos não é nada além de uma continuidade do que vinham fazendo nos dois discos anteriores, principalmente na exploração mais melodiosa e amainada de “Youthanasia”.
Tecnicamente não há críticas ao que ouvimos nesse disco. Aliás, não pra desabonar um álbum que abre com a trinca “Trust”, “Almost Honest” e a densa “Use the Man”. Sim, a banda pendia mais para o hard rock do que para o thrash metal enquanto se equilibrava sobre o fina linha do heavy metal e soava ainda mais comercial. Porém, a maturidade das composições desabona qualquer ataque mais forte a elas pelo simples perigo de soarem como críticas infantis de um órfão do passado.
Possivelmente a cadência das músicas pode incomodar quem preferia os arroubos raivosos dos anos 1980, mas aqui não só era outra banda, mas também outros compositores talhados pelas suas experiências e produzidos por profissional da música pop, Dann Huff. Deu certo e o Megadeth trouxe mais um disco de platina para sua coleção.
4. “Endgame” (2009)
O Megadeth teve um hiato na virada do milênio, um período de incertezas para Dave Mustaine que lutava com seus demônios pessoais e problemas de saúde. Mas desde que retomou as atividades em 2003 seus discos vinham crescendo em qualidade até explodir definitivamente em “Endgame” (2009).
“Endgame” seria guiado pelos clipes de “Head Crusher” (um arrasa-quarteirão impiedoso!) e “The Right to Go Insane” (mais cadenciada, mas não menos irada). Porém, não há como descartar faixas como “Dialectic Chaos” (uma vertiginosa e progressiva faixa instrumental que abre o trabalho), “44 Minutes” (com sua tensão e dramaticidade remetendo à época de “Countdown to Extinction”), “Bite the Hand”, “Bodies” (com uma melodia no refrão que lembra a fase “Cryptic Writings”) e “How The Story Ends”.
Perceba, não estou colocando “Endgame” no mesmo patamar de um “Rust in Peace”, um “Peace Sells…” ou mesmo um “Countdown to Extinction”, mas é impossível negar que com esse disco, o Megadeth fechava a primeira década do novo milênio dando aos fãs uma esperança de que as coisas seriam bem melhores em termos musicais, pois parece que Mustaine havia reencontrado seu rumo.
5. “Dystopia” (2016)
A nova década se abria ao Megadeth com o retorno de Dave Ellefson para comemorar os vinte anos de lançamento de “Rust In Peace”, porém, falando de uma forma geral, tudo já estava no lugar, a identidade intacta, mas faltava, salvo por um lampejo em 2009, um brilho para retirar a sensação de ouvirmos uma versão genérica do que apresentaram nos anos 1990.
Parece que esse brilho viria em “Dystopia”, lançado em 2016, um disco em que Mustaine reforma o time de músicos Mustaine trazendo o guitarrista Kiko Loureiro, do Angra, e Chris Adler, baterista do Lamb of God, formando um verdadeiro supergrupo do heavy metal para registrar o material.
A capa já dava indícios do que viria com o reaparecimento de um renovado e distópico Vicky Rattlehead. Neste contexto, “Dystopia” não apresenta nada de novo. Todavia, o Megadeth caminha por um trilha moderna, lançando mão do que melhor apresentou musicalmente ao longo de sua história.
“Fatal Illusion”, por exemplo, remete a “Peace Sells… But Who’s Buying” (1986), “Death From Within” poderia estar em “Youthanasia” (1994), enquanto a belíssima “Poisoness Shadows” tem aquele tempero hard rock melancólico de “Cryptic Writings” (1997). Já “The Emperor” poderia figurar no repertório do injustiçado “The World Needs A Hero” (2001). Ou seja, tudo soa como uma coletânea de um Megadeth oriundo de um universo paralelo ancorado numa distopia digital e inorgânica.
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