Ed Motta é um dos nomes mais brilhantes dentro da música nacional na última década e apresenta um ótimo álbum intitulado “Perpetual Gateways”.
Vejo certa má vontade para com a arte musical de Ed Motta, seja por suas recentes declarações polêmicas (a verdade dói!), seja pela riqueza intelectual de sua obra, interpretada por alguns como arrogância musical.
Todavia, poucos possuem a habilidade de transitar por estilos, harmônias e melodias variados de modo tão fluido e envolvente quanto Ed Motta, um estranho no ninho da MPB atual.
Sem sombra de dúvidas, a maturidade fez bem para sua música e o álbum anterior, AOR (um dos melhores álbuns de 2013), já mostrava que ele havia desenvolvido sua alquimia musical, baseada em melodias pop e requintes jazzísticos, de modo magnífico.
Naquele álbum, ele explorava canções baseadas no rock/pop derivado do fusion e progressivo, muito popular nas FM’s em anos idos.
De modo elegante, Ed Motta, periodicamente, dá tapas de boa música nos defensores da exclusividade e restrição do “bom gosto” aos encurralados no terreno indie.
Em “Perpetual Gateways”, novo álbum, as melodias continuam esmeradas dentro de uma inteligente e ousada variedade musical, em arranjos classudos e linhas limpas de piano, promovendo uma evolução sonora contínua e sem truncamentos de estilos.
Desta forma, percorremos as canções sem sustos, partindo do jazz/funk melódico e confortante de “Captain’s Refusal”, até as tonalidades dissonantes que permeiam o exercício jazzístico brilhante de “Overblow Overweight”.
Neste passeio musical, Ed Motta encaixou doses do mais puro jazz dentro da abordagem empregada no álbum anterior, em solos e andamentos livres, através de solfejos bem encaixados e altas doses de improviso.
Aos iniciados no mundo do jazz, nomes como Art Tatum, Dave Brubeck e Charles Mingus serão de imediata referência ao longo de algumas composições.
Mas não espere academicismos musicais, ou andamentos sisudos, pois Ed é natural da pura sensibilidade musical do soul e corre livremente por gigantesca criatividade harmônica.
Dentre os destaques isolados: “Hypocondriac’s Fun” (um jazz/pop envolvente, com guitarras cíclicas, naipe de metais incisivos mas não agressivos e desfecho visceral), “Reader’s Choice” (com forte clima noir), “Forgotten Nickname” (balada jazzística belíssima), “A Town In Flames” (jazz flamejante com melodiosas linhas vocais e chuviscos refrescantes de órgão Hammond), “The Owner” (Dave Brubeck imerso em melodias lascivas e abrasivas) e “I Remember Julie” (um jazz borbulhante, com linhas vocais sinuosas que duelam com o instrumental).
Ou seja, todo o álbum!
Não perca tempo e confira este que certamente será um dos quinze melhores álbuns do anos de 2016!
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