Angra – Resenha de “Omni” (2018)

 

Angra Omni
Angra: “Omni” (2018, Shinigami Records) NOTA:9,5

Li e ouvi várias vezes antes de escutar “Omni”  que este é “o melhor trabalho do Angra desde ‘Temple of Shadows’!” Me soava exagerado, como fruto do hype que cerca quase todo novo lançamento de bandas importantes.

 Além do mais, gosto bastante do álbum anterior, “Secret Garden” (2014), até mais do que o citado (e ótimo) “Temple of Shadows”. Lembro que na época do lançamento daquele álbum de 2014 registrei em minha resenha que ele era o melhor disco do Angra desde  “Rebirth” (2001).

Mas sejamos objetivos, “Omni”, nono disco de estúdio do Angra, possui realmente toda esta excelência musical? Sendo bastante sincero… Sim! Indubitavelmente,  “Omni” é um disco mais coeso que seu anterior, com forma e conteúdo audaciosos em igual medida.

O vocalista Fabio Lione (Rhapsody Of Fire e Vision Divine) se incorporou ainda mais à identidade do Angra,  imprimindo muita classe à sonoridade e maturidade em suas linhas vocais, que cortam a roupagem progressiva insinuante tanto em conceito quanto em música, como já podemos ver na essencialmente melódica “Light of Transcendence”, abertura do álbum.

Por esse início já observamos uma alta criatividade técnica, com peso bem diluído entre os aspectos épicos e grandiloquentes do segundo plano, principalmente nos momentos orquestrados que carregam consigo um sabor de trilha sonora acentuado.

Também é perceptível uma preocupação na alocação das partes de guitarra, que são melódicas, técnicas e intensas, como corrobora a composição que vem na sequência, “Travelers of Time”, e em faixas como “Insania” (preste atenção às linhas de baixo desta música), e “War Horns” (com groove bem administrado) que soam mais clássicas, mesmo que sempre tenhamos detalhes progressivos borbulhando no caldo musical.

Liricamente, o conceito é intrincado, percorrendo universos paralelos e extensões da consciência, num exercício intelectual de projeção entre ficção científica (à lá Philip K. Dick) e modernas teorias científicas  (como a que vimos nesse texto), bem representadas nas ilustrações do encarte, como num antigo tratado científico/ocultista.

Nesse contexto, “Omni” se revela por detalhes múltiplos, que se apresentam a cada nova audição, seja por música ou por letra, enquanto explora terrenos por vezes fora da realidade do heavy metal em ambos os casos.

“The Bottom of My Soul”, “Magic Mirror” “Always More” (uma balada com pegada roqueira), por exemplo, trazem formas diferentes do apelo prog/rock moderno, mas forjado no calor da identidade musical do Angra.

Na verdade, essa tangência ao prog/rock aparece sempre que a voz de Rafael assume o protagonismo. Já “Caveman” traz regionalismos e brasilidades musicais interessantes à estrutura altamente progressiva.

O peso e a melodia estão bem equilibrados em camadas sobrepostas e contornados por  texturas musicais diferenciadas enquanto alternam velocidade, intensidade e sentimentos. Existem pormenores de bandolim, violões, percussão, teclados e orquestrações que enriquecem sem presunção a sonoridade.

Olhando friamente,“Omni” é um disco progressivo, mas esse caráter é bem equalizado pelas linhas altamente melódicas dos vocais de Lione, principalmente nos refrãos. E por isso, em certo sentido, “Omni” é mais dramático e épico que “Secret Graden” (2014), características explícitas na faixa “Omni – Silence Inside”, uma perfeita síntese do que pode ser visto em todo o disco.

Nesse sentido, claramente existe uma ampliação da proposta musical do álbum anterior, principalmente por doses bem vindas de virtuose e na geometria estrutural (leia-se mudanças de tempo e harmonias grandiloquentes).

Até por isso, o baterista Bruno Valverde se destaca novamente, pela enorme versatilidade técnica, incorporada ao alicerce musical com força e solidez, condicionando os outros membros a expandirem seus horizontes, enquanto conseguimos assimilar o diálogo da banda com o seu próprio legado discográfico.

Marcelo Barbosa também realiza um trabalho primoroso, com linhas afiadas e complexas, bem sustentadas pelas bases sólidas e inteligentes de Rafael Bittencourt, que também é destaque pelos momentos em que ataca de vocalista (principalmente na já citada “The Bottom of My Soul”).

Aconselho a uma audição atenta seguindo as linhas de baixo de Felipe Andreoli, para perceber como ele vai muito além de seguir a bateria e alicerçar as guitarras. 

Mantendo os acertos de outrora, se em “Secret Garden” (2014) tivemos as participações especiais de Doro Pesch e Simone Simons, nas faixas “Crushing Room” e “Secret Garden”, respectivamente, agora contamos com Alissa White-Gluz (Arch Enemy) e Sandy, numa parceria polêmica na sensacional “Black Widow’s Web”. E até pelo frisson que causou esta faixa ela merece um comentário pormenorizado.

Ouso dizer que mesmo com a constante mudança de andamentos e variação de vozes, talvez esta fosse a composição mais “acessível” do álbum se não existisse a belíssima  “Always More”A melodia do refrão tem um gancho irresistível, assim como a dinâmica provocada pela dança de melodia e peso alinhavada aos padrões do metal atual, além do contraste dado pelas vozes das duas, ficou perfeitamente alocado no contexto da composição, entre a delicadeza e a agressividade, tendo no régio timbre de Lione seu fulcro.

Mais do que isso! “Black Widow’s Web” é uma das melhores composições do álbum, de forte apelo dramático, e alto poder de cativar. Não  creio que foi um risco trazer uma artista como a Sandy para o disco. Isso só mostra a postura da banda quanto a sua arte, com total controle dela, dando exatamente o que sua música pede para se tornar grandiosa, livre de rótulos e preconceitos musicais.

No caso da participação da Sandy, que causou tanta polêmica dentre os fãs, seu timbre vocal era exatamente o que a canção pedia. Ficou excelente, e exercitando a sinceridade mais uma vez, gosto menos no trabalho da Alissa nesta faixa.

“Omni” é um álbum que precisa de atenção do ouvinte e audições sucessivas para ser entendido e absorvido em sua plenitude. Ao mesmo tempo, ele é cativante o suficiente para não soar tão complexo o quanto realmente é (como na muito citada “The Bottom of My Soul”).

Quanto a questão inicial, de “Omni” ser ou não melhor que este ou aquele disco, acredito que o tempo se encarregará de dizer. O Angra é uma banda com muitas fases e a resposta a isso sempre esbarra no gosto pessoal!

Mas confesso que de agora em diante, sempre que buscar um disco do  Angra pra ouvir a possibilidade de ser “Omni” é enorme.  Afinal, olhando para sua discografia, aqui atingiram o ápice de sua forma como compositores, e a prova irrefutável está em “Omni – Infinite Nothing”. 

Num adjetivo apenas, “Omni” é um disco grandioso!

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