Eis um dos discos que mais estava curioso para ouvir dos remanescentes da lista de 2017.
É fato que Yamandú Costa refinou muito sua forma como compositor e seus últimos trabalhos são indefectíveis.
Agora, ao lado do multi-instrumentista paulista Alessandro Penezzi, nos oferece mais uma parcela de sua excelência ao violão, destacando que Penezzi, “assim como ele, teve acesso à música de fronteira, e que o encontro dos dois se deu de forma muito natural”.
E o fruto da parceria entre estes dois músicos ímpares dentro da contemporaneidade musical brasileira foi um diálogo grandiloquente, numa sobreposição de melodias e harmonias fluidas, com saboroso calor latino das escolas flamenca e cigana (muito proeminente na febril faixa que dá título ao álbum, uma composição de Penezzi) temperado de modo acentuado pela escola brasileira (como Yamandú destaca em sua belíssima composição “Samba Pro Rafa”).
O próprio termo “Quebranto”, que batiza o trabalho, remete ao esoterismo cigano, reforçado pela capa cheia de simbolismo, dando uma carga “mágica” ao que é praticado com virtuosismo (borbulhante em “Amigo Bonilha”, uma homenagem a Arthur Bonilha) nestas treze composições que se situam na fronteira entre a erudição advinda da alta técnica e a música popular, naquele lugar de fascínio e paixão que a boa música nos insere.
Dentre as músicas, temos parcerias entre ambos, bem como composições de cada um dos dois (duas de Alessandro e três de Yamandú), além de uma composição belíssima de Sérgio Napoleão Belluco, “Valsa Seresta nº1”, mentor de Alessandro, e outra de Lúcio Yanell (ao lado do pupilo Yamandú) na instigante “Meus Gurizinhos”.
A performance de ambos é irrepreensível, com uma perfeita sincronia quando trabalham em uníssono (com destaque ao que fazem na abertura “Capitão do Mato”) e sintonia afinada para sobreposições (como na cadência abrasileirada de “Chico Balanceado”), características amplificadas por uma produção cristalina, impressionando pela musicalidade impressa nos fraseados e dedilhados ágeis, e batidas vigorosas, que deixam tudo muito familiar e envolvente aos ouvidos acostumados à música brasileira.
Um exercício interessante, permitido pela produção do álbum, é isolar cada violão pelos canais de áudio, nos dando a real dimensão do quão entrelaçado se tornou o casamento dos dois violonistas.
Num repertório tão esmerado e talhado nos detalhes separar algum destaque é quase um pecado, mas não dá pra desprezar a superioridade de “Chorando é que se aprende” (que ecoa o saudosismo da música popular nacional) e “Valsa Seresta nº1”, pela beleza e sensibilidade que emociona, bem como “Valsa Morena” (ápice do enlace das escolas musicais), o lirismo de “Bolero Negro”, e a percussiva “Saracoteco”.
“Quebranto” é um trabalho onde as notas musicais se fazem movimento e criam uma geometria musical extremamente familiar, tecnicamente complexa e sofisticada por definição, entretecido ora ao erudito, ora ao popular.
Um dos grandes álbuns de 2017!
Confira Yamandu e Alessandro numa performance de “Capitão do Mato”…
Confira Yamandu e Alessandro numa performance de “Chico Balanceado”…
Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground Yamandu Costa & Alessandro Penezzi Quebranto Cultura Pop e Underground
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