“The Forest Seasons” de Wintersun é uma demonstração impressionante de talento musical e criatividade, que faz uma releitura de “As Quatro Estações“, de Antonio Vivaldi. Nossa resenha investiga os intrincados detalhes desta sinfonia de invernal à moda heavy metal.
O terceiro álbum do Wintersun, “The Forest Seasons”, é uma obra-prima do heavy metal sinfônico que leva os ouvintes a uma jornada pelas estações do ano. Jari Mäenpää, o mentor do Wintersun, cunhou sozinho, literalmente, em “The Forest Seasons” uma releitura do conceito de “As Quatro Estações“, de Antonio Vivaldi, através de uma musicalidade extremamente técnica, tipicamente nórdica, guiada por riffs ultra-velozes e partes épicas que remetem a trilhas sonoras. Nesta resenha, exploraremos os destaques desta sinfonia de invernal à moda heavy metal e por que vale a pena adicioná-la à sua lista de reprodução.
“As Quatro Estações”, de Antonio Vivaldi é umas mais emblemáticas obras da música erudita, construindo quatro concertos barrocos que descrevem as estações do ano por melodias cativantes e virtuose aliada ao bom gosto. Consideradas as proporções devidas, é impossível não associar “The Forest Seasons”, terceiro álbum do Wintersun, principalmente pela estrutura de quatro longos temas que giram em torno das quatro estações do ano, neste caso, descrevendo-as pelo frio e pela melancolia das florestas nórdicas. Claro que as similaridades acabam no conceito da tentativa de expressar fenômenos naturais em forma de música.
Abaixo você tem ofertas de “The Forest Seasons“ e “Wintersun”, do Wintersun. | ||
Só para situar o leitor é importante lembrar que o Wintersun nasceu em 2004 como um projeto paralelo de Jari Mäenpää, à época guitarrista e vocalista do Ensiferum, nome forte do Epic/Folk Metal finlandês. Banda a qual ele abandonou quando sua agenda conflitou com a gravação do primeiro álbum do Wintersun, que à partir de então passou a ser sua banda principal, lançando dois álbuns: o primeiro auto-intitulado de 2004, e “Time I”, de 2012, uma obra tão grandiloquente que a espera pela sua segunda parte é aguardada com ansiosidade.
Mas Jari é um perfeccionista e os cinco anos que passou escrevendo e gravando “Time II” revelaram problemas técnicos, levando o projeto a ser paralisado temporariamente. Desta forma, ele escreveu um álbum novo, do zero, até que os problemas técnicos sejam superados e a aguardada segunda parte de seu icônico trabalho ganhe vida. Neste contexto, nasce “The Forest Seasons”, uma obra uníssona dividida em quatro atos de criativas harmônias folk, espírito Viking Metal, com velocidade e variação vocal entre agressividade e limpidez. E como já era de se esperar, temos uma musicalidade extremamente técnica, guiada por riffs ultra-velozes e partes épicas que remetem a trilhas sonoras.
É interessante observar que no hemisfério norte, o ano começa no inverno e a primeira estação completa é a primavera, e assim como na obra de Vivaldi, “The Forest Seasons” também inicia na primavera, com “Awaken From The Dark Slumber (Spring)”, anunciada pelos últimos ventos e sons do inverno, que dão espaço ao renascimento da primavera, interpretada por uma urgência nos arranjos orquestrados e instrumental vívido, construído sobre agressividade e velocidade uniforme, com suas duas partes bem definidas.
Na sequência temos “The Forest That Weeps (Summer)”, com a cadência dos ventos mornos da estação também presente na variação entre vocais limpos e guturais, com tempestades rápidas intercaladas por climas amenos desenhados por um instrumental diferenciado e tipicamente folk, além de jogar um pouco de luz, por orquestrações e cânticos épicos, nos tradicionalismos sombrios do metal extremo escandinavo.
“Eternal Darkness (Autumn)”, trará o acinzentado e melancólico espírito da estação, com mais densidade impressa pelas sombras que começam a se criar, bem desenhado pelos arranjos que uivam como os ventos outonais, enquanto um ríspido e gélido instrumental à lá Black Metal sinfônico se desenvolve, implacável e mórbido, numa dualidade interessante com arranjos de muito bom gosto nos intervalos da pancadaria sonora.
Dividida em quatro partes que representam a evolução rumo ao inverno por um crescente tom gélido e frio, “Eternal Darkness (Autumn)” eclode em “Loneliness (Winter)”, que desenvolve os mesmos elementos de um modo ainda mais melancólico, depressivo, frio, angustiante, e contemplativo, por dramáticas e épicas linhas vocais limpas, além de instrumental cadenciado, minuciosamente trabalhado e, quiçá, a mais requintada das quatro peças que completam “The Forest Seasons”.
É impressionante ter um trabalho como este em mãos, e notar que cada detalhe desta minuciosa epopeia veio das mãos de uma pessoa só, afinal, Jari Mäenpää fez os vocais principais e secundários, guitarras, baixo, programação da bateria (não que seja um problema, mas confesso que queria ouvir estas composições com um baterista), teclados, samples, forjou todas as composições e escreveu todas as letras, além de produzir o álbum. Pra não dizer que fez tudo sozinho, temos participações em vocais de apoio de Teemu Mäntysaari e Jukka Koskinen.
Em suma, “The Forest Seasons” é um hinário pagão cativante, envolto num nevoeiro de detalhes multifacetados e de extremo bom gosto, com claras remissões a nomes como Bathory (fase “Blood Fire Death” e “Hammerheart”), Moonsorrow, Ulver, Enslaved e Amorphis. Vale uma conferida atenta neste material diferenciado!
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