We Sell the Dead – Resenha de “Heaven Doesn’t Want You And Hell is Full” (2018)

 

We Sell the Dead, "Heaven Doesn't Want You And Hell is Full" (2018)
We Sell the Dead – “Heaven Doesn’t Want You And Hell is Full” (2018, Shinigami Records) NOTA:9,0

Geralmente, gosto de fazer audições de novos discos “no escuro”. Ou seja, se for alguma banda que eu não conheça, costumo procurar informações sobre ela apenas após a primeira ouvida no material.

Confesso que não sou muito de ficar assistindo clipes no Youtube, e muito menos de ficar dando atenção aos singles digitais, afinal, acredito que um álbum tem que ser apreciado como toda peça de arte; pelo todo e não por suas partes!

Até por isso, admito que tomei um susto quando ouvi “Heaven Doesn’t Want You And Hell is Full” (que título genial esse!), álbum da banda We Sell The Dead, pois após uma olhadela na arte da capa, perceber a fonte que marca ali o nome da banda, e principalmente o próprio nome da banda, eu jurava que ia ouvir um novo álbum de metalcore, ou deathcore. 

Sei que depois de conferir as nove composições aqui presentes essa ideia soa um tanto estapafúrdia, mas diga a verdade, a alcunha We Sell the Dead não se encaixa perfeitamente nos moldes que batizam as banda destes gêneros?

Agora pense neste que vos escreve esperando aquele tipo de som e o que se desenrola em “Echoes Of An Ugly Past”, após a introdução teatral e com misteriosas cores circenses de “The Body Market”, é uma proposta musical que segue a escola do peso sorumbático guiado por riffs de ganchos robustos, linhas vocais com melodias melancólicas construídas pra marcar, e seção rítmica compacta, como discípulos fervorosos do mestre Leif Edling, seja no Candlemass, Avatarium, Abstrakt Algebra, Krux ou Doomsday Kingdom.

Ou seja, que surpresa boa!

A banda sueca We Sell The Dead é formada por músicos experientes e ligados a nomes como In Flames (o guitarrista Niclas Engelin é o mentos do projeto), Spiritual Beggars, e HIM, fato que explica como conseguiram formatar já neste primeiro trabalho um consistente universo próprio, não só em música, mas também em conceito (construído sobre a proposta quase literária de colocar Jack, O Estripador, na Gotemburgo do Século XIX) desenhado pela junção das animações criadas para as composições.

We Sell the Dead Heaven Doesn't Want You And Hell is Full
O We Sell The Dead junta músicos experientes e ligados a In Flames, Spiritual Beggars, e HIM, e cria um universo próprio envolvendo Doom Metal, Heavy Rock, Jack, O Estripador e a Gotemburgo do Século XIX…

Mesmo com todas as referências e influências plenamente identificáveis, o We Sell The Dead consegue criar uma identidade versátil que dialoga com o heavy rock e o heavy metal clássico das décadas de 1970 e 1980, mas sem o proposital apelo vintage tão em voga ultimamente, mesmo que seja carregado nas tintas gótico-vitorianas alinhavadas ao conceito.

Você lembrará do Black Sabbath (principalmente da fase Tony Martin) aqui, do Trouble acolá e até do The Cult e do Magnum em  certos momentos, numa riqueza melódica que revela um grato prazer na audição, amplificado pela produção certeira.

Aqui, a envolvência se dá pela imprevisibilidade! Cada composição segue seu caminho, sem balizas ou pré-determinações, mudando seu curso no meio do caminho se assim desejar.

Além disso, existe uma variabilidade instigante de uma composição para outra, criando uma envolvência que aguça a curiosidade pelo que virá à seguir.

Mas não pense que isso gera uma sensação de “tatear no escuro”. Pelo contrário, a personalidade musical  está muito bem definida, com clara preocupação nos detalhes de arranjos e passagens, erigidos de forma rastejante e emocional, com melodias vocais dramáticas e versáteis de Apollo Papathanasio (destaque da banda junto a Engelin) ao entoar os versos depressivos de cada faixa.

O poder de cativar de cada uma destas faixas, mesmo que fugindo das estruturas mais comuns do heavy metal moderno, é também impresso, principalmente, pela dinâmica épica com sabor familiar de era clássica, as passagens climáticas melancólicas e pelos refrãos  bem construídos, que supre a necessidade dos estratagemas melódicos que carregam consigo os perigos dos clichês, como em “Leave Me Alone” (com linhas de guitarra de cair o queixo), “Trust” (com tempo quase no limite de realizar as dobras melódicas e uma das melhores do disco!) e “Pale and Perfect”.

Também não deduza que não usam ganchos melódicos eficientes. Faixas como “Imagine” (com seu peso acachapante e vocais irresistíveis), “Turn It Over” (numa pegada gothic rock que lembra muito o The Cult), “Too Cold Too Touch” (melancólica e climática e com arranjos introspectivos) e “Silent Scream”, estão aqui pra nos lembrar que estes ganchos podem ser usados sem que se tornem os guias ao longo do álbum.

Uma estréia auspiciosa e viciante, que além de apresentar a banda, gera expectativa pelos próximos passos discográficos!

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