Voivod – “War And Pain” (1984) | Você Devia Ouvir Isto

 

“War And Pain”, clássico primeiro disco da banda VOIVOD, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

Voivod - War And Pain (1984, 2021, Hellion Records) Resenha Review

Definição em um poucas palavras: Pesado, sujo, rápido, conceitual, guerra nuclear.

Estilo do Artista: Thrash/Speed Metal

Comentário Geral:  O Voivod é uma banda canadense que sempre se mostrou desafiadora dentro do cenário metálico mundial.

Vinda do norte de Quebec, ela foi uma das primeiras bandas canadenses de thrash metal a atingir um público internacional.

Ao contrário da maioria das bandas da época, aquele quarteto não queria ser o mai rápido do mundo, mas elaborar um conceito, tanto estético e narrativo, quanto musical.

Até por isso, para os padrões da época, o Voivod soava estranho, catártico, primal e incômodo, como se o Slayer quisesse ser o King Crimson.

Em suma, o Voivod era uma banda para poucos ouvidos. Impossível de copiar, mas com uma musicalidade difícil de digerir.

Acredito esta talvez seja a única banda dentro naqueles primeiros anos do thrash/speed metal cuja obra orbita um personagem conceitual que sofre metamorfoses nas mais diversas esferas junto com os próprios músicos.

Usando de rock progressivo, thrash metal, punk, hardcore o Voivod trouxe as discussões filosóficas e científicas da ficção científica para si através do personagem que dá nome à banda.

Esse conceito nasce com Michel Langevin, que desde criança fazia desenhos inspirados pelo que absorvia na televisão, e concebeu o rascunho do personagem Voivod aos dez anos de idade.

O jovem Michel Langevin era o que hoje chamamos de nerd, pois absorvia livros como “O Senhor dos Anéis”, de J. R. R. Tolkien, e “Dracula”, de Bram Stocker, com a mesma vontade com que estudava tópicos profundos de biologia, mecânica e tecnologia.

Dessa fonte plural de influências surge da mente do jovem Michel Langevin o personagem Voivod, uma espécie de vampiro pós-nuclear que vivia em uma terra de constantes guerras chamada Morgoth.

Um esboço da máquina da nova era – Voivod/Korgull The Exterminator –  foi criado e algum tempo depois Michel começou a tocar bateria e a procurar músicos jovens que quisessem ajuda-lo a desenvolver seu conceito.

Após um tempo de estruturação de ideias e da formação, em novembro de 1982, o quarteto fundador do Voivod estava estabilizado com guitarrista Denis D’Amour (Piggy), o baixista Jean-Yves Thériault (Blacky), o vocalista Denis Bélanger (Snake), além do próprio Michel Langevin (Away).

O quarteto começou ensaiando alguns covers de bandas como Raven, Motorhead, Thrust, Sex Pistols, AC/DC e Tank e  nenhum material próprio era escrito.

Porém, a banda só foi batizada de Voivod após Langevin explicar para os demais músicos o conceito que tinham em mente.

O primeiro show do recém-batizado Voivod aconteceu em 25 de junho de 1983, que foi gravado precariamente e lançado como uma demo tape intitulada “Anachronism” , ainda naquele ano. O material era recheado de covers, e mais três músicas originais, entre elas a a clássica “Voïvod” em sua forma primitiva.

No ano seguinte o Voivod mostra evolução na segunda demo tape, “To the Death!”, com mais dezesseis faixas gravadas num ensaio de janeiro de 1984, sendo a grande maioria de faixas originais, donde podemos destacar “War & Pain”, “Suck Your Bone”, “Nuclear War” “Warriors of Ice”.

Logo essa fita chegaria nas mãos dos responsáveis pela Metal Blade que colocaria o Voivod na quinta edição da histórica coletânea “Metal Massacre”, com a faixa “Condemned to the Gallows”, ao lado de bandas como Omen, Attacker, Overkill, Fates Warning, Metal Church e Hellhammer.

Essa segunda demo tape seria importante, pois dela seriam desenvolvidas ideias presentes nos seus dois primeiros discos.

O primeiro álbum do Voivod foi lançado pela gravadora Metal Blade Records. Intitulado “War And Pain”, o disco foi gravado e mixado no Le Terroir Studio, em Quebec, entre os dias 19 e 27 de junho de 1984, numa mesa de oito canais usada originalmente para produzir jingles.

A capa já refletia bem esse conceito, com o personagem militar e distopicamente trajado, e nos shows o conceito bélico e desolador era levado aos palcos com um visual carregado inerente às bandas mais extremas daquela época.

Obviamente a incompreensão era esperada e eles experimentaram todo o tipo de acusação, desde clones de Motorhead e Venom até satanistas e nazistas/fascistas, simplesmente porque falavam de armas e guerras.

Nesse primeiro disco o Voivod amalgamava a crueza dos primórdios do thrash/speed metal enquanto desenhava influência que iam da NWOBHM ao crust/punk para emoldurar letras apocalíticas que gerava um conjunto difícil de assimilar na época.

O foco, além do conceito, era diferenciado, mas ainda guiado pela estética suja do peso e da velocidade, com destaque a músicas como “Voivod” (criando o clima apocalíptico), “Warriors of Ice” (mostrando a influência do Motorhead em um dos seus momentos mais insanos), “Suck Your Bone” “Black City” (com o baixo de Blacky mais proeminente), que mais a frente influenciaria esteticamente bandas como Mayhem e parte daquela geração escandinava do black metal.

O que mais chamava a atenção no caldo de velocidade e agressividade suja eram as guitarras. Elas tinham uma abordagem diferente do que era usual no thrash/speed metal, tanto em harmonias quanto no estilo.

Preste atenção ao que Piggy faz na abertura de “Suck Your Bone” ou no meio de “Iron Gang”. O cara já era diferenciado desde o início!

O Voivod no primeiro disco era uma banda tosca, mas já tinha muita identidade e as guitarras eram parte muito importante dela.

O mais importante, as músicas eram imprevisíveis e sempre vão na direção contrária do usual nos detalhes, mesmo que a estrutura seja básica, como demonstra a proto-progressiva “Live For Violence”.

Além das citadas ainda temos “War And Pain” (com sua dramaticidade inspirada no Black Sabbath), a pegada punk/speed metal de “Blower” e o clássico “Nuclear War” com suas típicas características oitentistas.

O primeiro show fora do Canadá aconteceu já na divulgação de “War And Pain”, no dia 04 de abril de 1985, ao lado do Venom e do Cro-Mags.

O próximo trabalho, “Rrröööaaarrr” (1986),  ainda é construído sobre as formas mais sujas, primitivas e barulhentas do thrash/speed metal, mas era claro que ali existia um diamante bruto a ser lapidado.

Porém, a evolução chegaria rápido e os tons estranhos de suas músicas foram transmutados numa forma vanguardista e progressiva do thrash metal já no próximos dois discos: “Killing Technology” (1987) e principalmente “Dimension Hatröss” (1988), seu melhor disco da carreira.

A partir daí o Voivod cunhou uma discografia interessante, amadurecendo e lapidando cada vez mais sua sonoridade, chegando a uma expressão muito particular do heavy metal.

De “Killing Technology” (1987) a “Nothingface” (1989) o Voivod entregou discos conceituais  que narravam as aventuras do personagem Voivod, uma criatura senciente, enquanto ele viajava pelo universo.

Mas aí já são assuntos para outros artigos.

Ano: 1984

Top 3:  “Voivod”, “War And Pain” “Nuclear War”,

Formação: Denis “Piggy” D’Amour (guitarra), o baixista Jean-Yves “Blacky” Thériault (baixo), Denis “Snake” Bélanger (vocais) e Michel “Away” Langevin (bateria).

Disco Pai: Venom – “Welcome to Hell” (1981)

Disco Irmão: Coroner – “R.I.P.” (1987)

Disco Filho: Vektor – “Black Future” (2009)

Curiosidades: No primeiro disco, “War And Pain”, era apresentada a gênese do personagem Voivod, um vampiro pós-nuclear que acorda clamando por uma guerra nuclear na terra de Morgoth. Ele seria feito de carne e osso, mas totalmente desfigurado, cruel e sem compaixão, um guerreiro do niilismo que junto a sua tribo almeja destruir tudo ao seu redor.

Pra quem gosta de: Ficção científica, terror, álbuns conceituais, heavy metal tosco e que pesa uma tonelada.

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3 comentários em “Voivod – “War And Pain” (1984) | Você Devia Ouvir Isto”

  1. Marcelo Lopes Vieira

    Olá Augusto,

    obrigado pelo comentário e pelo apoio ao meu trabalho.

    O Voivod realmente é uma banda única dentro do cenário do heavy metal, mesmo quando tentou soar mais simples lá pelo início dos anos 1990. Creio que eles foram a primeira banda do gênero criada em torno de um conceito artístico completo e bem definido. Tanto que estou preparando um artigo (que deve sair na próxima semana) apenas pra falar das muitas fases da banda e a evolução deste conceito ao longo dos anos.

    No mais, fico feliz em dizer que a minha cópia em vinil deste clássico está bem ali na prateleira ao lado, junto ao “Rrröööaaarrr”!

    Abraços!

  2. Ótima sugestão para se ouvir… eu, como “oitentista” convicto, com esse disco, viajo no tempo sem usar nenhuma máquina… aos desavisados que ouvirem hoje, acharão que é um Venom melhor tocado (aliás, infinitamente melhor tocado), mas não é… é Voivod, que nos idos de 84, quando tudo do metal era rotulado (speed, black, thrash, death e afins), era difícil definir qual a praia do Voivod… falem bem ou falem mal, amem ou odeiem, mas não se pode negar que Voivod sempre foi libertária quanto aos rótulos, banda vanguardista… pegue um fim de semana e ouça a discografia dos caras, desde War and Pain (1984) até The Wake (2018), e verá quão diferentão são os caras…. o timbre e os acordes da guitarra do saudoso Piggy (R.I.P.) eram de certa forma “intiráveis” e únicos, e foram bem “aprendidos” pelo Chewy, atual guitarrista. Parabéns pelo artigo Marcelo LP, tudo muito pertinente… Enfim, bora ouvir essa “vinil”… ops, como cinquentão, eu já tive essa “bolacha”… agora é ouvir no Spotify … espero encontrar…. rsrsrs

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