O Faroeste, ou western, foi definido como “o cinema americano por excelência”.
E, sem duvida, é o mais popular de todos os gêneros.
Um gênero com linguagem própria dentro da arte cinematográfica; Quase distinta da maioria de todos os filmes.
Durante várias décadas foi o ”western”, “far-west” ou o faroeste (como ficou conhecido entre nós brasileiros) que movimentou as rodas da indústria sejam em grandes produções, sejam naqueles pequenos filmes chamados “B ou até na imensa variedade de tele-séries do gênero que povoaram as TVs na década de 50/60.
No Brasil, não foi diferente.
De pai para filho, o faroeste e seus astros, sejam os cowboys mudos, os vaqueiros cantantes, os cavaleiros solitários ou os pistoleiros maltrapilhos e sem nome, desde que portassem um colt na cinta, conquistaram um publico imenso e que se manteve fiel ao gênero, por gerações e sem restrições, absorvendo as mudanças e as variações que foram impostas por vários motivos, aos filmes do gênero, bem como ao cinema em sua totalidade.
A HISTÓRIA QUE GEROU HISTÓRIAS
Conhecido mundo afora como “western”, essa designação – bem como “far-west”– nos remete ao oeste dos Estados Unidos, a região “selvagem” do país, visto que no leste estavam grandes cidades como Nova York, Filadélfia e Pittsburgh, cidades devidamente colonizadas e civilizadas.
Havia, então, uma grande necessidade de levar civilização a esses recantos inóspitos e foi criada uma campanha, que espalhou milhares cartazes com os dizeres “Go West Young man and grow with the country!” (“Vá para o Oeste, jovem, e cresça com seu país”).
Não importando se era norte ou sul, se tornou tudo o “oeste”. Eram os estados do Texas, Novo México, Califórnia, Mississípi, Nevada, Montana e outros que chamavam os colonos e aventureiros para essas novas conquistas.
E para este Oeste selvagem se dirigiram milhares de pessoas, primeiro em busca de novas terras e depois em busca de riquezas, o que culminou numa era muito violenta, devidamente aproveitada pelo cinema nos filmes de westerns.
Com suas variantes esses filmes buscaram inspiração no período da história americana que se situa entre os anos de 1750 a 1900; época que se inicia com aparecimento dos grandes pioneiros como David Crockett, Jim Bowie e Daniel Boone.
A partir daí vieram as guerras contra as grandes nações indígenas, a corrida do ouro, a guerra civil americana e o consequente surgimento das grandes quadrilhas lideradas por facínoras como Jesse e Frank James, Quantril, Butch e Sundance Kid; bandidos que foram mitificados, graças as suas várias caracterizações nos filmes.
Situados nesses anos está também a época dos grandes pistoleiros e dos grandes duelos, como o do O.K.Corral, retratado em dezenas de filmes e que envolveu lendas como Wyatt Earp, Doc Holliday e os Irmãos Dalton.
Ainda são dessa época, gente lendária como Buffalo Bill, Calamity Jane, Billy The Kid e Wild Bill Hickok; nomes que foram personagens de centenas de westerns ganhando as mais diversas interpretações e, acima de tudo, inspirando a criação de muitas outras histórias e personagens através dos anos e até os dias de hoje.
OS PRIMEIROS FILMES E OS FILMES B
É, também, o mais antigo de todos os gêneros cinematográficos, isto porque o primeiro de todos os filmes com um enredo, direção, edição e produção foi “O Grande Roubo do Trem”(The Great Train Robbery), realizado por Edwin S. Porter, em 1903, e era um western.
Com apenas 10 minutos, já tínhamos nele tudo que se popularizaria no gênero através dos anos seguintes: tiroteios, cavalos, brigas e, claro, o trem.
Com o sucesso deste filme, se delineou os parâmetros do gênero e centenas de outras produções apareceram, fazendo surgir diretores e atores que por muitos anos se consagrariam fazendo westerns.
Mas no cenário do cinema mudo poucos filmes realmente se destacariam entre tantos. Alguns deles: “Os Bandeirantes”(The Covered Wagon/1923), “O Cavalo de Ferro”(The Iron Horse/1924) e “Amor Triunfante”(North of 36/1924).
Os Westerns chamados B, eram produções realizadas com poucos recursos, destinadas a comporem os programas duplos, tão populares nos anos 30, quando a população atingida pela grande depressão tinha diminuído a frequência aos cinemas.
Os filmes não tinham mais que 60 minutos, mas cativaram o grande publico. Charles Starrett e seu Durango Kid, Gene Autry, Tex Ritter, Rex Allen, Johnny Mack Brown, Tom Keene e finalmente o cowboy cantor, Roy Rogers, se transformaram nos astros mais populares deste formato.
A ERA DE OURO DO WESTERN AMERICANO
John Ford já era um diretor consolidado na indústria, quando realizou “No tempo das deligencias”(Stagecoach/1939), mas foi esse seu filme que iniciou em Hollywood uma era em que foram feitos os melhores e mais elaborados westerns americanos até então.
“Stagecoach” ainda teve o mérito de consolidar e estigmatizar o ator ícone do gênero: John Wayne.
É impossível visualizarmos o western sem a presença de Wayne. Sua associação com Ford, rendeu alguns dos melhores westerns da história do cinema, inclusive aquele que é considerado pela critica como o melhor de todos, “Rastros de Ódio”(The Searchers/1956).
Num período de mais ou menos 20 anos, o western foi alçado a categoria de gênero classe A, graças ao trabalho de grandes roteiristas, grandes diretores e principalmente, grandes atores.
Sim, porque antes, quando era considerado um gênero menor, o western não conseguia atrair os bons atores e diretores da época, mas a partir de então nomes como Gregory Peck, Gary Cooper, Burt Lancaster, Barbara Stanwyck, James Stewart, Marlene Dietrich, Kirk Douglas, Clark Gable, Errol Flynn, Henry Fonda e muitos outros, se submeteram a batuta de diretores como Howard Hawkes, Michael Curtiz, Anthony Mann, Raoul Walsh, William Wellman e George Stevens, para se aventurarem através das planícies poeirentas do velho oeste, enfrentando índios, pistoleiros e toda a sorte de perigos, em cima de um cavalo, diligências sacolejantes ou recém construídas linhas de trem. Isso sem contar uma nova gama de grandes atores do gênero que apareceram nessa fase, conquistando o publico e que são lembrados até hoje.
Gente como Randolph Scoth, Joel McCrea, Sterling Hayden, George Montgomery, Rory Calhoun, Audie Murphy e vários outros.
Outro fator que pesou, e muito, nessa nova categoria do western foi a chegada da TV aos lares americanos. Para concorrer com esse novo entretenimento os produtores se viram obrigados a aumentar o nível de produção dos filmes.
Novas histórias com enredos mais maduros e também o uso da cor e novas tecnologias(3D, Cinemascope), tornaram os westerns mais atrativos para o publico e critica.
É claro que, a excelente resposta do publico, foi que possibilitou a estes anos se tornarem os mais prolíferos em qualidade e quantidade, também, na história do western americano.
Vale lembrar alguns dos filmes mais representativos deste período:
-“Aliança de Aço”(Union Pacific/1939) De Cecil B. De Mille Com: Barbara Stanwyck
-“Consciências mortas”(The Ox Bow Incident/1943) De William Wellman Com: Henry Fonda
-“Paixão de Fortes”(My Darling Clementine/1946) De John Ford Com: Henry Fonda
-“Duelo ao Sol”(Duel in the sun/1946) De King Vidor Com: Gregory Peck
-“Céu Amarelo”(Yellow Sky/1948) De William Wellman Com: Gregory Peck
-“Rio Vermelho”(Red River/1948) De Howard Hawks Com: John Wayne
-“Flechas de Fogo”(Broken Arrow/1950) De Delmer Daves Com: James Stewart
-“Winchester 73”(Winchester 73/1950) De Anthony Mann Com: James Stewart
-“Matar ou Morrer”(High Noon/1952) De Fred Zinemman Com: Gary Cooper
-“Os Brutos também amam”(Shane/1953) De George Stevens Com:Alan Ladd
-“O Ultimo Bravo”(Apache/1954) De Robert Aldrich Com Burt Lancaster
-“Johnny Guitar”(Johnny Guitar/1954) De Nicholas Ray Com Joan Crawford
-“Vera Cruz(Vera Cruz/1954) De Robert Aldrich Com: Gary Cooper
-“Sem lei e sem alma”(Gunfight at the O.K.Corral/1957) De John Sturges Com: Burt Lancaster
-“Da Terra Nascem os homens(The Big Country/1958) De William Wyler Com: Gregory Peck
-“Onde Começa o Inferno”(Rio Bravo/1959) De Howard Hawkes Com: John Wayne
-“Sete homens e um destino”(The Magnificent Seven/1960) De John Sturges Com: Yull Brynner
-“O Homem que matou o Facínora”(The who shoot Liberty Valance/1962) De John Ford Com: John Wayne
O WESTERN NA TV
No inicio dos anos 50, o western B havia entrado em franca decadência, isto porque com a volta do grande publico aos cinemas, não havia mais a necessidade de programas duplos como atrativo.
Observando que já haviam mais de cem estações de TV, transmitindo regularmente nos EUA, William Boyd (Hopalong Cassidy) atentou-se para o potencial desse novo veiculo, primeiro adaptando seus antigos filmes de 60 minutos para exibição na TV e depois produzindo e estrelando uma série exclusiva(Hopalong Cassidy, 1949-1951). Seguiram-se a ele Gene Autry (The Gene Autry Show, 1950-1956) e Roy Rogers (The Roy Rogers Show, 1951-1957).
Essa estética de filmes westerns B, até então presentes nessas séries de TV, começou a mudar com a chegada de duas novas séries. Primeiro com “Gunsmoke”, que em episódios de 30 minutos contava as aventuras do xerife Matt Dillon, na cidade Dodge City. Estrelada por James Arness – em papel destinado a John Wayne- o sucesso foi tamanho, que essa se tornou a série de western mais duradoura na história da TV.
Foram 20 temporadas, de 1955 a 1975. Depois foi a vez de “Bonanza”(1959-1973), que inovou com episódios de 60 minutos e pela cor , até então ausente em séries de western na TV, além de se propor a ter uma temática mais adulta em seus roteiros.
As aventuras da Familia Cartwright, defendendo seu rancho e suas terras foram imitadas a exaustão e criaram um novo estilo para as series de TV. Vale dizer que a TV americana exibiu mais de cem séries de westerns até meados dos anos 70.
No Brasil, todas essas séries começaram a ser exibidas em meados dos anos 60 e, claro, se tornaram um enorme sucesso de audiência. Séries como “Laramie”(idem,1959-1963), “O Homem de Virginia” (The Virginian,1962-1971), “Lancer” (Idem, 1968-1970), “Chaparral” (The High Chaparral, 1967-1971), “Maverick” (Idem, 1957-1962), “James West”(Idem, 1965-1969) e varias outras, eram exibidas em horário nobre da TV, enquanto no período da tarde podia-se assistir “Bat Masterson” (Idem, 1958-1961), “Zorro” (Idem, 1949-1957), “Paladino do oeste” (Have gun, Will travel, 1957-1963), “Daniel Boone” (Idem, 1964-1970), “O Homem do Rifle” (The Rifleman, 1958-1963) e muitas outras.
O EURO-WESTERN OU “SPAGUETTI WESTERN”
Na Europa, como em todo o mundo, sempre se fizeram westerns ou variações dele.
No entanto, foram os próprios americanos, que criaram a possibilidade deles serem produzidos em alta escala no continente europeu. Isto porque, no final dos anos 50, com o encarecimento dos custos de produção na América, eles levaram para a Europa toda uma logística de fazer filmes, principalmente, para a Espanha e para Itália, países com mão de obra de qualidade e barata, além de locações (a região de Almeria, Espanha) e estúdios (Cinecittá, em Roma), que atendiam o nível de produção do cinema americano.
Assim, espanhóis, italianos e alemães , passaram eles mesmo a fazerem westerns totalmente europeus, quase sempre importando astros americanos, que em sua maioria estavam desacreditados ou “esquecidos” em pequenas produções ou na TV.
Para a Europa foram Lex Barker, Rod Cameron, Lee Van Cleef, Stewart Granger, Guy Madison e Clint Eastwood….
E foi ele, Clint Eastwood, associado ao diretor Sergio Leone, que mudou o curso do gênero na Europa, quando realizaram “Por um punhado de dólares”(Per um pugno de Dollari/1964).
Isto porque, Leone subverteu alguns paradigmas estigmatizados no gênero.
Desde a maneira de filmar até o caráter dos personagens.
Os mocinhos agora tinham personalidades dúbias e indefinidas, não eram nem bandidos nem heróis, atiravam sem piedade e eram maltrapilhos cavalgando em cidades desérticas e decadentes.
Sempre acompanhados por uma trilha musical envolvente e ruidosa… O publico comprou a ideia e o pequeno western que custou apenas 200 mil dólares rendeu milhões.
Com a excelente resposta do público vieram centenas de outros westerns baseados no estilo Leone.
Outros atores americanos vieram para Europa (Burt Reynolds, Joseph Cotten, Broderick Crawford, Robert Ryan) e criaram-se astros europeus próprios do gênero (Giuliano Gemma, Franco Nero, Gian Maria Volonté, Tomas Millian, Fernando Sancho, Terence Hill).
Estima-se que nesse período foram feitos cerca de 600 westerns europeus.
É preciso dizer, que, “spaghetti western” foi um termo pejorativo criado por críticos que desprezavam esses filmes em sua totalidade; No Brasil ficaram conhecidos como “bang bang italianos”, o que também não corresponde totalmente a realidade, porque estes filmes tinham produções originarias em vários países da Europa (Espanha, França, Alemanha, Inglaterra) não apenas Itália.
O FIM DE UMA ÉPOCA
Não é certo falar em decadência do Western. Westerns nunca deixaram de ser produzidos e com um publico certo e fiel.
O que aconteceu foi que depois do fim do “boom” do western europeu, houve um esgotamento e um decréscimo acentuado na quantidade de produções do gênero, mas um olhar mais acurado pode confirmar que em toda a indústria cinematográfica isso aconteceu, muito devido ao encarecimento na produção em geral, mas também pela diversificação do publico.
Como falar em decadência se num período de poucos anos dois westerns foram agraciados com o “oscar” de melhor filme? “Dança com lobos” (Dance with wolves/1990) e “Os Imperdoavéis”(Unforgiven/1992).
E ano a ano, sempre tivemos produções relevantes no gênero, desde “Silverado”(Idem/1985), passando pelos ótimos “Jovem demais para morrer” (Young Guns II/1990), “Herança de um valente” (The man from snowy River/1982), até os atuais “Os Indomáveis” (3:10 to Yuma/2007), “Django Livre”(Django Unchained/2012) e “Os oito Odiados”(The Hateful Eight/2015), ambos de Quentin Tarantino.
Atualmente, temos vários westerns em cartaz nos cinemas, locadoras ou em TVs pagas; filmes de qualidade como “A Salvação” (The Salvation/2014), “Em busca de Justiça” (Jane got your gun/2016), “Rastro de maldade” (Bone Tomahawk/2015) e até “O Regresso” (The Ravenant/2015), que com suas variantes certamente tem as características do gênero.
Isso sem contar, que vem aí a refilmagem em alta rotação de “Sete homens e um destino”(The Magnificent Seven/1960) estrelada por Denzel Washington e Chris Pratt.
Portanto o western nunca morreu!
Está vivo e cativando novos públicos…
Por Paulo Lopes
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