Sortilège - "Apocalypso" | Novo álbum de clássica banda francesa de Heavy Metal

“Apocalypso” é o quinto álbum do Sortilège, clássica banda francesa de heavy metal.

“Apocalypso”, o quinto passo discográfico da banda francesa de heavy metal Sortilège, é analisado nesta resenha completa que você lê abaixo. Este disco foi lançado no Brasil pelo selo Hellion Records numa belíssima versão em slipcase.

Uma curiosidade que sempre é dita quando se fala do Sortilège é que ela era uma das bandas favoritas do lendário Chuck Schuldiner, líder da banda Death e um dos mentores intelectuais do death metal. Na biografia “Death By Metal”, de Rino Gissi, isso fica claro.

Foramada em 1981, o Sortilège chamava a atenção pela forma com que escrevia seu nome, mantendo a escrita correta em sua terra natal, a França. À começar pelo belíssimo álbum de estréia, intitulado “Métamorphose” (1983), que mostrou como fazer heavy metal soar bem sem ser cantado em inglês. Este material hoje é tido como um dos grandes discos cult do heavy metal.

Porém, esta característica de cantar em francês não era exclusividade do Sortilège, mas uma norma em quase todas as bandas do heavy metal francês dos anos 1980. Além disso, os dois álbuns do Sortilège, “Métamorphose” (1983) e “Larmes de héros” (1986), lançados pela formação clássica [Daniel Lapp (baixo), Bob Snake (bateria), Stéphane Dumont (guitarra), Didier Dem (guitarra) e Christian Augustin (vocais)], tiveram versões em inglês.

Desde 1986 a banda francesa entrou em um hiato interrompido ciclotimicamente até 2020. Porém, desde então existem duas encarnações do Sortilège. Uma versão da banda apresenta Christian “Zouille” Augustin e costumava apresentar Daniel “Lapin” Lapp. A outra versão da banda conta com Didier “Dem” Demajean , Stéphane “L’Anguille” Dumont e Bob Snake.

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“Apocalypso” é o segundo lançamento de estúdio do Sortilège formado por Christian “Zouille” Augustin (vocais) e completado por Bruno Ramos (guitarra), Olivier Spitzer (guitarra), Sébastien “Shag” Bonnet (baixo) e Clément Rouxel (bateria). O disco inclui dez músicas compostas sobre o DNA musical do velho Sortilège, impresso por uma timbragem moderna, mas sem perder a organicidade.

Ou seja, a nova formação desta reencarnação do Sortilège tenta recriar aquela musicalidade particular repleta de riffs instigantes e solos virtuosos, com mudanças de andamentos imprevisíveis que levam os classicismos do heavy metal a níveis épicos de peso crú e desdobramentos melódicos quase renascentistas, tudo isso ambientado de forma etérea e fantasmagórica.

Pode parecer uma mistura inusitada para quem nunca ouviu o som da banda francesa, mas é o mais sucinto que dá pra descrever o que eles faziam nos dois primeiros discos. As composições ainda são escritas em francês, o que dá um clima bem interessante para toda essa musicalidade do Sortilège que, pela voz de Christian “Zouille” Augustin ainda intacta cria um laço com o passado.

E o que poderia soar datado naquela proposta é atualizado em “Apocalypso”, seja pelos caminhos buscados em cada composição, seja pelo trabalho em estúdio. Até por isso, e pelo lapso temporal, as comparações com bandas da NWOBHM parecem menos pertinentes, mesmo que, no geral, tudo por aqui seja indicado para fãs de bandas como Angel Witch, Judas Priest e Iron Maiden.

Isso fica claro em destaques como “Poseidon”, “Walkyrie” e “Vampire”, três faixas diretas e pesadas, desfilando riffs diretos, palhetadas abafadas, melodias certeiras e refrãos intensos. Porém, a melhor faixa de “Apocalypso” é justamente “Derrière les Portes de Babylone” (com toques orientais em suas melodias de guitarra) uma composição que se alicerça mais na exploração melódica das harmonias dobradas de guitarra e no peso classudo do que na ousadia técnica e na criatividade agressiva.

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De certa forma, “Apocalypso” é um disco com alguns pontos inesperados. Se por um lado “Le Scare du Sorcier” trará para a musicalidade clássica do Sortilège algo próximo ao power metal melódico desdobrado do Helloween, por outro lado, “La Parade des Centaures” trará aquele timbre de guitarra grave usado pelas bandas alternativas desenvolvendo um riff sincopado que assusta de primeira, mas que depois é controlado.

Não seria exagero dizer que “Apocalypso” traz mais peso para a antiga proposta musical do Sortilège, colocando uma banda clássica, com um identidade musical marcante, no contexto moderno do heavy metal.

E mesmo que estas novas músicas não tragam o apelo daquelas gravadas nos dois primeiros discos nos anos 1980, este novo trabalho honra o legado da banda francesa e irá agradar qualquer fã de heavy metal que se preze.