Silverchair – “Diorama” (2002) | Você Devia Ouvir Isto

 

“Diorama”, quarto disco da banda australiana SILVERCHAIR, liderada por Daniel Johns, é nossa indicação de hoje na seção VOCÊ DEVIA OUVIR ISTOcuja proposta você confere nesse link.

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Definição em um poucas palavras: Alternativo, baladas, classudo ao quadrado, guitarra, retrô, sentimental, urbano.

Estilo do Artista: Rock alternativo/ post-grunge.

Comentário Geral: A virada de milênio para o Silverchair trazia bons auspícios. Vinham de um álbum de extremo sucesso mundial, o aclamado “Neon Ballroom” (1999) que marcou uma geração e distanciou os australianos da massa grunge dos dois bons discos anteriores, “Frogstomp” (1995) e “Freak Show” (1997). Como se isso não bastasse, tocaram para duzentas mil pessoas no Rock In Rio III, em 21 de janeiro de 2001, e estavam assinando com uma nova gravadora, saindo da Sony e indo para a tradicional Atlantic Records.

Entretanto, todos estes bons acontecimentos foram ofuscados pelo diagnóstico de uma rara artrite que acometia o líder Daniel Johns. Esta doença limitava seus movimentos  e o impedia de tocar sua guitarra, culminando no cancelando de uma turnê européia. Para alguns, a adversidade é o momento certo para o despertar da criatividade, não sendo diferente para Johns que compôs seu mais belo álbum da carreira em meio a um tratamento alternativo da sua doença.

“Diorama”, o quarto disco de estúdio do trio australiano, é a redenção de Daniel Johns e o atestado de amadurecimento daquele garoto australiano travestido de Kurt Cobain que aos dezesseis anos já impressionava o mundo com um talento latente. A sensibilidade que o Silverchair imprime nestas onze faixas quase parece palpável e muito disso se deve aos arranjos orquestrados, criando arabescos sonoros complexos e multicoloridos que impactam o ouvinte de forma positiva.

Digamos que as canções aqui apresentadas nos levam para um mundo musical a ser explorado em cada nova audição, onde podemos notar notas diferentes em cada momento, mas nunca conseguir discernir o todo instantaneamente, pois é como se as impressões se alterassem de acordo com o espirito do ouvinte.

É notório que Johns extrapolou suas emoções, pensamentos, dores e alma imprimindo-os em acordes como forma de fazê-los fluir estes elementos abstratos em cada faixa. Elementos musicais diversos e diferentes aos álbuns anteriores já se fazem presentes em “Across The Night”, a faixa de abertura, que seria uma espécie de “Emotion Sickness” (melhor música do álbum anterior) após a evolução natural e se tornou uma peça mais cerebral e belamente construída do ponto de vista musical.

Para os órfãos da sonoridade de outrora, carregada de guitarras, “The Greatest View” e “One Way Mule” nos apresentam riffs intercalados a melodias carregadas de poesia e sensibilidade. Segundo o próprio guitarrista da banda, eles “queriam um álbum com mais cor” e durante os três anos de produção de “Diorama”, Daniel aprendeu a trabalhar com piano, orquestra e contou com a colaboração da lenda Van Dyke Parks nos arranjos orquestrados.

A canção  “World Upon Your Shoulders” é uma obra de arte sem par na discografia do Silverchair que pode ser melhor degustada no irrepreensível DVD “Live From Faraway Stables”, em toda a sua densidade abrasiva e acariciante. Os arranjos transitam do antigo ao novo Silverchair com a naturalidade que acomete as preciosidades musicais.

A certeza de ter vivenciado um dos melhores passeios por uma montanha russa de emoções, que tem uma de suas melhores curvas em “Tuna in the Brine” (canção de beleza e riqueza de detalhes ímpar), é o que faz deste álbum o melhor da carreira do trio australiano. É impossível terminar este texto sem citar “Luv Your Life” e sua singelamente dilacerante harmonização de sons, sem falar na interpretação irrepreensível de Johns.

Em geral, oi termo diorama é empregado em apresentações artísticas que expõem momentos verídicos em cores muito realistas, com  a finalidade de instrução ou entretenimento. Posso afirmar que em poucos momentos da música o nome de um álbum foi tão representativo de suas músicas como neste caso, e a canção que fecha o álbum, “After All These Years” nos traz de volta de um mundo paralelo pintado por emoções e pensamentos diversos.

Um álbum obrigatório, no mínimo, principalmente pois este é o último grande trabalho musical de Daniel Johns, que após lançar o fraquíssimo “Young Modern” (2007) entrou numa onda decadente de música eletrônica em discos estranhos e de gosto duvidoso como “Talk” (2015) e “FutureNever” (2022).

Ano: 2002

Top 3:  “Across The Night”, “The Greatest View”, “World Upon Your Shoulders”.

Formação: Daniel Johns (Vocal, guitarra e piano), Ben Gillies (bateria e percussão) e Chris Joannou (baixo).

Disco Pai: The Beach Boys – “Smiley Smile” (1967).

Disco Irmão: Flaming Lips – “The Soft Bulletin” (1999).

Disco Filho: Bento – “Diamond Days” (2012).

Curiosidades: Os arranjos de orquestra de duas canções deste álbum foram feitos por Van Dyke Parks, que colaborara com os Beach Boys no lendário álbum “Smile”. O título do álbum, “Diorama”, apesar de ter um significado específico, aqui se refere a um mundo dentro de um mundo.

Pra quem gosta de: Mundos paralelos, evolução, molduras, representações artística da vida, orquestrações ma non troppo e cappuccino.

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