Para Ronnie Von, a psicodelia era uma forma de forjar o surrealismo por pinceladas musicais. “Eu gostava muito de psicodelia”, confessa ele no encarte da reedição em CD de seu disco de 1968.
O surrealismo é um movimento artístico que defende a presença do irracional e do inconsciente na arte. Criada usando o sonho, a linguagem irracional e instintiva.
Grandes surrealistas nos vários domínios artísticos foram Renè Magritte, André Breton, Louis Aragon, Antonin Artaud, Joan Miró, Salvador Dali e Luis Brunñel.
Apesar de referenciado como tal, Ronnie Von sempre alegou que nunca fez parte da Jovem Guarda, e analisando friamente, ele sempre esteve mais no time dos tropicalistas do que jogando pelas cores da equipe capitaneada por Roberto e Erasmo Carlos.
Até por isso, não espanta que os álbuns que completariam sua trilogia psicodélica sejam alguns dos momentos musicais mais provocativos do fim dos ano sessenta.
Filho de um diplomata que trabalhava em Londres, Ronnie estava atualizado com o que acontecia no mundo musical daquela década, muito em decorrência dos discos que seu pai trazia em sua bagagem.
A influência destes álbuns, que iam desde os clássicos dos Beatles, até obscuridades psicodélicas como BlossomToes, se mostrou efervescente em sua música, que via, em apenas dois anos (1966-67), o brotar de quatro discos de sucesso, mas que em seu quarto ato, “Ronnie Von nº 3″ (1967), mostrava o desabrochar de um artista com uma visão à frente de seu tempo.
Apesar das participações de Caetano Veloso e d’Os Mutantes, o cantor não mostra muito apreço por esta peça ímpar de sua discografia, onde tivemos um ensaio para a vindoura trilogia psicodélica.
Em 1968, Ronnie Von já declarava em entrevistas que se permitiria certas liberdades musicais no seu mais recente disco: “A questão principal é renovar. O que não sei é se estou no caminho certo”. E completa dizendo: “Vivo de experiências até encontrar minha verdadeira imagem”.
A renovação começou no visual, que fugia da figura do Pequeno Príncipe (apelido dado a ele por Hebe Camargo) das tardes de sábado da TV Record, quando comandava “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”.
Logo em seguida, renovaria-se a mensagem, o estilo e até mesmo a personalidade musical de Ronnie Von. E num tempo recorde. Lembremos que em abril de 1967, ele lançava o compacto de “A Praça“, e logo inauguraria algo inédito no Brasil: a fila nas lojas de discos.
Seu sucesso anterior, “Meu Bem”, uma versão de “Girl”, dos Beatles, já tinha se mantido por semanas e semanas nas paradas de sucesso. Porém, mesmo com todo esse estouro comercial e apelo do público, ele queria liberdade artística. E a julgar pelo seu gosto refinado e vanguardista era de se esperar algo diferente.
Um declarado ouvinte de música clássica, suas influências abarcam este estilo, além do jazz, do qual conhece como poucos e mantém um apreço especial pelas grandes cantoras.
Foi com os Beatles que Ronnie Von se abriu para o rock: “Confesso que eles mudaram minha vida. Eu só gostava de música clássica e jazz”.
Voltando a 1967, quando ele lança seu segundo álbum, que sairia em maio daquele ano, um mês após o compacto de “A Praça”, e venderia cinco milhões de cópias, vemos aparecer um personagem importante para a vindoura trilogia psicodélica: Arnaldo Saccomani.
Arnaldo Saccomani emplacou três composições naquele disco que trazia “A Praça” como carro-chefe, com destaque a “Escuta meu amor”.
E quem o vê hoje, em sua figura decrépita em júris de programas de calouros, proclamando a música popular mais rasteira de nossos dias, nem imagina que em outras épocas ele foi vanguardista e co-autor de mais de dez faixas da cultuada trilogia psicodélica de Ronnie Von.
Saccomani foi peça-chave, assim como Damiano Cozzella, no direcionamento da música de Ronnie para o oposto do que faziam os ídolos da Jovem Guarda.
Na verdade até os nomes importantes da Jovem Guarda viam o esgotamento do movimento. Naquele último ano da década de 1960, era nítido que Roberto Carlos e Erasmo Carlos também buscavam influências mais maduras para suas músicas.
Reforçando ainda mais sua parcela na vanguarda pop nacional, Ronnie Von pode ser considerado o precursor do videoclipe no Brasil, ao apresentar no especial da Record, em 1968, um vídeo para sua versão de “Help”, dos Beatles.
RONNIE VON: “Ronnie Von” (1968)
Em “Ronnie Von n° 3” (1967) podemos dizer que Ronnie já se aproximava do tropicalismo, mas os rumos de sua música seriam outros.
A redenção artística viria somente em 1968, como um filho de gravadora que se rebelava contra a tutela do mercado fonográfico.
Havia como motivador o espírito renovador e rebelde da tropicalia, cujo disco emblemático seria lançado também em 1968. Ronnie Von estava às voltas deste movimento, tanto que foi ele quem batizou e apadrinhou os Mutantes em seu programa de TV na Record.
O impulso que faltava para Ronnie Von veio da gravadora que trocava a direção e afrouxava as rédeas de seus artistas, como ele mesmo conta:
“Estava mudando o presidente na CBD, entrando o André Midani. Eu tinha que fazer um disco. Chamei um amigo que é o pai da Música Eletrônica underground brasileira, o maestro Damiano Cozzella – mestre até do próprio Rogério Duprat, um gênio. De fato tínhamos que mostrar a que viemos. Cozzella era um apaixonado por música do século XVIII como eu. Fizemos um disco pra nós!
“Ronnie Von”, lançado em 1968, fazia tudo o que ele sempre quis em termos musicais: guitarras fuzzeadas, experimentação complexa, delays e arranjos de cordas, ou seja, rock como se fazia lá fora, carregado de efeitos, versos surrealistas, vinhetas e diálogos.
Resultado? Musical, exuberante! Comercialmente, um fracasso.
Infelizmente, seu público que consumia avidamente seus álbuns e compactos anteriores não estavam preparados para a viagem psicodélica que ele propunha. Parece que ao ouvido das massas aquele experimentalismo cabia ao Mutantes, mas não a Ronnie Von.
Era como se o trovador romântico de “A Praça” e “Meu Bem”, tivesse se tornado o estranho príncipe vanguardista do rock que brada “Chega de Tudo” e clama por “Anarquia”, enquanto decreta que a “moda esta fora de moda”.
O resultado dessa metamorfose artística entre os críticos é contada pelo próprio Ronnie Von:
“Foi o LP mais execrado , excluído e esculhambado pelos radialistas e críticos. Exceções feitas ao ‘Estado de São Paulo’, que deu página dupla central no Caderno 2 dizendo ‘Ronnie, esse desconhecido’, e o Caderno B do ‘Jornal do Brasil’, ‘A que veio Ronnie Von?’. Esses órgãos entenderam!”
O disco, de fato, tem seus problemas pontuais. “Lamento, cantei muito mal!”, confessa Ronnie.
Assim como existe também uma clara falta de direcionamento inerente à exploração e experimentação aguda. Em suma, faltou a mão de um produtor com know how da abordagem proposta que polisse as arestas deixadas por alguns exageros pontuais.
Existe até um jingle com orquestra em homenagem ao Bar Íris, “um botequim de oitava categoria no meio das butiques elegantes” na Rua Augusta, antes de começar “Silvia: 20 horas, domingo”.
Por outro lado, é inegável que existem loucuras geniais. Em “Mil Novecentos e Além”, por exemplo, ouvimos um martelo que bate nas cordas e na madeira de um piano que tinha um microfone dentro.
E é neste disco onde estão patrimônios da psicodelia brasileira, reverenciados internacionalmente, como “Silvia: 20 horas, domingo”, “Esperança de Cantar” (com um “q” de Procol Harum), “Espelhos Quebrados” (o mais próximo que o Brasil chegou de compor algo como “Eleanor Rigby”), “Contudo, Todavia”, e “Meu Novo Cantar” (um baião psicodélico).
Sobre “Espelhos Quebrados” Ronnie mostra um carinho mais que especial:
“E tem a grande paixão da minha vida e do Cozzella também, que é ‘Espelhos Quebrados’. Representa o que queria fazer inicialmente. Ela é absolutamente surrealista. A ideia original da letra é do Arnaldo Saccomani que contribuiu com alguns versos. Quebramos alguns vidros e espelhos no estúdio, pancadas com bolas, pra fazer barulho bonito.”
Refletindo hoje, o artista percebe como estava à frente de seu tempo nessa proposta musical:
“Foi ali o mais próximo da minha luta comigo mesmo e que não deu certo naquele momento, talvez por que estivesse muito à frente da época, tenho consciência disso hoje.”
E se observarmos que em 1973, cinco anos depois, a banda Gentle Giant ampliaria esse conceito de “vidros quebrados em estúdio”, no clássico progressivo “The Runaway”, que abre o disco “In a Glass House”, temos a certeza de que Ronnie é extremamente lúcido em sua reflexão.
Assim como as vinhetas com anúncios fictícios eram novidade, presente apenas no último disco (à época) do The Who, e as sonoridades eletrônico/espaciais que seriam popularizadas por aqui pelo Pink Floyd.
Essa estética mais ousada, exploratória e anárquica do rock só seria melhor digerida por volta de 1972, quando Os Mutantes já a tinha empurrado goela abaixo dos brasileiros, a tropicália já tinha se consolidado, e o progressivo começava a ganhar espaço com o advento de bandas como Módulo 1000, Som Nosso de Cada Dia, O Terço, e afins.
Não á toa Ronnie Von afirma que esse talvez seja o disco que tenha valido sua carreira.
RONNIE VON: “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais” (1969)
Em 1969, após iniciar seu projeto musical audacioso com o auto-intitulado disco do ano anterior, Ronnie Von surpreende ao manter a vanguardista proposta psicodélica.
Na edição 224 da revista Capricho daquele mesmo ano, Ronnie Von, até então com cinco anos de carreira, declarava sua independência quanto ao comando de sua carreira. Ele garantia que, à partir daquele momento, só cantaria e diria coisas que tocassem sua emoção.
Isso já era bradado na música “Meu Novo Cantar”, abertura do disco de 1968, com tom quase confessional.
Nas suas próprias palavras,
“Começo o disco falando de mim, porque achava que tudo que fiz até então não tinha nenhuma qualidade e, em função desse desabafo, a canção ‘Meu Novo Cantar’ é a primeira“.
A matéria na revista Capricho de 1969 ainda reforçava que Ronnie buscava um novo som, um novo estilo e uma nova personalidade musical.
“Queria sepultar o que tinha feito anteriormente. Era radicalizar pra depois destruir” diria Ronnie anos mais tarde sobre aquele primeiro álbum psicodélico.
Com esse espírito e marcado pelas críticas negativas, veríamos surgir o próximo passo discográfico de sua carreira.
Se pelo lado musical a ousadia rebelde do disco de 1968 seria amainada e o experimentalismo agora daria um pouco mais de espaço à melodia, o título do álbum lançado em outubro de 1969 mostrava que a psicodelia não fora abandonada, pelo contrário, estava aqui vibrante e caleidoscópica.
“A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais” era um título ousado, numa época em que poucos artistas intitulavam seus álbuns. E nele, temos o aspecto lúdico dos contos-de-fadas e o onirismo inerente à psicodelia entrelaçados pelo senso épico da cultura pop.
Mas agora, também existia uma volta à proposta romântica em sua interpretação, como na linda “Onde Foi” ou na versão para “My Cherie Amour” de Stevie Wonder.
A faixa de abertura ainda tinha um título mais ousado que o álbum: “De Como Meu Herói Flash Gordon Irá Levar-me de Volta a Alfa Centauro, Meu Verdadeiro Lar” é um rock n’ roll vibrante e irresistível, composto em parceria com Saccomani.
Mais anticomercial, impossível!
Ronnie Von ainda explora composições de Juca Chaves, Benito di Paula e Tom Jobim (“Dindi”), mas os pontos altos deste álbum de 1969 estão na belíssima “Atlântida” (originalmente composta pelo britânico Donovan, que na versão de Ronnie Von ganhou uma letra inspiradíssima – quase uma tradução direta – e de sub-texto quase ocultista) e em “Rose Ann” (uma canção trilíngue, que nos remete aos sucessos das chansons psicodélicas francesas de Serge Gainsbourg e Christophe).
Infelizmente, foi mais um fracasso comercial. Anos depois, tudo mudaria. Em 2001, “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais” apareceu listado no guia de colecionadores de discos de Hans Pokora, intitulado “3001 Record Collector Dreams”, dando ainda mais respaldo a todo este culto que se originou em torno desta parcela preciosa de discografia de Ronnie Von.
RONNIE VON: “A Máquina Voadora” (1970)
A aviação sempre teve um papel importante na vida de Ronnie Von, dividindo seu coração com a música. Já aos 15 anos ele foi aprovado junto a 239 outros candidatos na Escola Preparatória de Cadetes do Ar de Barbacena, sendo que aos dezessete anos já alçou sozinho seu primeiro voo num monomotor de treinamento Folker T-21.
Aos 26 anos, em 1970, Ronnie Von já era um ídolo consolidado da música nacional, que experimentava nadar contra a corrente do mercado fonográfico, como um rebelde da própria revolução pop que promovera anos antes, com “Meu Bem” e “A Praça”.
Na contra-capa de seu disco daquele mesmo ano ele reforçava essa rebelião lisergico-musical de seus dois últimos discos e aparecia como um piloto psicodélico de uma máquina alada quase steampunk. O nome deste álbum era “A Máquina Voadora”.
Com este disco temos formada a influente trilogia psicodélica de Ronnie Von, que, segundo ele, foi gravada sem o uso de nenhuma substância que alteraria a sua consciência musical, como era habitual por músicos que queriam extrapolar as fronteiras do conservadorismo artístico naqueles dias.
E o que mais encanta nesse disco é que as músicas parecem girar em torno de um conceito surrealista sobre seres e máquinas que voam (“no paraíso os anjos dançam e andam de motocicleta” ele diz em certo momento), o que resulta em preciosidades como “Viva o Chopp Escuro” (“uma elegia à vida”, como o próprio Ronnie a descreve), “A Máquina Voadora”, “Verão nos Chama” (com naipe de metais poderosos e groove soul/funk), “Continentes e Civilizações”, “Cidade” (com algo que me lembra “Happy Together”, do The Turtles) e “Baby de Tal” (com guitarra de timbre jazzístico).
Segundo Ronnie Von, a música “A Máquina Voadora” (com seus metais graves e pesados simulando um motor) é “surrealismo real, se couber o neologismo aí.” Isso porque a canção é dedicada a um avião bimotor que ele estava negociando na época. Segundo ele, gastou apenas quarenta minutos após um voo teste neste avião para compor a música.
“A Máquina Voadora” é um disco que conseguiu equilibrar aspectos mais comerciais com a abordagem psicodélica, até por isso é facilmente o melhor dos três.
Mas o público já não queria entender a música de Ronnie Von como ele a oferecia, e o direcionamento seria alterado novamente num futuro próximo, e ele faria as pazes com o sucesso novamente em seus disco de 1972, impulsionado pelo hit “Cavaleiro de Aruanda”.
Porém, mesmo nos discos posteriores, havia respingos do que ele fez aqui, nesta trilogia, como um alquimista que escreve em códigos acessíveis para olhos não iniciados.
Voltando a “A Máquina Voadora”, esse disco marca a diminuição de espaço para as composições de Saccomani, as interpretações de compositores consagrados (destaque a “Enseada” de Renato Teixeira) e versões de sucessos internacionais, abrindo lacunas que seriam preenchidas com composições próprias ao lado de um novo parceiro: San Martin. Juntos, eles assinam sete das doze faixas aqui presentes.
Ronnie Von e a Psicodelia Brasileira.
Ao contrário do que possa parecer, Ronnie Von não estava sozinho no início do movimento psicodélico nacional.
Na verdade, a psicodelia brasileira permeou diversas facetas da música nacional, como a MPB, o tropicalismo, o rock, a música regional e o pop.
Desta forma, ao lado de Ronnie Von, no fim dos anos 1960, estavam Fábio (com seu histórico compacto “Lindo Sonho Delirante/ O Reloginho”), Mutantes, Caetano Veloso , Gal Costa, Gilberto Gil, The Galaxies, e Os Brazões, para citar apenas alguns dentre os pioneiros e contemporâneos da sua trilogia psicodélica.
Porém, nenhum deles tinha, naquele final de década, o peso e o tamanho de Ronnie Von no mercado fonográfico.
Para certificar isso, basta lembrar que em 1966, já dono do sucesso acachapante com “Meu Bem”, ele comandava “O Pequeno Mundo de Ronnie Von”, programa da TV Record que rivalizava em popularidade com o programa “Jovem Guarda”, de Roberto Carlos e Erasmo Carlos.
O diferencial do programa de Ronnie Von estava na pluralidade de artistas como Eduardo Araújo, Os Vips, Martinha, Jerry Adriani, os tropicalistas e Os Mutantes.
No ano seguinte, viria o sucesso de “A Praça”. E, em 1968, Ronnie Von era um nome consagrado na cultura pop do Brasil.
Por fim…
Fica claro nestes três álbuns (“Ronnie Von” [1968], “A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre contra o Império de Nuncamais” [1969] e “A Máquina Voadora” [1970]), que Ronnie Von queria transcender o status quo musical e investigar contornos mais surrealistas para suas músicas.
Como um pintura tríptica, essa trilogia psicodélica é uma obra-prima que se mostrou anos à frente de seu tempo, pois, quando começou a ser redescoberta pelas novas gerações, após mais de trinta anos de obscuridade, criou-se quase um culto em torno desses discos.
Enfim vemos Ronnie Von ser reverenciado pela sua coragem e audácia musical, e podemos bater palmas para um artista cujas ideias estavam anos-luz à frente de seu tempo.
Os motivos que fizeram esses discos serem negligenciados à época de seus lançamentos são simples de se entender.
A massificação cultural proposta pelo AI-5 à partir de 1968, demonizava tudo o que era diferente, vide o banimento dos tropicalistas e a perseguição aos chamados compositores malditos.
O que não tinha apelo comercial para hit, e passava pela censura, era ignorado por programas de rádio e TV, impedindo seu acesso às paradas de sucesso. Por consequência, não tinha exposição para o público.
Certamente uma canção como “Anarquia”, do álbum de 1968, não passaria pela censura se fosse lançada nos discos seguintes. Não com versos como:
“Prepare tudo o que é seu, veja se nada você esqueceu
Pois amanhã vamos pra rua fazer…
Fazer uma tremenda anarquia, pintar as ruas de alegria
Porque quem manda hoje somos nós, mais ninguém
E não ligamos pra quem vai nem quem vem a trabalhar
Há quem nos queira atrapalhar”
Nesse panorama, à sua época, esses discos formavam uma trinca pouco compreendida por público e crítica, que só seria redescoberta nos anos 1990.
Cabe ressaltar que esse fracasso comercial não jogou Ronnie Von no ostracismo. Nas décadas seguintes ele teve hits acachapantes como “Cavaleiro de Aruanda” e “Tranquei a Vida” (que lhe deu reconhecimento internacional pela versão em espanhol, “Deje mi vida” (1977), antes de sua trilogia psicodélica ser redescoberta lá fora).
Ronnie superou sérios problemas pessoais (como uma doença raríssima, a Síndrome de Guillain-Barré, que o deixou de cama por um ano), e atualmente mantém uma brilhante carreira comandando um dos melhores programas da televisão brasileira.
Porém, é sempre preciso enaltecer a força de sua discografia, que em oposição ao cabresto imposto por mercado e gravadora, contra os ouvidos adestrados do público e, também, ao quase sadismo dos críticos, mantém Ronnie Von vivo no imaginário popular das gerações que se seguiram, sendo hoje reverenciado como um pioneiro, um vanguardista do rock nacional.
E, de fato, o três discos da fase psicodélica de Ronnie Von (e ainda estendo a um quarto item, “Ronnie Von nº3”) são essenciais não só para colecionadores, mas para apreciadores de boa música.
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”Máquina Voadora”,a música,conheci faz pouco tempo,linda de viver! Quando criança gostava muito da ”Banda da Ilusão” entre outras.